8 de dezembro de 2016

ADVENTO É O TEMPO DA CAMINHADA PARA A GRUTA DO CORAÇÃO


O Presépio é o Protótipo da Ipseidade (Eu) e de toda a Vida

Por António Justo
Advento quer dizer chegada, é o tempo de espera 
e de esperança. Liturgicamente, o tempo de espera é 
o tempo grávido que vai até ao dar à luz: o natal 
acontece hoje e sempre na gruta do coração, 
onde se dá a revelação d’Aquele que é, que era e 
que vem (Ap 1, 4-8). Ele não foi nascer no templo 
nem no parlamento, nasceu e nasce numa gruta da 
terra ainda virgem e aberta a tudo e todos, onde se 
pode encontrar pobre e rico, crente e céptico, toda a 
pessoa de boa vontade, aberta e disposta a deixar-se 
surpreender para dar oportunidade à criatividade.
A caminhada de Maria e José para Belém é o 
símbolo da caminhada histórica e mística da vida de 
cada um; é a caminhada para nós mesmos, a ida 
ao encontro do nosso centro e ao mesmo tempo o 
início e a meta de nós mesmos e do universo. 
José e Maria sabiam para onde ir, tinham um objectivo: 
Belém e dar à luz Jesus nas suas vidas e para o mundo.
O Advento é uma caminhada, um percurso com altos e 
baixos, com ventos e acalmias. Séneca dizia: 
“Nenhum vento sopra a favor de quem não sabe 
para onde ir”. Todos nós andamos na barca da 
fragilidade e da insegurança mas, das velas da 
nossa vontade, depende o aproveitamento do 
vento para a levar ao trajecto do que fica e não passa.
Na gruta de Belém, longe do bulício da cidade, o 
divino infante nasceu na companhia dos animais e 
da família, onde razão e coração se encontram 
unidos, onde não há oligarquia nem tirania.
Hoje o presépio de Belém simboliza também a gruta 
do nosso coração. Se descermos os degraus da 
caverna do nosso interior, chegaremos ao íntimo do 
coração onde borbulha a água viva, tudo o que é divino 
e ultrapassa o tempo; nessa gruta, no limiar do nosso 
espírito, brota a vida e brilha a luz, o Deus menino. Vale 
a pena tentar; a vida é uma tentação contínua, toda ela 
tricotada de bem e mal numa espiral ascendente! O 
que fica e mais nos caracteriza é o caminho feito e o 
aroma do amor que o cobre.
Para se nascer e acordar para a vida não é suficiente 
ficar-se pela superfície seguindo caminhos já feitos; 
é preciso arrotear o próprio para vivermos e não sermos 
vividos. Para isso é preciso entrar-se numa gruta, lá 
onde se encontra o tesouro enterrado. Esse tesouro é 
o nosso eu no nós, a nossa ipseidade que participa da 
natureza divina, um mistério que envolve matéria e 
espírito, que une a “realidade” ao sonho, o todo e o 
particular numa relação de complementaridade. Aí 
poderemos ressurgir na criança que ao ser acariciada 
provoca em nós uma nova consciência e uma mudança 
na vida. O presépio é o protótipo da vida e da Ipseidade 
(eu integral), é a fonte do eu a brotar do nós.
Natal é a matriz (padrão) da vida individual, comunitária e 
cósmica e Advento é o tempo histórico e místico da sua 
realização. Jesus Cristo é o protótipo da realização 
pessoal, comunitária e cósmica equacionada na fórmula trinitária.

António da Cunha Duarte Justo
Teólogo
Pegadas do Espírito no Tempo, http://antonio-justo.eu/?p=3975

Um comentário:

Jorge da Paz Rodrigues disse...

Muito bom! Que este Advento e o Natal nos tragam a Luz!