27 de setembro de 2011

Revista Identidades



Para visualizar em Tela Cheia, clique no ícone "quadrado" no canto superior direito do ecrã acima.

16 de setembro de 2011

Os Portugueses e os Índios Brasileiros

Convém desfazer equívocos

Embora compreenda o fim de um documentário sobre os Índios brasileiros e da necessidade da sua defesa e preservação, que me foi enviado como anexo num e-mail, o mesmo começa por imputar atrocidades aos portugueses, que jamais foram cometidas, resolvi escrever este texto, para melhor esclarecimento, por suspeitar que o mesmo foi concebido por um brasileiro mal informado ou anti-português.
Na verdade, desde os primeiros contatos que os portugueses sempre se deram bem com os índios e a política da miscigenação teve também lugar, como era então a grande "arma", pois, por os portugueses serem poucos, a política era a da "mistura" para mais rapidamente se estabelecerem laços de amizade (diz-se até a brincar que Deus criou o branco, o preto, o índio e o amarelo e os portugueses criaram os mestiços, no Brasil, na África e na Índia).
Claro que houve abusos e até colonos que chegaram a escravizar índios, mas isso nunca foi avante, por obra e graça principalmente dos Jesuítas, que a tanto se opuseram e o denunciaram aos reis de Portugal. Destaque para a notável ação de três deles, a partir de 1630: Pe. António Vieira, Pe. Manuel da Nóbrega e o Pe. José Anchieta. O primeiro, para além de outras ações de que D. João IV o encarregou, foi distinguido pelos Índios com o Título de "Paiaçu", que significa "pai grande". Todos eles se distinguiram na chamada pregação, mas o seu grande legado foram os colégios, criando as raízes do sistema de ensino no Brasil.
As mortandades que na verdade se verificaram entre várias tribos de Índios brasileiros, nada tiveram a ver com assassínios, mas sim com doenças, que facilmente se propagavam, tipo peste, visto os Índios não terem auto-defesas, nem sequer face a uma simples constipação (novidade para eles) e que contraíam ou eram contaminados pelos portugueses, mas isso não foi por maldade.
Na verdade, trabalhar não faz parte da cultura dos Índios, que agradecem à natureza, que lhes dá tudo o que eles precisam, segundo o seu entendimento milenar. Daí os portugueses terem caído na asneira de copiar outros e de levar negros de África para trabalharem como escravos. Isso sim é que é criticável.
Transcrevo a seguir um texto de brasileiro amigo, que reflecte precisamente essas boas relações, respeitante a um grande chefe índio, chamado ARARIBÓIA
“Maracajaguaçu, o Índio Gato Bravo Grande, cuja aldeia se localizava na Ilha de Paranapuã, atual Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, teve dois filhos: Mamenoaçu e Araribóia (Cobra da Tempestade ou Cobra Feroz).
A conquista do território brasileiro por Portugal deve muito a um grande e valoroso índio, filho de Maracajaguaçu: Araribóia. Este cacique esteve entre os principais artífices da expulsão dos invasores franceses do Brasil. Recrutado por Estácio de Sá, organizou seus guerreiros temiminós e colocou para correr o inimigo, que já se perpetuava na baía de Guanabara havia mais de uma década. Agradecido, o rei Dom Sebastião cobriu Araribóia de honrarias: deu-lhe o título de Cavaleiro da Ordem de Cristo, nomeou-o capitão e tornou-o proprietário de uma grande sesmaria em Niterói. Araribóia foi batizado pelos portugueses de Martim Afonso de Souza.”
Este Índio tem uma estátua no Rio de Janeiro. Tal como ele muitos outros sempre nos ajudaram contra os espanhóis, franceses e holandeses, em várias épocas.
Outro português que ainda hoje é lembrado e autenticamente venerado pelos Índios é PEDRO TEIXEIRA, a quem o Brasil devia há muito ter erigido uma das suas maiores estátuas, pois se a Amazónia faz hoje parte do Brasil (50% do território brasileiro), a ele e aos seus aliados Índios o deve.
Pedro Teixeira, natural de Cantanhede, onde tem a única estátua que eu conheço, era em 1639 um jovem Alferes do Exército Português. Fez amizades com várias tribos Índias e aprendeu as suas línguas, entre elas Tupi e Guarani. Foi incumbido de explorar o rio Amazonas. Reuniu cerca de 2000 famílias Índias e só com 70 portugueses desbravou toda a Amazónia, deixando marcas ou padrões e grupos de Índios. Chegou até Lima, no Perú, mas teve de voltar para trás, pois já lá estavam os Espanhois instalados. Morreu ainda jovem e está sepultado na catedral de Belém do Pará, onde a sua sepultura ainda hoje é visitada pelos Índios, que o cognominaram para sempre de "Curiá-Catu", que significa: "homem branco bom e amigo".
Ainda há meses ao ver uma reportagem sobre terras da Amazónia que os madeireiros querem tirar aos Índios, estes, em "pé de guerra" diziam - e bem - mais ou menos o seguinte: "Fora daqui! Estas terras são nossas, pois foram dadas aos nossos avós pelo Rei de Portugal!" E eu chorei e ri ao mesmo tempo.
Pelo que antecede e não só, é manifesto que os Portugueses sempre se deram bem com os índios brasileiros e o que fizeram depois da independência (1822) aos Índios não é da responsabilidade dos portugueses, mas sim dos brasileiros.
Jorge da Paz Rodrigues

14 de setembro de 2011

CAS em reflexão

O Barulho da Carroça

Certa manhã meu pai, muito sábio, convidou-me a dar um passeio no bosque.

Ele se deteve numa clareira e, depois de um pequeno silêncio, me perguntou:

-- Além do cantar dos pássaros, você está ouvindo mais alguma coisa?

Apurei os ouvidos alguns segundos e respondi:

-- Estou ouvindo um barulho de carroça.

Isso mesmo, disse meu pai. É uma carroça vazia.

Perguntei-lhe:

-- Como pode saber que a carroça está vazia, se ainda não a vimos?

-- Ora, respondeu meu pai, é muito fácil saber que uma carroça está vazia por causa do barulho. Quanto mais vazia a carroça, maior é o barulho que faz!

Tornei-me adulto e, até hoje, quando vejo uma pessoa falando demais, gritando (no sentido de intimidar), tratando o próximo com grossura inoportuna, prepotência, interrompendo a conversa de todo mundo e querendo demonstrar que é a dona da razão e da verdade absoluta, ou sentindo-se melhor que as outras, marrenta, orgulhosa, tenho a impressão de ouvir o meu pai dizendo:

“Quanto mais vazia a carroça, mais barulho ela faz!”


10 de setembro de 2011

Viagem a Portugal: A crise não abalou a beleza nem a gentileza


(Mafra) A crise não abalou a beleza nem a gentileza. Estar em Portugal é estar em família, é plenitude, é resgatar raízes e submissão a um contínuo aprendizado.
Em viagem a Portugal, Saramago desvenda um país belo e profundo. Guardando tradições seculares, Portugal se impôs ao mundo, singrou mares, desbravou terras. Com muita garra e determinação fez-se cultura e civilização.
Nos últimos anos acompanhamos grandes mudanças no modo de vida português. Desta vez, inspirado em Saramago, buscamos um Portugal profundo com suas preciosas aldeias talhadas em pedra que acumulam tempos memoriais.
Dos blocos brutos aos refinados recortes a paisagem encanta e toca. Optamos por estradas sinuosas e renovamos nossos laços com a terra e com o povo numa junção de corpo e alma, um único destino que só os que sentem a alma lusitana conseguem compreender.
Paisagens repletas de história, expõem diferentes tempos do trabalho, do lazer, da vida. Em vários momentos a ideia de plenitude, de perfeição. Tudo em seu devido lugar, independente de simetria, um arranjo perfeito.
Os portugueses são hábeis na arte de construir, de fazer, de compor. As curvas e as retas se completam. Os ângulos adquirem um sentido estético extraordinário. Uma sucessão de aldeias e vilas mostram um urbanismo refinado, sem grife, sem marcas visíveis de academicismo. As rochas dominadas por mãos calejadas adquirem formas variadas e belas. Os jardins, numa profusão de cores completam a composição.
A crise econômica europeia pega Portugal e maltrata por demais seu povo. A melancolia, típica manifestação lusitana, transforma-se em fados chorosos, lindos, mesmo que pura expressão de perda e dor. Esse povo forte, bravos heróis do mar, acostumou-se aos desafios. Intrépido e valente cruzou fronteiras e com trabalho árduo garante sua dignidade.
A crise não abalou a beleza nem a gentileza. Estar em Portugal é estar em família, é plenitude, é resgatar raízes e submissão a um contínuo aprendizado.
Portugal certamente se reinventará e saberá prosseguir em sua viagem trilhando os passos de Camões, de Fernando Pessoa, Eça de Queiróz, de Mário de Sá Carneiro, de Boaventura de Souza, de Miguel Torga, de Álvaro Sisa, de Amália Rodrigues, de Grão Vasco, de Florbela Spanca. Terá sempre a companhia de Saramago em sua eterna viagem a Portugal.
José Borzacchiello da Silva - Geógrafo e professor da UFC

8 de setembro de 2011

poétiCAS

Poesia na árvore

Eu prefiro frases feitas...
Lê-las, e pensar que são minhas!
Dizer: Eu te amo...
Usando velhos clichês
Finjo ser poeta
Às vezes contista...
Uso velhos clichés
‘’Porque dizer eu te amo...
Não é dizer bom dia!’’
Escuto velhas músicas!
E chego a pensar que a dor é minha.
Mas não é!!!
Penso em ser prosador...
Para voltar para a minha infância...
Aonde corro e corro de novo...
Corro entre becos e vielas...
...de braços abertos!
Finjo ser poeta...
...na pós-modernidade!
A ignorar regras, rimas e métricas...
A desdenhar de antigas elegias!
Todas as velhas fórmulas prontas e acabadas.
Velhas formas de amar musas intocadas...
Finjo ser versejador...
Nos tempos modernos!
E em meus versos!
Sinto que não fosses embora...
Estas perdida...entre os meus versos...
Mais profanos...
Finjo...que não te perdi para sempre,
Às vezes leio velhas poesias.
Mas, só às vezes...
E penso que são meus...
Aqueles idílios de saudade...
Eu gostaria ser um poeta.
Para pensar que não te perdi para sempre...
Imortalizar-te-ia em meus versos!
Às vezes penso ser poeta!
Na pós-modernidade!
A usar velhos clichés!
E digo: ’’Dizer te amo...não é dizer bom dia
Samuel Costa é poeta em Itajaí SC

3 de setembro de 2011

FREI BETTO: Apenas observando

Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos e em paz nos seus mantos cor de açafrão.
Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam.
Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir: "Qual dos dois modelos produz felicidade?"
Estamos construindo super-homens e super mulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados.
Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias!
Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito.
Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: "Como estava o defunto?". "Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!"
A publicidade não consegue vender felicidade, então passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: "Se tomar este refrigerante, vestir este tênis, usar esta camisa, comprar este carro,você chega lá!"
O grande desafio é começar a ver o quanto é bom ser livre de todo o condicionamento.
Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, constrói-se um shopping-center. É curioso: a maioria dos shoppings-centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingo. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...
Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista.
Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas.
Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Deve-se passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do Mc Donald...
Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: "Estou apenas fazendo um passeio socrático". Diante de seus olhares espantados, explico: "Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: "Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz !"
FREI BETTO