31 de janeiro de 2012


B R A S Í L I A
REVISITADA
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Por Emanuel Medeiros Vieira

PARA CLARICE E LUCAS, MEUS FILHOS- QUE AQUI NASCERAM

Não, não quero falar da cidade estigmatizada, dos poderes – podres ou não.
Não a urbe oficial, dos altos tecnocratas, dos políticos que só conhecem o aeroporto, carros oficiais, palácios, ministérios, o Congresso, restaurantes chiques, e boates de “moças de luxo”- caras, da mais antiga profissão..
A cidade que amo é outra,
Das chuvas de janeiro (que agora pararam) de tantas mangas, dos verdes belos, das goiabas crescendo, da Clarice, do Lucas, dos piqueniques improvisados, do Parque da Cidade, e de tanta gente honrada que aqui labuta e corre atrás dos seus sonhos.
Mudar essa imagem eu sei que não vou.
Mas creio que o meu papel é o de “evangelizador laico”.
Se mudar uma só visão, um só olhar estereotipado, ficaria compensado.

EIS-ME DE VOLTA, PROVISORIAMENTE, DA PRIMEIRA PARA A ÚLTIMA CAPITAL.
Não, os poderes já não me interessam.
CADA MOMENTO É UM LUGAR ONDE NUNCA ESTIVEMOS.
E tento redescobrir cada momento.
O que é o tempo,?, me pergunto sempre – desde que iniciei no ofício de tecer palavras.
Virgílio captou magistralmente: “Sede fugit interea , fugit irreparabile tempus” (“mas ele foge: irreparavelmente o tempo).
E Clarice Lispector pergunta: “Oh Deus que faço desta/felicidade ao meu redor/que é eterna, eterna,eterna/e que passará daqui a um instante/porque só nos ensina/a ser mortal?”
Mas o que queria dizer?
Que há uma cidade escondida, além do olhar apressado.
Há uma cidade mais funda – das linhas retas.
Algo que ficará, além das celebridades vãs, da vida de gente que se atribui muita importância – ministros e deputados que logo serão esquecidos.
Quem se lembra de Médici? Quem se esquecerá do Dr. Oscar e de Lúcio Costa?
É por essa razão que dedico o curto texto ao Lucas e a Clarice.
Não são “candangos”, pioneiros.
Ele vai fazer 9 anos, ela 26.
Mas há algo de novo nos seus olhares.
E enquanto escuto um pássaro cantando, o sol batendo na mesa em que escrevo, não consigo evitar o lugar-comum: vale a vida. Algo do nosso trabalho ficará – ficará. E sei que toda a glória é finita, que é sempre assim (apenas passamos). E o tempo foge.

(BRASÍLIA, JANEIRO DE 2012)

24 de janeiro de 2012

Indignação: sem justiça social um País não sobrevive


OAB denuncia massacre com mortos na reintegração de posse.
O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de São José dos Campos, Aristeu César Pinto Neto, disse hoje (23) que houve mortos na operação de reintegração de posse do terreno conhecido como Pinheirinho, na periferia da cidade. De acordo com ele, crianças estão entre as vítimas.

“O que se viu aqui é a violência do Estado típica do autoritarismo brasileiro, que resolve problemas sociais com a força da polícia. Ou seja, não os resolve. Nós vimos isso o dia inteiro. Há mortes, inclusive de crianças. Nós estamos fazendo um levantamento no Instituto Médico-Legal [IML], e tomando as providências para responsabilizar os governantes que fizeram essa barbárie”, disse, em entrevista à TV Brasil.
Segundo Neto, a Polícia Militar (PM) e a Guarda Municipal chegaram a atacar moradores que se refugiavam dentro de uma igreja próxima ao local. “As pessoas estavam alojadas na igreja e várias bombas foram lançadas ali, a esmo”, declarou.

O representante da OAB disse ter ficado surpreso com o aparato de guerra que foi montado em prol de uma propriedade pertencente à massa falida de uma empresa do especulador Naji Nahas. “O proprietário é um notório devedor de impostos, notório especulador, proibido de atuar nas bolsas de valores de 40 países. Só aqui ele é tratado tão bem”.
Desde o início da manhã de ontem (22) , a PM cumpre uma ordem da Justiça Estadual para retirar cerca de 9 mil pessoas que vivem no local há sete anos e 11 meses. O terreno integra a massa falida da empresa Selecta, do investidor Naji Nahas. A Justiça Federal decidiu contra a desocupação do terreno, mas a polícia manteve a reintegração obedecendo ordem da Justiça Estadual.
A moradora Cassia Pereira manifestou sua indignação com a maneira como as famílias foram retiradas de suas casas sem que ao menos pudessem levar seus pertences. “A gente está lutando por moradia. Aqui ninguém quer guerra, ninguém quer briga, a gente quer casa, nossa moradia. Todo mundo tinha suas casas aqui construídas, e tiraram de nós, sem direito a nada. Pegamos só o que dava para carregar na mão”, disse.
O coronel Manoel Messias Melo confirmou que os policiais militares se envolveram em conflitos durante a madrugada, mas negou que a ação foi contra os moradores do Pinheirinho. “Foram vândalos e anônimos que praticaram incêndios na região. Tivemos 14 prisões e algumas apreensões de armas esta noite”, declarou.
“Agora vamos cuidar do patrimônio das pessoas. O oficial de Justiça lacrou [os imóveis] e nós guardamos o imóvel durante a noite. O oficial de justiça vai arrolar os bens. As pessoas receberam um número. Todos os bens serão etiquetados, conduzidos a um caminhão e levados para um depósito judicial ou a um endereço [fornecido] pelo morador”, disse Melo.
De acordo com o coronel, a PM vai permanecer no local até a reintegração de posse do terreno ser concretizada. “Entregue a posse ao proprietário ele deve tomar providências para guardar o local”.
Procurada pela reportagem para falar sobre o assunto, a prefeitura de São José dos Campos não quis se pronunciar.
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18 de janeiro de 2012

A Livraria Camões


por VASCO GRAÇA MOURA (in “Diário de Notícias” de 18-1-2012)
Entre 1979 e 1989, década em que fui administrador da Imprensa Nacional - Casa da Moeda, tive de me ocupar da Livraria Camões no Rio de Janeiro. A loja tinha sido adquirida à TAP em 1972, e a livraria ficou ali instalada por ocasião de uma visita de Marcelo Caetano ao Brasil. Ninguém pensou muito na legalidade da operação. E em consequência, tanto quanto me lembro, a livraria Camões estava ilegal nos planos federal, estadual e municipal. Já não tenho presentes todas as razões, mas lembro-me de que a primeira era o facto de, nessa época, nem um estado estrangeiro nem instituições públicas dele dependentes poderem adquirir propriedade imobiliária no Brasil.
O seu estatuto de "tolerada" não a impediu de ter um papel importante, mas havia muitos obstáculos a um funcionamento satisfatório: as transferências para pagamento dos livros implicavam a obtenção de morosas autorizações cambiais, o que era dramático, dada a desvalorização galopante no Brasil. Os fretes internacionais saíam caríssimos. Os transportes internos no destino também. Os livros idos de cá atingiam muitas vezes preços astronómicos lá. As campanhas de promoção eram praticamente inviáveis. Face à imensidão do país, aquele exíguo posto de venda da rua Bittancourt da Silva, mesmo conseguindo facilidades de armazenagem sem custos no Palácio de São Clemente (consulado de Portugal), era menos do que a cova de um dente.
É aí que entra em cena um homem chamado José Manuel Estrela, gerente da livraria. Era uma espécie de Fernão Mendes Pinto do livro português. Mexido e desenrascado, com uma capacidade de improviso notável e um talento fora do comum para as relações humanas, conhecedor de todas as regiões e dialectos (vi-o mais de uma vez identificar a terra de origem dos seus interlocutores brasileiros pela maneira como falavam, qual prof. Higgins de My fair Lady), de todas as universidades e centros académicos, de todos os professores de literatura portuguesa, de todos os livreiros e sebos, e também de um grande número de bibliófilos, escritores e jornalistas, José Estrela imprimiu então um dinamismo notável à promoção da cultura portuguesa: circulava, contactava, mostrava, propunha, divulgava, empreendia, vendia, fazia o possível e o impossível...
Portugal nunca teve uma política cultural digna desse nome no Brasil. Tudo era feito sob o signo da pelintrice: lembro-me, por exemplo, de que para qualquer deslocação em serviço do conselheiro cultural, de Brasília ao Rio ou a São Paulo, a embaixada tinha de pedir autorização a Lisboa...
Os poucos e significativos resultados alcançados, embora quase sempre pontuais, ficaram a dever-se ao mérito e à acção de pessoas que, por uma razão ou por outra, tinham oportunidade de fazer alguma coisa, mesmo quando não dispunham de meios suficientes. E nisso, José Estrela não estava sozinho. Personalidades como António Alçada Baptista ou José Blanco, professores e críticos como Eduardo Prado Coelho ou Arnaldo Saraiva, agentes diplomáticos como Mário Quartin Graça (conselheiro cultural em Brasília) ou, mais tarde, Luís Filipe Castro Mendes (cônsul-geral no Rio), e mais alguns deram uma extraordinária contribuição em que puseram muito de engenho, empenhamento e carolice pessoais e, quantas vezes, dinheiro do próprio bolso. E antes tinha havido Nemésio, Casais e Jorge de Sena, tal como há pouco houve Saramago e agora há Inês Pedrosa ou Valter Hugo Mãe.
Os nossos grupos editoriais estão a construir as suas representações próprias no Brasil. Os circuitos mudaram. Com as tecnologias digitais, a exportação do livro tem-se desmaterializado cada vez mais. As regras jurídicas, os sistemas de pagamento, as modalidades e suportes de edição, as preocupações científicas, os mercados, as técnicas de promoção e venda, tudo isso mudou também.
Leio na imprensa que a Livraria Camões não recebe livros vai para cinco anos. Reduzida a um lugar "mítico", compreende-se que muitas pessoas deplorem o seu encerramento: ela ainda era a âncora possível para muitas coisas ligadas à cultura portuguesa, na falta das políticas que deveriam sê-lo. Honrar esse património simbólico implica que fizesse todo o sentido procurar-se uma alternativa consistente de promoção da cultura portuguesa, tendo em devida conta o trabalho de muitos anos que foi feito a partir dali.



15 de janeiro de 2012

In Memoriam: Seu Teodoro, Mestre de Bumba

Com pesar despedimo-nos do nosso amigo e Mestre Seu Teodoro.
Seu Teodoro fez a passagem na madrugada de hoje, com 91 anos de idade.

A Casa Agostinho da Silva vem preparando um documentário sobre a trajetória de Seu Teodoro e o mito do Bumba meu Boi. Seu falecimento representa uma grande perda para a cultura popular em Brasília. 

Façamos presente sempre sua memória, levando adiante a tradição do Boi que mantém acesa a esperança pelo renascimento, pelos dias melhores que estão por vir.


Foto: FC Lopes/Divulgação




9 de janeiro de 2012

ATENTADO POLÍTICO À LUSOFONIA?! EXPANSÃO OU EXTINÇÃO DA LIVRARIA CAMÕES

  "Fechar a Livraria Camões seria um problema e não uma solução"

    José J.Peralta

Acabo de tomar conhecimento de um infausto projeto do governo português, que pretende o fechamento da Livraria Camões, do Rio de Janeiro. Sabendo dos altos serviços prestados à Cultura Portuguesa e Brasileira, pela referida Livraria, não posso deixar de me manifestar e de conclamar os lusófonos do mundo inteiro a tomarem alguma atitude, para evitar o desmonte de espaços da Cultura Lusófona, atuantes em muitos cantos do mundo. 
Economizar! Sim, é preciso economizar, onde há esbanjamento. Mas o esbanjamento ocorre em outros lugares onde deve ser evitado.
A presença das Livrarias Camões deve ser urgentemente equacionada, mas em busca de maior produtividade e dinamismo.
Fechamento é, no mínimo, um ato irracional e impróprio de qualquer estratégia viável, dentro da dinâmica de nosso tempo.
Penso que o Movimento Internacional Lusófono- MIL  não poderá  silenciar ante mais este descaso, pela presença da cultura portuguesa no Brasil.
Até porque sabemos que, na cultura portuguêsa, se encontram algumas das forças matricias essenciais da cultura brasileira.
Por isto podemos afirmar, sem meias palavras, que tão inoportuna atitude ofende a própria cultura brasileira e lusófona, arranhando ainda mais a nossa identidade comum.
Gostaríamos de que alguém explicasse a quem interessa tão inoportuna atitude do atual governo de Portugal, enquanto outros países fazem exatamente o contrário. É inacreditável que o governo português desconheça o importância decisiva da presença da uma Livraria, como a Camões, no Brasil, e da impotância do Brasil, no mundo da cultura lusófona. 
Abandonar um espaços desta qualidade, seria algo sem qualificativo adequado, nestes tempos mundializados. 
A França tem aqui boas Livraria; A Inglaterra e a Espanha também; outros países também as têm. Por que Portugal quer fechar o pouco que aqui tem?!
A Livraria Camões deveria ser erigida como uma grande e competente Embaixada Cultural da Cultura Portuguesa no Brasil.
Estamos em tempo de expandir entidades como a Livraria Camões, por todo o Brasil e não de  cuidar de fechar o pouco que ainda resta, de um passado mais consciente, mais dinâmico e mais eficiente da cultura lusófona.
Lembramos que o Brasil é, há muitos anos, e continuará a ser, no futuro, o grande baluarte da Língua Portuguesa, no mundo.
Gostaria de saber se os burocratas de Portugal sabem  os consequências nefastas de tão canhestra atitude.
O desprezo às questões culturais é o grande vício dos burocratas de plantão.
Não sei quais os problemas da Livraria Camões, que motivaram o projeto de fechá-la. Se problemas há, que sejam sanados. 
Conheço o sr. Estrela há muitos anos, e pude testemunhar o desvelo dele e de  sua família,  pela causa da cultura Portuguesa, no Brasil.
Sanear a economia, cortando desperdícios e gastos perdulários, é algo da maior urgência. Fechando Livrarias necessário?! Nunca. 
Penso que o governo português terá muitos outros setores para fazer economia.
 Por que Portugal tem quase o dobro dos Deputados, em relação à média Europeia?! Cortem-se então os gastos perdulários. Só estes.
Decididamente, economizar, fechando um Livraria a Camões, do Rio de Janeiro, seria uma atitude insensata de algum míope burocrata, que não vê nada além das questões econômicas ou políticas. Alguém que vê na economia o valor maior  da humanidade, embora este seja um setor nevrálgico da nossa sociedade Mas não é o único.
A lusofonia não pode continuar a fechar espaços de difusão. Antes, deve expandi-los, consolidá-los e torná-los mais eficientes.
Que seja repensada, revitalizada, consolidada e expandida a Livraria Camões. Fechá-la? Nunca.
Fechar a Livraria Camões não seria uma solução para nada. Seria antes, a criação de mais um problema.
Observe-se que nem o PS, com todos os seus desmandos, cogitou tal atentado à nossa cultura lusófona. 
Repito: Desconheço os eventuais problemas que motivaram a decisão de fechar a Livraria Camões.
Apenas considero que o fechamento nunca seria uma solução aceitável ou o mais recomendável. 
É urgente que se faça alguma intervenção junto às autoridades governamentais, para que se encontre uma  
solução mais digna, para a Livraria Camões do Rio de Janeiro. 
Aqui afirmamos com toda a convicção: 
Fechar a Livraria Camões, seria criar um problema e não encontrar uma solução. A opção pelo eventual fechamento seria 
o última opção, depois de se esgotarem todas as alternativas. Posso garantir que há muitas outras alternativas dignas, viáveis e honrosas.

8 de janeiro de 2012

A Casa Agostinho da Silva lamenta o falecimento de 
 
Maria da Conceição Moreira Salles
Diretora da Biblioteca Demonstrativa de Brasília
 
Jovens leitores, estudantes, artistas, poetas, escritores, intelectuais, amigos e
comunidade da BDB
já compartilham do mesmo sentimento de perda inestimável da
patronete da Cultura de Brasília.