Crise
Primeiro degrau para obter a transformação.
“É uma crise complexa, multidimensional, cujas facetas afetam todos os aspectos de nossa vida — a saúde e o modo de vida, a qualidade do meio ambiente e das relações sociais, da economia, tecnologia e política. É uma crise de dimensões intelectuais, morais e espirituais; uma crise de escala e premência sem precedentes em toda a história da humanidade”
(Fritjot Kapra – O Ponto de Mutação)
Pelo tanto estamos ante uma crise sistêmica derivada em crise múltipla: crise econômica, energética, crise alimentar, ambiental, demográfica… Nascida da evolução do poder desde a II Guerra Mundial ate os nossos dias – aninhando no ovo e crescendo desde a fase da Bretton Woods, ao poder dos petrodólares, a flexibilização e aumento dos déficits estatais nomeadamente dos EEUU, ao período neoliberal iniciado pela dupla Reagan – Thatcher, ate a implosão da bolha imobiliária e a quebra sistêmica de 2007 – 2008.
Alicerces do Poder
O poder atual assenta na estrutura virtual fomentada sobre a alquimia financeira: a criação de bolhas especulativas em determinados sectores (internet, sector imobiliário – hipotecário) compõe um complexo tecido de redes de ativos que atuam como palancas para expandir artificialmente a riqueza e os recursos líquidos duma pequena elite mundial, que desde suas bases de Wall Street e a City Londrina, comanda sem duvida o mundo. Este enramado econômico também possibilita a vassalagem do resto das elites periféricas – que controlam e estabelecem as regras de posse e dominação territorial, em aliança com poder central, desde onde se irradia todo o alimento do sistema e ate onde chega toda a energia renovada ou viciada do mesmo – seguindo um circuito pré-estabelecido e auto-alimentado de centro – periferia, periferia – centro.
O problema das bolhas é que como todo no mundo da matéria e as formas – tem seu nascimento, crescimento e limite biológico, depois do qual estouram… Se as bolhas forem geradas na periferia do sistema, as dominantes elites trajadas de inversores e seus aliados locais, retiram seu capital a tempo antes da bomba explodir, deixando a seu passo um tsunami de ruína imediata por todo um país ou países da região envolvida; para logo à seguir desviar os fundos retirados e colocá-los, junto a todos os dividendos obtidos, diversificadamente em outras praças mais seguras; onde a continuação podemos começar a inchar outra nova bolha (este é o principal problema inerente a um modelo de exploração global onde a riqueza surge do credito, e onde aumento de credito significa aumento da riqueza).
No entanto quando estas bolhas implodem no centro do sistema (algo que só ocorre quando a periferia por si soa resulta insuficiente para seguir irrigando energia necessária para bom funcionamento no centro de comando): então mesmo suas elites mais refinadas na arte de multiplicar e camuflar recursos avistam o fim do jogo (Game Over). Ai os poderes senhorias vem-se obrigados a improvisar corta-lumes por onde tentar escapar da explosão em curso. Em estas circunstâncias a tendência incontrolável do credito invadir todas as artérias ativa diretamente a primeira fase do “armagedom” financeiro.
Única solução: aliviar o lume e demolir o sistema; construindo ou reconstruindo a continuação uma nova arquitetura de domínio que lhes permita seguir no topo da pirâmide e com direito a nova posse do território, como senhores legalizados pela herança do velho feudo.
Em estas etapas as colunas que sustem o sistema sofrem severos estragos, devido aos grandes movimentos sísmicos do chão sobre as que se assentam. Deste modo certo pânico se instala na percepção do momento e na necessidade de previr e adiantar possíveis presentes de futuros escassos… Os grandes negócios que fornecem a base especulativa do sistema: entre os que se encontram armas, drogas e trafico de seres humanos, aceleram sua atividade. Os medos criam reticências e as reticências falta de confiança (desconfiança – medo= cerração – atitude defensiva = a aceleramento da carreira de armamentos).
Esta desconfiança que a sua vez reforça o sentimento de proteção e sobrevivência, aciona intuitivamente o mecanismo preciso prevenção controle: sobre as áreas de produção de recursos – energia, alimentos, água…, sobre as vias de transito e pontos de distribuição… Criando disputas entre o poder dominante e os poderes emergentes ou periféricos; dando na pratica menos margem de manobra e acomodo aos interesses de ambos, o qual diretamente repercute na falta de acordos importantes e na contração paulatina das vias diplomáticas.
A par disto, as disputas sobre o controlo do território nas zonas de fricção mais quentes (Oriente Médio, Pacifico, África…) trazem consigo um aumento do policiamento do orbe e um provável contagio a zonas limítrofes (fazendo as fronteiras menos seguras e confrontos mais longos e perigosos para estabilidade mundial). Alimenta-se também o receio de perder a iniciativa e a conseguinte necessidade de impedir que os grandes recursos geoestratégicos, como as energias suas fontes, vias e redes de distribuição, fiquem momentânea ou definitivamente em mãos de potencias concorrentes. Em estas carreira por assegurar a supremacia nada fica fora do jogo: daí o uso das redes massivas de comunicação também como redes de controlo ou espionagem – como tem demonstrado o recente caso Snowden, em conivência precisamente com esse poder Mercantil, que não fez outra cousa senão que assegurar domínio do modelo que permite a sua expansão e consolidação como único poder global em alça.
Para obter sucesso em estes períodos as colunas que alimentam o poder devem ser reforças ao tempo que se procura neste estagio de transação assegurar que, tanto a demolição sistêmica como a nova construção de modelo seja desenhada, guiada e custodiada pelas mesmas famílias dominantes. Para reforçar o papel preeminente das finanças e o poder absoluto do Deus Mercado, os panificadores aproveitam os tempos de confusão inerentes a toda crise sistêmica, e todo período de transformação, para transferir recursos desde a base piramidal ao cimo do grande castelo.
Em nossas sociedades atuais isto se traduz em uma tentativa de transformação dum modelo de capitalismo financeiro ate um novo modelo de capitalismo das rendas ou neo-feudalismo – como acertadamente tem sugerido o economista americano Michael Hudson – Este neo-feudalismo acrescenta como característica principal o usufruto de rendas, sobre serviços vários – muitos dos quais como os chamados básicos: sanidade, educação, rede rodoviária… foram patrimônio publico agora transferidos ou em processo de ser transferidos ao setor privado em expansão (Lei física: quando algo se expande algo se contrai. Expansão sector privado versus contração Sector Publico).
Transformação do Modelo Político
Em estas circunstancias o velho modelo político, nascido do velho conceito de “Estado razão” do iluminismo assentado na Europa a finais do século XVIII – inícios do século XIX, e transformado durante todo o século XX, perde todo valor tangível, havida conta os grandes detentores do poder real no mundo ocidental (a chamada Ordem Mercantil, agora evoluída a Ordem Financeira) o veja como um impedimento para avançar na transformação precisa.
Esta velha Ordem Mercantil que teria vencido todos os seus rivais – desde o Sacro Império Germânico, passando pelo Império Napoleônico, ate os estados nacional socialistas e fascistas, ou o Império Soviético; acabando por derruir (desde inícios dos anos oitenta do século passado) os Estados Providencia ou de Bem Estar e dobregado a bem articulada resistência da força de trabalho – nascida na Inglaterra da Revolução Industrial… Este vitorioso poder dizemos, que teria articulado redes em todo o embrenhado sistema sócio político ocidental, desde o mundo acadêmico ate o mundo empresarial, passando pelo complexo militar industrial, ócio…. está agora em condições idôneas únicas em sua trajetória expansiva, (desde as primeiras sementes dos poderosos comerciantes regionais da Liga de Hansa ou os muito haveis banqueiros Médici) de suprimir o antigo modelo ainda alicerçado sobre o Estado Nação, para construir um novo modelo mais afim com sua realidade dominante – baseado na ultrapassagem das “democracias ocidentais” algemadas ao livre mercado; por um modelo mais real, na seqüência da fase da regionalização dentro da globalização – e que teria como inicio um novo centro regional – com poderes que definitivamente encenassem a vassalagem das periferias regionais sobre o centro continental. O modelo experiencial mais idôneo para comprovar as capacidades da nova mudança, dentro deste sistema global, seria o da nossa amada União Européia. Para isso acontecer, no entanto vai ser preciso nesta fase evolutiva manter institucionalmente os tentáculos do velho Estado Nação, na pratica desprovido de cada vez mais faculdades diretas – perda do controle da moeda, perda do controle financeiro e ancoramento ao Banco Centrais Europeu, cessão do domínio legislativo (leis marco dependentes da legislação europeia), cessão do controlo judicial (futura união jurídica), perda do comando supremo das forças armadas caminho dumas forças regionais conjuntas e inserção em organizações transnacionais (NATO)… Enquanto se desenvolve o novo modelo que a longa ira eliminar, suprimir, definitivamente esse Estado.
Este mantimento do Estado Nação a nível institucional ajuda a regular o desloque de transferência de poder num período de transição, a um tempo que facilita remover obstáculos e reticências – ao isolar as lutas dentro do marco do antigo Estado, impedido uma organização da dissidência e descontento a nível regional, onde efetivamente agora se exerce o poder. Com esta manobra se provoca a curto ou longo prazo cansanção e derrota entre as vítimas do processo e os contrários ao mesmo.
A Nova Europa em construção
Entre tanto um novo poder burocrático, melhor protegido na sua torre de marfim – seja esta Bruxelas ou Estrasburgo – fora da pressão da rua, pode com maior tranqüilidade oferecer os seus serviços a nova Elite Financeira Europeia – possuidora ou a ponto de possuir praticamente todo o anterior patrimônio publico herdado dos Estados Providencia ou Estados fortes ainda não totalmente atingidos pelos processos privatizadores.
A pesar de pequenos retrocessos, incertezas, divisão de opiniões, confrontos de interesse, próprios dum período de transformação… como pode ser na Europa o caso Islandês (fora do marco da União Europeia – que tentaremos solucionar uma vez conseguida a Adesão da ilha à mesma), ou os protestos populares e greves gerais no Sul do Continente; pouco provável parece nesta altura construir uma alternativa fiável a curta, que possa impedir a consolidação da tendência dominante de maior acumulo de poder dentro da vigorante Ordem Mercantil Ocidental virada a Ordem Financeira – encarregada de transformar o modelo econômico capitalista em um modelo econômico financeiro neo-feudal, ou capitalismo das rendas… Este modelo econômico terá com certeza também que instituir um novo modelo político, que agora está em construção e onde a perda de influencia de atores claves em séculos passados como a força de trabalho ou a cidadania… vão de seguro desaparecer ou mutuar em convidados de pedra – pois na pratica realmente já perderam – muita, da sua anterior, influencia política real.
Ao igual que no modelo Friedman-Lemaître-Robertson-Walker, que descreve a expansão do universo desde o começo do Big-Bang, de maneira tão paradoxal, que podemos observar como os objetos que deveriam distribuir-se num espaço fixo ao até o vazio, aparecem como sendo parte do espaço que os contém a eles, a vez que este espaço se modifica a si mesmo, de tal modo que aparenta os objetos não moverem-se por si próprios; senão que é precisamente aquele espaço que está crescendo de alguma maneira entre eles… Assim também esta nova versão europeia de cambio de sistema político – econômico, parece operar-se lentamente como se o próprio modelo por evolução natural estivesse transformando-se enquanto os atores principais a quem ele afeta – cidadãos de todo continente – ficassem olhando como o espaço das privatizações medra de alguma maneira entre eles, não sendo os cidadãos que se movimentam pelo espaço europeu configurando de alguma forma o mesmo, senão pela contra, existissem esses mesmos cidadãos como formando parte de esses domínios privados que de algum modo os cotem também a eles …