16 de fevereiro de 2017

Evocando um Mestre, por Maurícia Teles da Silva


 
 
111.º ano do nascimento de George Agostinho Baptista da Silva
 

E de súbito, em 06, Porto em lugar de Barca d’Alva, o Porto de Campanhã e Bonfim, exactamente

 na Barão de Nova Cintra (Rua ou Travessa) notada  pelo Parque que, do lado do rio, desce 

até à linha de caminho de ferro, e em prédio que decoravam, na cimalha, figuras da Fábrica das Devesas.[...]
                                                                       Agostinho da Silva, Caderno de Lembranças. Ed.Zéfiro e AAS, 2006, p.26


George Agostinho Baptista da Silva nasceu a 13 de Fevereiro de 1906, 

na freguesia do Bonfim, Porto, tendo a família residência na Travessa Barão 

de Nova Cintra. Foi baptizado a seis de Maio do mesmo ano, na Igreja do 

Senhor do Bonfim desta freguesia.

Quando alguém suplanta a dimensão do invulgar, o senso comum ora tende

para a idolatria, ou, ao invés, tenta reduzir a um plano de vulgaridade,

 como se o diferente carecesse de qualificação. O erro está sempre no 

julgamento que se faz. Se se prescindisse da lente que deturpa, teríamos 

a visão do Ser pleno, o que se torna assaz difícil, pois, enquanto humanos

vemos com os órgãos dos sentidos, mas sobretudo com os olhos da

 Consciência de onde não se pode retirar o coração / Cor

 (do lat. - sede da alma, da inteligência, da sensibilidade; espírito; bom senso).
Muitas vezes existe a propensão para considerar um Mestre como 

alguém a quem não se permite errar, imagem da perfeição, que se

 situaria para lá da dimensão humana.
“E não me chamem de mestre, sou apenas aprendiz”- dizia-nos 

Agostinho da Silva, assim, só pode ensinar quem de facto preserva 

a capacidade de aprender.
Aprender com os desacertos, os próprios e os dos outros, 

transformando-os num novo patamar de conhecimento. 

De níveis supra-humanos só os santos poderão responder, 

enquanto mensageiros do Inexaurível.
O que conheci em Agostinho da Silva foi o pleno carácter 

que atende ao seu próximo, respeitando a liberdade de cada um, 

procurando ajudar pela palavra, ou dedicando-se na medida 

em que a generosidade lhe ordenasse, franciscano o vi 

verdadeiro oferecendo o que de melhor apreendeu da vida – a Sabedoria.
E porque entendemos que no humano co-existem o mundano 

e o divino, a Vida/Obra constituiu-se para Agostinho, como 

aprendizagem que permitiu superar a voragem do mundo. 

Tal fez-se através da coragem que enfrentou provações, 

que superou obstáculos, umas vezes agrilhoado nas 

teias, de outras ultrapassando o banal, alcançando laivos de

génio, mas sempre persistindo confiante nas qualidades do 

Homem que sempre via propenso à Bondade –

“estrela de ímpar brilho” que afinal soube ser.

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