MARTIM SOARES MORENO, um heroi luso-brasileiro esquecido
Martim Soares Moreno, outro heroi luso-brasileiro quase ignorado, contemporâneo de outros dois: o Padre António Vieira e Pedro Teixeira (o desbravador e conquistador da Amazónia), sobre os quais já publiquei textos anteriormente, aos quais se pode acrescentar Salvador Correia de Sá e Benevides.
O Prof. Abreu Freire lançou um novo livro. Trata-se de “O ROTEIRO DE MARTIM SOARES MORENO (ed. Debat Evolution, 2013, 192 páginas, com dois cadernos de ilustrações a cores). Conta a história de meio século de lutas pela restauração do Brasil, entre 1604 e 1654. Os franceses instalaram-se desde a Paraíba até ao Maranhão, depois de expulsos do Rio de Janeiro e os holandeses chegaram a ocupar metade da costa brasileira, onde controlavam a produção e o comércio do açúcar. Martim Soares Moreno chegou ao Brasil muito jovem e participou em todas as lutas contra franceses e holandeses; natural de Santiago do Cacém, faleceu na sua terra natal, depois de ter servido como militar desde a Bahia até ao Maranhão, durante 45 anos.
Ele foi um dos grandes heróis da recuperação do Brasil para o domínio português. Combateu intrusos e corsários, em terra como no oceano, desfigurado e com uma mão decepada desde os 30 anos; faz parte da lenda, da tradição e da literatura, sobretudo no Ceará, capitania por ele fundada e onde é venerado. Um dos mais belos romances da literatura luso-brasileira intitula-se IRACEMA, da autoria de José de Alencar (1829-1877): o romance narra a história de um guerreiro português que se enamora da filha de um chefe índio com quem tem um filho e é uma metáfora da miscigenação própria à nação brasileira. A ficção de Alencar é decalcada sobre a vida real do militar cuja história verdadeira é narrada no livro do professor Abreu Freire.
O texto agora publicado resulta de investigações levadas a cabo durante muitos anos, já que a vida do militar se cruza em diversos momentos com a do padre António Vieira, a quem o autor dedicou vários livros e um filme. Martim comandava um batalhão de tropas acantonadas na Bahia pelos anos de 1638 a 1645, antes da investida decisiva contra os holandeses; por esses anos o jesuíta pregava os primeiros sermões patrióticos para animar os soldados. Mais tarde o pregador foi incumbido de resolver na Holanda, pela via diplomática, a questão da presença holandesa no Brasil, sem sucesso, enquanto os soldados a quem ele pregara em Salvador da Bahia conseguiam derrotar os ocupantes em Pernambuco; em Agosto de 1648, o jesuíta regressava a Lisboa e o militar também: o padre tinha fracassado, o militar chegava como vencedor de uma grande batalha, mas faleceu pouco tempo depois.
Os contornos da luta pela restauração do Brasil são complexos e foram muitos os intervenientes na criação da nação brasileira; Martim Soares Moreno falava a língua Tupi e comandou por várias vezes batalhões de tropas indígenas. Na guerra pela restauração e unidade do Brasil combateram negros, índios e brancos, com interesses diferentes mas uma escolha comum que foi a de continuar a existir sob influência portuguesa. Este livro é a primeira biografia completa escrita em Portugal sobre um dos personagens fundamentais na formação de um dos países mais promissores do mundo, onde hoje vivem 194 milhões de pessoas.
(Transcrito, com a devida vénia, do “Portugal sem Passaporte”, de 20.08.2013, do jornalista Graciano Coutinho, emigrado em Fortaleza-Brasil)
Colaborador Jorge da Paz
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