30 de julho de 2013

Para embaixador português, o crescimento da língua “é imparável”

O embaixador Álvaro Mendonça e Moura (Embaixada de Portugal)
importância geoestratégicados países que falam o português vai ajudar o idioma a crescer no mundo. A estimativa partiu do novo embaixador de Portugal junto às Nações Unidas.
Em entrevista à Rádio ONU, Álvaro Mendonça e Moura lembrou que o português está presente em todos os continentes com um destaque para África, que concentra cinco nações de língua portuguesa.
Mundo Diferente
Para o embaixador a demografia lusófona é jovem e está em pleno desenvolvimento. “A importância crescente do português é imparável. Mesmo que não fizéssemos nada, ela ia se verificar. Ou seja, nós temos o tempo a correr a nosso favor. Basta olhar para as projeções demográficas a longo prazo para nos darmos conta de como o mundo vai ser diferente.”
Especialistas afirmam que até 2050, o português terá mais de 300 milhões de falantes nativos, 50 milhões acima do número atual de pessoas que utilizam o português como primeira língua.
Ásia
Segundo o embaixador, o mais novo país de língua portuguesa, Timor-Leste, ajuda a ampliar a presença do idioma até a Ásia, uma condição vital para o aspecto global da língua.
“Ora o português está na Europa, onde nasceu. Está em África, onde temos o maior número de países lusófonos. Está na Ásia com o Timor-Leste, mas também em Malaca, em Macau, para já não falar de outras comunidades mais pequenas, e está obviamente na América Latina, onde reside o maior número de falantes. Ou seja, é uma língua de dimensão mundial.”
A promoção do português como idioma internacional é uma das prioridades da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). A entidade também se ocupa de aumentar a utilização do português em organizações internacionais como as Nações Unidas.
A medida é parte de uma estratégia de promoção, proposta durante a presidência rotativa de Portugal no bloco em 2008, e endossada por todos os países-membros da CPLP.
Esta matéria foi originalmente publicada pela ONU Brasil.

Artur Alonso Novelle

Crise
Primeiro degrau para obter a transformação.

“É uma crise complexa, multidimensional, cujas facetas afetam todos os aspectos de nossa vida — a saúde e o modo de vida, a qualidade do meio ambiente e das relações sociais, da economia, tecnologia e política. É uma crise de dimensões intelectuais, morais e espirituais; uma crise de escala e premência sem precedentes em toda a história da humanidade”
                                   (Fritjot Kapra – O Ponto de Mutação)

Pelo tanto estamos ante uma crise sistêmica derivada em crise múltipla: crise econômica, energética, crise alimentar, ambiental, demográfica… Nascida da evolução do poder desde a II Guerra Mundial ate os nossos dias – aninhando no ovo e crescendo desde a fase da Bretton Woods, ao poder dos petrodólares, a flexibilização e aumento dos déficits estatais nomeadamente dos EEUU, ao período neoliberal iniciado pela dupla Reagan – Thatcher, ate a implosão da bolha imobiliária e a quebra sistêmica de 2007 – 2008.


Alicerces do Poder

O poder atual assenta na estrutura virtual fomentada sobre a alquimia financeira: a criação de bolhas especulativas em determinados sectores (internet, sector imobiliário – hipotecário) compõe um complexo tecido de redes de ativos que atuam como palancas para expandir artificialmente a riqueza e os recursos líquidos duma pequena elite mundial, que desde suas bases de Wall Street e a City Londrina, comanda sem duvida o mundo. Este enramado econômico também possibilita a vassalagem do resto das elites periféricas – que controlam e estabelecem as regras de posse e dominação territorial, em aliança com poder central, desde onde se irradia todo o alimento do sistema e ate onde chega toda a energia renovada ou viciada do mesmo – seguindo um circuito pré-estabelecido e auto-alimentado de centro – periferia, periferia – centro. 
O problema das bolhas é que como todo no mundo da matéria e as formas – tem seu nascimento, crescimento e limite biológico, depois do qual estouram… Se as bolhas forem geradas na periferia do sistema, as dominantes elites trajadas de inversores e seus aliados locais, retiram seu capital a tempo antes da bomba explodir, deixando a seu passo um tsunami de ruína imediata por todo um país ou países da região envolvida; para logo à seguir desviar os fundos retirados e colocá-los, junto a todos os dividendos obtidos, diversificadamente em outras praças mais seguras; onde a continuação podemos começar a inchar outra nova bolha (este é o principal problema inerente a um modelo de exploração global onde a riqueza surge do credito, e onde aumento de credito significa aumento da riqueza).
No entanto quando estas bolhas implodem no centro do sistema (algo que só ocorre quando a periferia por si soa resulta insuficiente para seguir irrigando energia necessária para bom funcionamento no centro de comando): então mesmo suas elites mais refinadas na arte de multiplicar e camuflar recursos avistam o fim do jogo (Game Over). Ai os poderes senhorias vem-se obrigados a improvisar corta-lumes por onde tentar escapar da explosão em curso. Em estas circunstâncias a tendência incontrolável do credito invadir todas as artérias ativa diretamente a primeira fase do “armagedom” financeiro.

Única solução: aliviar o lume e demolir o sistema; construindo ou reconstruindo a continuação uma nova arquitetura de domínio que lhes permita seguir no topo da pirâmide e com direito a nova posse do território, como senhores legalizados pela herança do velho feudo.

Em estas etapas as colunas que sustem o sistema sofrem severos estragos, devido aos grandes movimentos sísmicos do chão sobre as que se assentam.  Deste modo certo pânico se instala na percepção do momento e na necessidade de previr e adiantar possíveis presentes de futuros escassos… Os grandes negócios que fornecem a base especulativa do sistema: entre os que se encontram armas, drogas e trafico de seres humanos, aceleram sua atividade. Os medos criam reticências e as reticências falta de confiança (desconfiança – medo= cerração – atitude defensiva = a aceleramento da carreira de armamentos).
Esta desconfiança que a sua vez reforça o sentimento de proteção e sobrevivência, aciona intuitivamente o mecanismo preciso prevenção controle: sobre as áreas de produção de recursos – energia, alimentos, água…, sobre as vias de transito e pontos de distribuição… Criando disputas entre o poder dominante e os poderes emergentes ou periféricos; dando na pratica menos margem de manobra e acomodo aos interesses de ambos, o qual diretamente repercute na falta de acordos importantes e na contração paulatina das vias diplomáticas.
A par disto, as disputas sobre o controlo do território nas zonas de fricção mais quentes (Oriente Médio, Pacifico, África…) trazem consigo um aumento do policiamento do orbe e um provável contagio a zonas limítrofes (fazendo as fronteiras menos seguras e confrontos mais longos e perigosos para estabilidade mundial). Alimenta-se também o receio de perder a iniciativa e a conseguinte necessidade de impedir que os grandes recursos geoestratégicos, como as energias suas fontes, vias e redes de distribuição,  fiquem momentânea ou definitivamente em mãos de potencias concorrentes. Em estas carreira por assegurar a supremacia nada fica fora do jogo: daí o uso das redes massivas de comunicação também como redes de controlo ou espionagem – como tem demonstrado o recente caso Snowden, em conivência precisamente com esse poder Mercantil, que não fez outra cousa senão que assegurar domínio  do modelo que permite a sua expansão e consolidação como único poder global em alça.

Para obter sucesso em estes períodos as colunas que alimentam o poder devem ser reforças ao tempo que se procura neste estagio de transação assegurar que, tanto a demolição sistêmica como a nova construção de modelo seja desenhada, guiada e custodiada pelas mesmas famílias dominantes. Para reforçar o papel preeminente das finanças e o poder absoluto do Deus Mercado, os panificadores aproveitam os tempos de confusão inerentes a toda crise sistêmica, e todo período de transformação, para transferir recursos desde a base piramidal ao cimo do grande castelo.

Em nossas sociedades atuais isto se traduz em uma tentativa de transformação dum modelo de capitalismo financeiro ate um novo modelo de capitalismo das rendas ou neo-feudalismo – como acertadamente tem sugerido o economista americano Michael Hudson – Este neo-feudalismo acrescenta como característica principal o usufruto de rendas, sobre serviços vários – muitos dos quais como os chamados básicos: sanidade, educação, rede rodoviária… foram patrimônio publico agora transferidos ou em processo de ser transferidos ao setor privado em expansão (Lei física: quando algo se expande algo se contrai. Expansão sector privado versus contração Sector Publico).


Transformação do Modelo Político

Em estas circunstancias o velho modelo político, nascido do velho conceito de “Estado razão” do iluminismo assentado na Europa a finais do século XVIII – inícios do século XIX, e transformado durante todo o século XX, perde todo valor tangível, havida conta os grandes detentores do poder real no mundo ocidental (a chamada Ordem Mercantil, agora evoluída a Ordem Financeira) o veja como um impedimento para avançar na transformação precisa.
Esta velha Ordem Mercantil que teria vencido todos os seus rivais – desde o Sacro Império Germânico, passando pelo Império Napoleônico, ate os estados nacional socialistas e fascistas, ou o Império Soviético; acabando por derruir (desde inícios dos anos oitenta do século passado) os Estados Providencia ou de Bem Estar e dobregado a bem articulada resistência da força de trabalho – nascida na Inglaterra da Revolução Industrial… Este vitorioso poder dizemos, que teria articulado redes em todo o embrenhado sistema sócio político ocidental, desde o mundo acadêmico ate o mundo empresarial, passando pelo complexo militar industrial, ócio…. está agora em condições idôneas únicas em sua trajetória expansiva, (desde as primeiras sementes dos poderosos comerciantes regionais da Liga de Hansa ou os muito haveis banqueiros Médici) de suprimir o antigo modelo ainda alicerçado sobre o Estado Nação, para construir um novo modelo mais afim com sua realidade dominante – baseado na ultrapassagem das “democracias ocidentais” algemadas ao livre mercado; por um modelo mais real, na seqüência da fase da regionalização dentro da globalização – e que teria como inicio um novo centro regional – com poderes que definitivamente encenassem a vassalagem das periferias regionais sobre o centro continental. O modelo experiencial mais idôneo para comprovar as capacidades da nova mudança, dentro deste sistema global, seria o da nossa amada União Européia. Para isso acontecer, no entanto vai ser preciso nesta fase evolutiva manter institucionalmente os tentáculos do velho Estado Nação, na pratica desprovido de cada vez mais faculdades diretas – perda do controle da moeda, perda do controle financeiro e ancoramento ao Banco Centrais Europeu, cessão do domínio legislativo (leis marco dependentes da legislação europeia), cessão do controlo judicial (futura união jurídica), perda do comando supremo das forças armadas caminho dumas forças regionais conjuntas e inserção em organizações transnacionais (NATO)… Enquanto se desenvolve o novo modelo que a longa ira eliminar, suprimir, definitivamente esse Estado.
Este mantimento do Estado Nação a nível institucional ajuda a regular o desloque de transferência de poder num período de transição, a um tempo que facilita remover obstáculos e reticências – ao isolar as lutas dentro do marco do antigo Estado, impedido uma organização da dissidência e descontento a nível regional, onde efetivamente agora se exerce o poder. Com esta manobra se provoca a curto ou longo prazo cansanção e derrota entre as vítimas do processo e os contrários ao mesmo.



A Nova Europa em construção  

Entre tanto um novo poder burocrático, melhor protegido na sua torre de marfim – seja esta Bruxelas ou Estrasburgo – fora da pressão da rua, pode com maior tranqüilidade oferecer os seus serviços a nova Elite Financeira Europeia – possuidora ou a ponto de possuir praticamente todo o anterior patrimônio publico herdado dos Estados Providencia ou Estados fortes ainda não totalmente atingidos pelos processos privatizadores.

A pesar de pequenos retrocessos, incertezas, divisão de opiniões, confrontos de interesse, próprios dum período de transformação… como pode ser na Europa o caso Islandês (fora do marco da União Europeia – que tentaremos solucionar uma vez conseguida a Adesão da ilha à mesma), ou os protestos populares e greves gerais no Sul do Continente; pouco provável parece nesta altura construir uma alternativa fiável a curta, que possa impedir a consolidação da tendência dominante de maior acumulo de poder dentro da vigorante Ordem Mercantil Ocidental virada a Ordem Financeira – encarregada de transformar o modelo econômico capitalista em um modelo econômico financeiro neo-feudal, ou capitalismo das rendas… Este modelo econômico terá com certeza também que instituir um novo modelo político, que agora está em construção e onde a perda de influencia de atores claves em séculos passados como a força de trabalho ou a cidadania… vão de seguro desaparecer ou mutuar em convidados de pedra – pois na pratica realmente já perderam – muita, da sua anterior, influencia política real.

Ao igual que no modelo Friedman-Lemaître-Robertson-Walker, que descreve a expansão do universo desde o começo do Big-Bang, de maneira tão paradoxal, que podemos observar como os objetos que deveriam distribuir-se num espaço fixo ao até o vazio, aparecem como sendo parte do espaço que os contém a eles, a vez que este espaço se modifica a si mesmo, de tal modo que aparenta os objetos não moverem-se por si próprios; senão que é precisamente aquele espaço que está crescendo de alguma maneira entre eles… Assim também esta nova versão europeia de cambio de sistema político – econômico, parece operar-se lentamente como se o próprio modelo por evolução natural estivesse transformando-se enquanto os atores principais a quem ele afeta – cidadãos de todo continente – ficassem olhando como o espaço das privatizações medra de alguma maneira entre eles, não sendo os cidadãos que se movimentam pelo espaço europeu configurando de alguma forma o mesmo, senão pela contra, existissem  esses mesmos cidadãos como formando parte de esses domínios privados que de algum modo os cotem também a eles …

17 de julho de 2013

O PAPA, O PAI-NOSSO E A FADA TUPI
José Ribamar Bessa Freire
14/07/2013 - Diário do Amazonas


Na próxima semana, no Rio, o papa rezará o pai-nosso traduzido em 26 idiomas. É uma forma de a Igreja Católica prestigiar cada um deles. Na lista não consta, porém, nenhuma das mais de 180 línguas indígenas faladas hoje no Brasil. Acontece que a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) adotou como oficiais somente línguas indo-europeias - inglês, francês, alemão, espanhol, português, italiano e polonês, que serão usados na catequese juntamente com outros 19 idiomas "paroquiais", entre os quais o coreano, o russo, o croata, o letão, o árabe e até o turco. Das línguas daqui nem sequer o guarani, que é falado em três municípios do Rio de Janeiro, fará parte do evento.
Se o papa não reza em guarani não é por falta de ave-maria. Basta que ele desça ao Arquivo Secreto do Vaticano - um bunker de concreto no subsolo perto da Capela Sistina com milhões de documentos em 43 quilômetros de prateleiras. Lá ele encontrará versões do pai-nosso em diversas línguas ameríndias, incluindo a Língua Geral de base tupi, que já foi a língua da catequese, além de catecismos, sermões, hinos e orações em guarani, idioma falado hoje em dez estados do Brasil, no Paraguai, na Argentina, na Bolívia e até mesmo no Uruguai, onde o Estado finge que não existe.
Por sua importância, por ser um ponto de união entre os países da América do Sul, o guarani foi declarado, em novembro de 2006, idioma oficial do Mercosul, "em igualdade de condições com o português e o espanhol". Tal decisão, aprovada na XXIII Reunião do Mercosul Cultural, obriga a tradução dos documentos para o Guarani, que dois anos antes já havia sido declarado idioma oficial alternativo da Província Argentina de Corrientes, sendo adotado depois, em 2010, como segunda língua oficial nos municípios de Tacuru e Paranhos, ambos em Mato Grosso do Sul.
Oré Ruba
Mesmo assim, os milhares de peregrinos vindos de todos os continentes, que serão distribuídos pelas paróquias do Rio, sairão do Brasil sem saber que visitaram um país diverso e multilíngue, porque a operação logística montada pela organização da JMJ, que contempla tradutores e aplicativos de tradução sonora com ajuda de smartphones para comunicação em línguas estrangeiras, deixou de fora as línguas nacionais. É nessa hora que a gente sente saudades do Policarpo Quaresma.
A tradução de orações para línguas indígenas tem uma história complicada. Por isso, se o papa Francisco, que é da Argentina onde se fala guarani, fosse rezar nessa língua, teria que evitar as primeiras versões do pai-nosso feitas por alguns de seus confrades que cometeram erros quase "folclóricos". Pai-nosso, por exemplo, foi traduzido como oré ruba, o que obrigou os índios a excluir do seu convívio a figura de um Deus Pai, cuja paternidade era questionável, e de um Deus Filho para sempre incompreendido. Tanto o oré como o ruba são inadequados - dizem os especialistas.
Oré, efetivamente, é nosso. Mas ali onde a língua portuguesa tem apenas uma forma para o possessivo, o tupi antigo possui duas: quando o 'nosso' inclui a pessoa com quem estou falando, tenho que usar iandé ou nhandé. Já quando excluo o interlocutor, uso oré. O tupi parece mais adequado a um discurso de transparência. No caso, por exemplo, das emendas orçamentárias, na hora de pedir verba seus autores usariam o inclusivo nhandé: a verba pública é nossa (minha e tua). Mas na hora de aplicá-la e embolsá-la, seriam obrigados a usar o exclusivo oré, pois o nosso aqui é o do Mateus: primeiro o meu, depois os teus.
Usar o oré no pai-nosso não permite que quem reza junto compartilhe o mesmo pai. Se o papa rezar em guarani dessa forma, estará dizendo aos índios "pai nosso que não é de vocês", o que pensando bem talvez seja o mais correto, afinal o tradutor pode ter escrito certo por linhas tortas. A voracidade com a qual o agronegócio abocanha as terras indígenas com a cumplicidade do poder político permite que os índios duvidem se compartilham o mesmo pai com a senadora Kátia Abreu, católica fervorosa.
Anga e Ceiuci
Além disso, quando na Oração do Senhor o papa chamar pai de ruba, a confusão vai aumentar, porque a estrutura de parentesco tupi obedece a princípios diferentes dos nossos, como esclarece o padre Lemos Barbosa em seu Curso de Tupi Antigo, oferecido na PUC/RJ nos anos 1950. Ele diz que ruba ou uba não tem correspondente preciso em português, porque denomina tanto opai como o irmão do pai, da mesma forma que filho não tem equivalente em tupi, pois ayra ou rayra significa também filho do irmão, ou seja sobrinho paterno.
Quando se trata do filho de Deus, então, a questão se complica ainda mais, por envolver valores morais, tabus e preconceitos. Posto que a palavra rayra ou ayra significa também sêmen, ela foi omitida na tradução de ‘imagem do filho de Deus’, substituída por "Tupã tay raangaba",segundo avaliação de Teodoro Sampaio (1885-1937), um engenheiro baiano, filho de uma escrava, que estudou a toponímia tupi na geografia nacional.
Por não conseguirem transferir toda a carga de significados de uma cultura a outra, reduziram e deformaram a diversidade cultural e ambiental. O papa Francisco teria dificuldades com a tradução de palavras como alma (anga), céu (ybaka), yasy (lua), ara (dia ou tempo), mano (morrer), etc, como observa o padre Lemos:
"Os dicionários podem dizer que anga significa alma. Mas o conceito de alma é diferente do de anga, tanto em compreensão como em extensão. Nós atribuímos à alma características (por exemplo, a imaterialidade) que não cabem no conceito indígena de anga. Por outro lado, um índio animista falará na anga do vento".
Como guardar o sentido da palavra deputado numa língua indígena? Couto de Magalhães usou "homens de governo da nossa pátria" ao traduzir para o Nheengatu a certidão de batismo do neto de Dom Pedro II. Mas discordou do termo "fada indígena", usado para designar a figura lendária de Ceiuci - uma velha gulosa que vivia perseguida por eterna fome - na narrativa coletada no Tocantins, em 1865, com um tuxaua Anambé. Para ele, também a versão do pai-nosso que circulava na Amazônia era uma fada tupi, isto é, um monte de palavras desconexas que não expressavam o seu significado original.
O papa perderá uma boa oportunidade de fazer um gesto simbólico e de celebrar o guarani, reconhecido e valorizado quando usado em outros espaços sociais. Afinal, como diz um jesuíta amigo dos índios, Bartomeu Meliá, “también la historia de América es la historia de sus lenguas, que tenemos que lamentar cuando ya muertas, que tenemos que visitar y cuidar cuando enfermas, que podemos celebrar con alegres cantos de vida cuando son habladas”.   
Mas diante de tantas dificuldades, talvez seja melhor mesmo, pelo menos para os índios, que o Papa não reze em guarani. Bem ali, ao lado da aldeia Maracanã onde funcionou o antigo Museu do Índio, na paróquia do Divino Espírito Santo, peregrinos chineses rezarão em mandarim e cantonês. Longe dali, distante da Jornada Mundial da Juventude,os jovens guarani, abençoados por Nhanderu, cantarão seus cânticos sagrados tradicionais dentro da Opy, em suas aldeias.
P.S. A ilustração do nosso parceirinho Fernando Assaz Atroz

11 de julho de 2013

Deputada Melinda Chan defende educação bilingue português-chinês em Macau


Da Agência Lusa
3 de julho de 2013
A deputada Melinda Chan afirma que o Governo da Região Administrativa Especial chinesa tem a responsabilidade de "encorajar os estudantes a aprenderem o português", que é "muito importante em Macau" e é Língua oficial juntamente com o chinês. 
A deputada Melinda Chan afirma que o Governo da Região Administrativa Especial chinesa tem a responsabilidade de “encorajar os estudantes a aprenderem o português”, que é “muito importante em Macau” e é Língua oficial juntamente com o chinês.
 
A deputada à Assembleia Legislativa de Macau, Melinda Chan, defendeu hoje [dia 3 de julho] que o Governo deveria incentivar os jovens do território a aprenderem português, através da promoção dos benefícios económicos da “Língua de Camões” junto dos residentes.
“O português é muito importante em Macau, antes de mais porque é uma Língua oficial, a par do chinês, e o Governo deveria encorajar os nossos alunos a aprenderem português, especialmente nas escolas”, afirmou a deputada em declarações à Agência Lusa, depois da apresentação da sua candidatura às legislativas de setembro.
Melinda Chan sublinha que o Ensino do Português é um tema pelo qual se tem batido no hemiciclo e garante que continuará a estar na sua lista de prioridades se for reeleita pela população.
Ao salientar que o Governo chinês definiu Macau como a plataforma entre a China e os países de Língua Portuguesa e que “muito dinheiro foi investido” nesta estratégia, a deputada constata que o Executivo local tem a responsabilidade de “encorajar os estudantes a aprenderem o português”.
“Encorajando a aprendizagem do português pelos nossos jovens, estamos também a dar-lhes oportunidades de emprego, porque, se falarem português e chinês, poderão, por exemplo, trabalhar em empresas chinesas que invistam nos países de Língua Portuguesa”, sustentou.