22 de outubro de 2014

Contenda na concorrência, por Artur Alonso Novelhe


A espécie extermina outras espécies,
denota providência.
Ocupa imensa a plana maior
de todo o atemorizado planeta,
e ainda assim sempre se encontram,
por dentro, valeiros.
A espécie mata à rapina,
abre as entranhas da mãe
– terra na areia ferida –
e no entanto continuamente
se sente, a miúdo, vencida.
Hoje reúnem-se
perto dum combinado local
a determinada hora, em determinada altura,
para devorarem-se por si mesmos.
Maximus Sancti cum nomine do Primeiro Sacramento
A este ato denominam-no contenda.
Seu objetivo:
garantir cobiçados recursos
que a seguir em grandes celebrações dilapidam sempre,
com arrogância, alegremente;
como se dum obsequio a regalar se trate
porque Roma precisa, a um tempo,
degolar, incipiente, pela noite no pentecostes,
um anho renascido do velho carneiro preto;
para tirar, contra a dor, o pecado do insípido berço.
A espécie gosta do riso também
como das sêmolas de trigo
e da fartura.
Desfruta com fêmeas violadas
e meninhos fracos, emagrecidos,
com moscas na cara da núbil fotografia.
A espécie sabe dizer: me,
escreve gafanhotos com gralhas na ortografia
(porque adora pasigrafar
sua raiva em todo seu domínio)
Um constrói, outro o imita, um terceiro planifica;
afinal juntam tílias nos passeios e
camélias em grandes prédios, demolidos, ao lado
imensas praças, com teatros e alinhadas avenidas;
reluzentes desde um centro
simétrico – bem vos digo – ao
grande monumento equestre à aquele general
que – hoje mesmo antes da ceia executar
ordenou ocupar–decepar ou queimar com ardor
provisoriamente –
todas as florestas que virgens ainda restem
… por se acaso em alguma delas
se escondem os insurgentes.
(ego te absolvo…)

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