31 de dezembro de 2014

A criança tem de ser sempre o futuro do mundo. Cuidemos dela. Bem haja 2015!

Holograma, de Artur Alonso Novelhe



O corpo atenua a dor,
certamente
mesmo assim temos chegado a um ponto de dano irreversível.
Tu admiras um rosto na fotografia,
ela luta, pela contra, contra a glória longe de seu país
sonhando sua morte com honorável virtude
e, aureamente,
os anciãos nahuatl bailam na lua que reflete o jasmim
aguardando extrair seu êxtase.
O corpo atenua a dor,
bebendo sonhamos ser livres,
e
o fuzil semeia medo sobre um temor
da verdade ser, em verdade, um impossível.
Mulheres humildes do povo Yazadi caminham descalças
sem tempo a reparar
que para migrar cumes gelados deverão atravessar
acima da fronteira invisível – arames farpados, e
os meninos fogem quando o homem pergunta no hospital
pelas câmaras onde acumulam –sem nome- valiosos vultos:
barrigas, pernas, orelhas e demais,
que ainda ontem se ouviram pronunciando devagar
no passeio flores, com borboletas, e árvores de natal,
em dias ativos, o frio invernal solstício.
Agora as casas são de cinza, colmo e algum lençol,
com presépios improvisados em forma de aparentar
vidas cheias de falsas denúncias.
Lamento.
Estai atentos, o corpo aguenta,
o cérebro não
e o espírito esta a mudar à alma
pela cobiçosa despesa.
Depressa, depressa! Alguém acaba de transpassar
A vala que divide o Norte da pobreza!

30 de dezembro de 2014

2014 O ANO DA VIRAGEM PARA O INCERTO - UM ANO DE CRISES MÚLTIPLAS

Guerra na Europa - Terrorismo do Estado Islâmico pior que o Nazismo
António Justo
Se passarmos em revisão o ano 2014 notaremos que foi 
um ano de surpresas e mudança. A guerra também voltou à Europa.
Neste centenário da primeira guerra mundial com 18 milhões de 
mortos dá-se início aos vícios do século XX: Kiev, Krim, o inferno da 
Síria e do Iraque são o melhor exemplo disso e preparam uma nova 
era também na cena política internacional. Países fronteiriços da 
Rússia revelam-se como palco para motejo entre a Rússia e o Ocidente.
No Iraque e na Síria instala-se um estado de terror ainda pior que 
os de Hitler e de Estaline.Fenómeno novo preocupante e indicativo 
da globalização do terrorismo revela-se o facto de os terroristas 
islâmicos serem recrutados também das cidades de Estados de 
direito como a UE.
A Turquia (membro da nato) torna-se mais islamista e dá cobertura 
ao terrorismo sunita na Síria e no Iraque, a que os curdos resistem 
com a esperança de a História lhes vir a fazer justiça e lhes 
reconhecer posteriormente o direito à sua nacionalidade, ao estado 
do Curdistão. (Este será o próximo conflito!). A política internacional 
aceita a destruição de um estado antes multicultural como era a Síria, 
e em conivência com a facção muçulmana sunita (turca e saudita) 
contra a facção xiita (iraniana) aceita dividir a região em território 
sunita e xiita deixando também o problema do Curdistão para as 
calendas gregas. O ocidente apenas reage mas sem um conceito 
integral; a liga árabe não está interessada em consenso. A ONU 
reflecte a divisão dos estados e dos interesses.
A Alemanha prefere dedicar-se ao negócio económico e falar 
da solidariedade dos outros países europeus no que toca 
à distribuição dos refugiados. Entretanto cresce na Alemanha o 
desejo de participar mais activamente nas intervenções 
militares de conflitos mundiais. Isto significará o acréscimo de 
poder também militar não só da Alemanha mas também da Europa. 
Em 2014 cria-se a necessidade de intensificar o armamento. 
A Alemanha inicia uma nova política e a NATO forma uma nova 
tropa de reacção; a polícia e os serviços secretos de informação 
preparam-se para piores tempos ao constatar o terrorismo 
extra e intra muros. Por isso a Alemanha cala os casos de 
espionagem dos EUA na Europa.
O apoio russo aos separatistas do leste da Ucrânia (invasão) 
e a sua anexação da ilha krim na Rússia criam uma nova 
situação na Europa. A Ucrânia que tinha entregado as armas 
nucleares à Rússia em 1994 pensava, com isso, adquirir a 
sua independência e integridade territorial. A Rússia 
sente-se ferida nos seus interesses fronteiriços com a NATO 
e parece encetar um caminho imprevisível.
Sansões contra a Rússia provocaram uma crise económica 
na Rússia com consequências negativas também para a economia 
ocidental.
Putin considera a queda da União Soviética como “a maior 
catástrofe geopolítica do século XX”. Não aceita que as fronteiras 
da NATO se tornem as fronteiras da Rússia, o que vai levar a NATO 
à corrida às armas. Um caso bicudo de resolver também 
devido à falta de entendimento entre os países europeus. 
Os EUA espionam os amigos, porque consideram prioritários os 
interesses políticos, económicos e de defesa. A crise da UE vai-se 
arrastando.
Milhares de refugiados da guerra e da miséria morrem no 
mediterrâneo e muitos milhares encontram refúgio entre nós.
A sociedade não se encontra preparada sequer para 
reconhecer os perigos e conflitos que ela mesma anda 
a chocar. Tem medo de imaginar e analisar cenários 
possíveis porque muita da nossa inteligência política foi 
formada numa mentalidade polar ou da guerra fria.
Os cristãos tornaram-se nas maiores vítimas da modernidade; 
em cada cinco minutos que passam é morto um cristão. Hoje 
tornou-se moda atacar os cristãos. Até quando surge um 
comentário sobre o terrorismo árabe logo surge uma 
resposta desculpante ou desviadora do assunto para canto, 
com o argumento de que os cristãos também já perseguiram 
com a inquisição ou caça às bruxas. 400 milhões de cristãos 
encontram-se ameaçados e 100 milhões sofrem violência 
directa (massacres, aprisionamento, marcação das casas onde 
vivem cristãos com o nome nazareno, pagamento do imposto de 
cabeça – por cristão, como era costume durante a ocupação 
muçulmana da Península Ibérica, etc.) . As igrejas do ocidente 
não reagem porque se encontram preocupadas com problemas 
de umbigo e sob o pensar correcto que domina a imprensa e a 
política ocidental.
O Ano 2014 não será para esquecer pelas consequências das 
tragédias nele iniciadas ou acentuadas a nível internacional.
Portugal encontra-se ainda em estado de excepção dado 
estar submetido a um regime especial de poupança; a 
confiança do cidadão na política está de rastos, o combate 
à corrupção encontra muita resistência por parte de poderes 
enredados e instalados.
2015 não parece prometer muito, resta-nos a esperança.
António da Cunha Duarte Justo

29 de dezembro de 2014

28 de dezembro de 2014


Para vós desejávamos um Natal tão Santo, quanto o Amor tiverdes.E desejamos agora que todo o Amor se espalhe ao tempo e às horas do ano de 2015.


21 de dezembro de 2014

Emanuel Medeiros Vieira


“Civilizações feneceram e isso me consterna. Incas, Maias, Assírios, Fenícios, 
Babilônios, Gregos. Não os conheci. Não os conheço (…)
Que insuspeitas relações tiveram? (…) A arte são marcas de passagens.
(…) Não sei porque  escrevo, menos ainda o que isso possa significar.” (…)
(Herculano Farias)
“Nada sabemos, a não ser que há uma noite/pura e vazia à nossa espera. 
Uma noite intocável/além do fogo e do gelo, e de qualquer esperança.”
(Ledo Ivo)
E continuamos a cada dia. Tentando celebrar os momentos –  encantamentos
Sim: há soberba, cobiça, pessoas que se acham insubstituíveis, celebridades vãs. 
E depressa desaparecerão.  Mas continuamos.
Há fé (às vezes). Há sombras, pó, e esperança.
“Estás sendo pessimista”, adverte uma voz interior. Basta olhar o mundo ao redor. 
Nada de novo. É preciso manter o circo. Sempre. O cantor famoso “passou”, 
espremido como laranja. Criam-se outros. Como a loira gostosa no anúncio 
de cerveja. A insinuação subliminar dos espertos publicitários: 
“tome essa cerveja e terás a loira”.
E há os marqueteiros. Ganhando rios de dinheiro, estabeleceram o reino 
da mentira virtual. “Mas as ditaduras acabaram na América a Latina”, alguém lembra. 
E o que veio depois? Desagregação (traição, deslumbramento) de muitos sonhos 
e dos maiores valores. E as revoluções implantadas viraram sistemas totalitários. Não?
E criamos todos os dias. Será a arte que nos salvará? “Inventamos” uma realidade. 
Não a revelamos. E continuamos. Parece que já existem mais escritores que leitores. 
Toneladas de opiniões (nos jornais, no mundo virtual) não saciam. 
Pois a incompletude é a nossa sagrada e irreversível marca. Como em
 tantos momentos, talvez saibamos mais o que não queremos do que aquilo que queremos.
A cura é a morte do desejo? Civilizações morreram.
Ando por Pompéia, está frio, e penso em todos que por aqui andaram, 
em todos os pés que aqui pisaram.
Penso o mesmo no Pelourinho – “ouvindo” o gemido dos escravos. 
Mas a agitação dos turistas com suas máquinas fotográficas e celulares, 
é mais forte do que as minhas reflexões. E meninos cheiram crack e assaltam.
O desejo é registrar tudo. Tudo. Mas somos meros fragmentos de outros fragmentos.
Há mais motivos para beber do que para não beber – eu sei.
Mas – ainda mais moralista na maturidade – creio que é melhor não beber. 
Sim: pela vida (perdoem o lugar-comum.). Mas tal opção é absolutamente subjetiva, 
e prefiro ouvir um Canto Gregoriano nesta capelinha do que os berros e gritos em um culto, 
garantindo que Cristo voltará (e se deres mais dinheiro, ele chegará mais rápido).
É outra manhã. Sim, sonhávamos refundar o mundo, e a alegria não-napoleônica de uma
criança mexendo numa máquina de escrever – estranhando –, e um pássaro cantando é
maior que isso. Mas, é claro, também passaremos e bem mais rápido que as civilizações. 
Mas – mal rompendo a aurora – estarás aqui de novo, seguindo o ofício, não buscando álibis. 
E continuarás, até o dia em que escutarás um assobio e irás – sereno – atravessar a ponte.
(Brasília, janeiro de 2014)