A qualidade da pedagogia jesuítica foi marcante nos
países da lusofonia. No livro “Gangorra ou História triste” pode constatar-se
bem o método jesuítico de educação num episódio descrito por um jesuíta (1)num
parágrafo que trata das relações entre espanhóis e índios: Um jesuíta que
assistia a um índio maltratado mortalmente pelos espanhóis perguntou ao índio:
-“Você prefere ser salvo e ir para o céu, ou recusa a salvação para ir ao
inferno?” A essa questão de resposta aparentemente óbvia… o moribundo vermelho
responde com outra pergunta: -“existem espanhóis no céu?”. –“Sim, certamente” –
responde o jesuíta. –“Para o Inferno”, responde o Índio. O índio colocado numa
perspectiva de céu e de inferno não encontrava razões para convicções e deste
modo o jesuíta com o seu método coloquial aproveitava para condenar,
indirectamente, a governação espanhola. A pergunta abre a
possibilidade de alargar o leque de perspectivas e de entrar em relação
alargada.
Os Jesuitas nos seus colégios da América do Sul e
da Ásia seguiam no ensino superior o modelo de ensino da Universidade de
Coimbra e de Évora preferindo o modus parisiensis ao modus italicus: o ensino
era gratuito, no secundário estudava-se Gramática, Humanidades e retórica e no
Ensino Superior: Artes, Ciências, Dialética, Filosofia e Teologia (2)
Os jesuítas despertavam a desconfiança dos
governantes devido à influência política e educativa que tinham e, por, nas
colónias, se colocarem ao lado dos indígenas (criticando os colonos). Com o seu
relativismo na argumentação, questionador do argumento de autoridade, também
frustravam o espírito absolutista dos poderosos da europa; por outro lado
tinham demasiado poder causando sombra ao poder laico que se procurava afirmar
e institucionalizar contra a influência do poder religioso.
O enciclopedismo e o iluminismo eram de tendências
anticatólicas e anti-jesuítas atendendo também a que estes eram os críticos
mais sistemáticos do protestantismo. A Reforma religiosa e as guerras de
religião levam os Jesuítas a centrarem-se no essencial. Surgidos do espírito da
Reforma da Igreja Católica, apostavam na educação para fomentar uma consciência
humana não limitada ao religioso nem à ideologia, (Interessante que já o Padre
Manuel da Nóbrega queria, no Brasil, incluir escolas para meninas no ensino,
mas a Coroa não estava à altura de permitir tal exigência); entendiam-se como
pioneiros da utopia na realização da civilização cristã. Tinham um ensino
orientado para elites e para cargos do poder. Praticavam a inclusão de
culturas, de camadas sociais e de disciplinas… como processo de aprendizagem
competitiva tinham exames e debates públicos (3).
Pombal acusava a atuação dos jesuítas com os
indígenas do Brasil; segundo ele, os homens brancos eram apresentados aos
índios como maus, como mais interessados no ouro do que qualquer coisa e, mais
grave, prontos para atrocidades” (4).
A maçonaria, na sua qualidade de iluminismo
esotérico, e de organização secreta que considera o próprio preconceito acima
de outros preconceitos institucionais, estrutura-se infiltrando-se nas
estruturas do Estado e Universidades, procurando controlar as elites, para,
deste modo, direccionar os destinos das nações. A maçonaria ganha expressão
concreta no déspota iluminado, o Marquês de Pombal. Este aliado à sua família e
correligionários difama os jesuítas, persegue-os, nacionaliza os seus bens e
expulsa-os do império lusitano, declarando-os como "ímpios e
sediciosos"; conseguiu que a inquisição os perseguisse e expulsou-os de
Portugal; no ano da sua expulsão (1759) a ordem jesuíta tinha 1698 membros em
Portugal. “Em meados do século XVIII os colégios da Companhia de Jesus tinham,
no reino, cerca de vinte mil alunos, numa população estimada em três milhões de
habitantes… No Brasil, a primeira universidade criada é o Colégio dos Jesuítas
da Bahia em 1550. Esta formou o ilustre António Vieira (ideia do 5°
império).
A luta maçónica contra a Companhia de Jesus é tão
fundamentalista e cruel que só pode ser compreendida na rivalidade dos maçons
que queriam conquistar as elites para si seguindo assim uma estratégia elitista
de ocupação dos centros de elite em nível de instituições e de ocupação de
lugares estratégicos da política. O que a maçonaria e o anticlericalismo
pretendiam era aniquilar os jesuítas e o poder da Igreja Católica para os
substituírem na influência; o que em parte conseguiram através de um
republicanismo jacobino ainda hoje a actuar nas caves da República portuguesa e
nos centros de deliberação da UE. A batalha decisiva de Pombal e
correligionários era minar o mito de um Portugal ponta de lança da Europa
cristã e instituir nas estruturas do estado e nas subestruturas dos partidos
uma rede de irmãos da mesma ideologia que atravessa as instituições…
Também o ilustre jesuíta Teilhard de Chardin se
refere ao conflito entre secularismo e religião, ente materialismo e
espiritualismo: "Aparentemente, a Terra Moderna nasceu de um movimento
anti-religioso. O Homem bastando-se a si mesmo. A Razão substituindo-se à
Crença. Nossa geração e as duas precedentes quase só ouviram falar de conflito
entre Fé e Ciência. A tal ponto que pôde parecer, a certa altura, que esta era
decididamente chamada a tomar o lugar daquela. Ora, na medida em que a tensão
se prolonga, é visivelmente sob uma forma muito diferente de equilíbrio – não
eliminação, nem dualidade, mas síntese – que parece haver de se resolver o
conflito (5)."
Na pergunta à pergunta relativiza-se a primeira e
com a sequência pretende chegar-se à percepção do mistério e ao ser do Homem
como processo aberto e à procura numa tentativa de solucionar problemas
mediante perguntas e respostas. A Ratio Studiorum dos Jesuitas (1599) incluía a
Contenda (debate) que levava à concentração no essencial (6).
Longe dos centros europeus do poder, na América do Sul
e no Oriente, a pedagogia e o sistema de argumentação Jesuíta revelaram-se
muito profícuos.
No Sermão da Sexagésima, o jesuíta António Vieira
expôs o método do discurso: 1. Definir a matéria. 2. Reparti-la. 3. Confirmá-la
com a Escritura. 4. Confirmá-la com a razão. 5. Amplificá-la, dando exemplos e
respondendo às objeções, aos "argumentos contrários". 6. Tirar uma
conclusão e persuadir, exortar. (por António Justo, Pedagogo e Teólogo)