Convém desfazer equívocos
Embora compreenda o fim de um documentário sobre os Índios brasileiros e da necessidade da sua defesa e preservação, que me foi enviado como anexo num e-mail, o mesmo começa por imputar atrocidades aos portugueses, que jamais foram cometidas, resolvi escrever este texto, para melhor esclarecimento, por suspeitar que o mesmo foi concebido por um brasileiro mal informado ou anti-português.
Na verdade, desde os primeiros contatos que os portugueses sempre se deram bem com os índios e a política da miscigenação teve também lugar, como era então a grande "arma", pois, por os portugueses serem poucos, a política era a da "mistura" para mais rapidamente se estabelecerem laços de amizade (diz-se até a brincar que Deus criou o branco, o preto, o índio e o amarelo e os portugueses criaram os mestiços, no Brasil, na África e na Índia).
Claro que houve abusos e até colonos que chegaram a escravizar índios, mas isso nunca foi avante, por obra e graça principalmente dos Jesuítas, que a tanto se opuseram e o denunciaram aos reis de Portugal. Destaque para a notável ação de três deles, a partir de 1630: Pe. António Vieira, Pe. Manuel da Nóbrega e o Pe. José Anchieta. O primeiro, para além de outras ações de que D. João IV o encarregou, foi distinguido pelos Índios com o Título de "Paiaçu", que significa "pai grande". Todos eles se distinguiram na chamada pregação, mas o seu grande legado foram os colégios, criando as raízes do sistema de ensino no Brasil.
As mortandades que na verdade se verificaram entre várias tribos de Índios brasileiros, nada tiveram a ver com assassínios, mas sim com doenças, que facilmente se propagavam, tipo peste, visto os Índios não terem auto-defesas, nem sequer face a uma simples constipação (novidade para eles) e que contraíam ou eram contaminados pelos portugueses, mas isso não foi por maldade.
Na verdade, trabalhar não faz parte da cultura dos Índios, que agradecem à natureza, que lhes dá tudo o que eles precisam, segundo o seu entendimento milenar. Daí os portugueses terem caído na asneira de copiar outros e de levar negros de África para trabalharem como escravos. Isso sim é que é criticável.
Transcrevo a seguir um texto de brasileiro amigo, que reflecte precisamente essas boas relações, respeitante a um grande chefe índio, chamado ARARIBÓIA
“Maracajaguaçu, o Índio Gato Bravo Grande, cuja aldeia se localizava na Ilha de Paranapuã, atual Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, teve dois filhos: Mamenoaçu e Araribóia (Cobra da Tempestade ou Cobra Feroz).
A conquista do território brasileiro por Portugal deve muito a um grande e valoroso índio, filho de Maracajaguaçu: Araribóia. Este cacique esteve entre os principais artífices da expulsão dos invasores franceses do Brasil. Recrutado por Estácio de Sá, organizou seus guerreiros temiminós e colocou para correr o inimigo, que já se perpetuava na baía de Guanabara havia mais de uma década. Agradecido, o rei Dom Sebastião cobriu Araribóia de honrarias: deu-lhe o título de Cavaleiro da Ordem de Cristo, nomeou-o capitão e tornou-o proprietário de uma grande sesmaria em Niterói. Araribóia foi batizado pelos portugueses de Martim Afonso de Souza.”
Este Índio tem uma estátua no Rio de Janeiro. Tal como ele muitos outros sempre nos ajudaram contra os espanhóis, franceses e holandeses, em várias épocas.
Outro português que ainda hoje é lembrado e autenticamente venerado pelos Índios é PEDRO TEIXEIRA, a quem o Brasil devia há muito ter erigido uma das suas maiores estátuas, pois se a Amazónia faz hoje parte do Brasil (50% do território brasileiro), a ele e aos seus aliados Índios o deve.
Pedro Teixeira, natural de Cantanhede, onde tem a única estátua que eu conheço, era em 1639 um jovem Alferes do Exército Português. Fez amizades com várias tribos Índias e aprendeu as suas línguas, entre elas Tupi e Guarani. Foi incumbido de explorar o rio Amazonas. Reuniu cerca de 2000 famílias Índias e só com 70 portugueses desbravou toda a Amazónia, deixando marcas ou padrões e grupos de Índios. Chegou até Lima, no Perú, mas teve de voltar para trás, pois já lá estavam os Espanhois instalados. Morreu ainda jovem e está sepultado na catedral de Belém do Pará, onde a sua sepultura ainda hoje é visitada pelos Índios, que o cognominaram para sempre de "Curiá-Catu", que significa: "homem branco bom e amigo".
Ainda há meses ao ver uma reportagem sobre terras da Amazónia que os madeireiros querem tirar aos Índios, estes, em "pé de guerra" diziam - e bem - mais ou menos o seguinte: "Fora daqui! Estas terras são nossas, pois foram dadas aos nossos avós pelo Rei de Portugal!" E eu chorei e ri ao mesmo tempo.
Pelo que antecede e não só, é manifesto que os Portugueses sempre se deram bem com os índios brasileiros e o que fizeram depois da independência (1822) aos Índios não é da responsabilidade dos portugueses, mas sim dos brasileiros.
Jorge da Paz Rodrigues
Embora compreenda o fim de um documentário sobre os Índios brasileiros e da necessidade da sua defesa e preservação, que me foi enviado como anexo num e-mail, o mesmo começa por imputar atrocidades aos portugueses, que jamais foram cometidas, resolvi escrever este texto, para melhor esclarecimento, por suspeitar que o mesmo foi concebido por um brasileiro mal informado ou anti-português.
Na verdade, desde os primeiros contatos que os portugueses sempre se deram bem com os índios e a política da miscigenação teve também lugar, como era então a grande "arma", pois, por os portugueses serem poucos, a política era a da "mistura" para mais rapidamente se estabelecerem laços de amizade (diz-se até a brincar que Deus criou o branco, o preto, o índio e o amarelo e os portugueses criaram os mestiços, no Brasil, na África e na Índia).
Claro que houve abusos e até colonos que chegaram a escravizar índios, mas isso nunca foi avante, por obra e graça principalmente dos Jesuítas, que a tanto se opuseram e o denunciaram aos reis de Portugal. Destaque para a notável ação de três deles, a partir de 1630: Pe. António Vieira, Pe. Manuel da Nóbrega e o Pe. José Anchieta. O primeiro, para além de outras ações de que D. João IV o encarregou, foi distinguido pelos Índios com o Título de "Paiaçu", que significa "pai grande". Todos eles se distinguiram na chamada pregação, mas o seu grande legado foram os colégios, criando as raízes do sistema de ensino no Brasil.
As mortandades que na verdade se verificaram entre várias tribos de Índios brasileiros, nada tiveram a ver com assassínios, mas sim com doenças, que facilmente se propagavam, tipo peste, visto os Índios não terem auto-defesas, nem sequer face a uma simples constipação (novidade para eles) e que contraíam ou eram contaminados pelos portugueses, mas isso não foi por maldade.
Na verdade, trabalhar não faz parte da cultura dos Índios, que agradecem à natureza, que lhes dá tudo o que eles precisam, segundo o seu entendimento milenar. Daí os portugueses terem caído na asneira de copiar outros e de levar negros de África para trabalharem como escravos. Isso sim é que é criticável.
Transcrevo a seguir um texto de brasileiro amigo, que reflecte precisamente essas boas relações, respeitante a um grande chefe índio, chamado ARARIBÓIA
“Maracajaguaçu, o Índio Gato Bravo Grande, cuja aldeia se localizava na Ilha de Paranapuã, atual Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, teve dois filhos: Mamenoaçu e Araribóia (Cobra da Tempestade ou Cobra Feroz).
A conquista do território brasileiro por Portugal deve muito a um grande e valoroso índio, filho de Maracajaguaçu: Araribóia. Este cacique esteve entre os principais artífices da expulsão dos invasores franceses do Brasil. Recrutado por Estácio de Sá, organizou seus guerreiros temiminós e colocou para correr o inimigo, que já se perpetuava na baía de Guanabara havia mais de uma década. Agradecido, o rei Dom Sebastião cobriu Araribóia de honrarias: deu-lhe o título de Cavaleiro da Ordem de Cristo, nomeou-o capitão e tornou-o proprietário de uma grande sesmaria em Niterói. Araribóia foi batizado pelos portugueses de Martim Afonso de Souza.”
Este Índio tem uma estátua no Rio de Janeiro. Tal como ele muitos outros sempre nos ajudaram contra os espanhóis, franceses e holandeses, em várias épocas.
Outro português que ainda hoje é lembrado e autenticamente venerado pelos Índios é PEDRO TEIXEIRA, a quem o Brasil devia há muito ter erigido uma das suas maiores estátuas, pois se a Amazónia faz hoje parte do Brasil (50% do território brasileiro), a ele e aos seus aliados Índios o deve.
Pedro Teixeira, natural de Cantanhede, onde tem a única estátua que eu conheço, era em 1639 um jovem Alferes do Exército Português. Fez amizades com várias tribos Índias e aprendeu as suas línguas, entre elas Tupi e Guarani. Foi incumbido de explorar o rio Amazonas. Reuniu cerca de 2000 famílias Índias e só com 70 portugueses desbravou toda a Amazónia, deixando marcas ou padrões e grupos de Índios. Chegou até Lima, no Perú, mas teve de voltar para trás, pois já lá estavam os Espanhois instalados. Morreu ainda jovem e está sepultado na catedral de Belém do Pará, onde a sua sepultura ainda hoje é visitada pelos Índios, que o cognominaram para sempre de "Curiá-Catu", que significa: "homem branco bom e amigo".
Ainda há meses ao ver uma reportagem sobre terras da Amazónia que os madeireiros querem tirar aos Índios, estes, em "pé de guerra" diziam - e bem - mais ou menos o seguinte: "Fora daqui! Estas terras são nossas, pois foram dadas aos nossos avós pelo Rei de Portugal!" E eu chorei e ri ao mesmo tempo.
Pelo que antecede e não só, é manifesto que os Portugueses sempre se deram bem com os índios brasileiros e o que fizeram depois da independência (1822) aos Índios não é da responsabilidade dos portugueses, mas sim dos brasileiros.
Jorge da Paz Rodrigues
2 comentários:
Antes de mais, apraz-me felicitar a excelente postagem do Dr. Jorge da Paz Rodrigues, que, de forma pedagógica, inteligente e transparente, nos dá conta da presença e acção dos Portugueses no Brasil, dissertando sobre factos reais.
Importa, também, relevar as palavras do ex-Presidente da República do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, quando um dia, num evento público, exortou os historiadores brasileiros a reescreverem a História do Brasil.
Algo está mal e incorrecto, porque a História do Brasil não relata com fidelidade e isenção a acção dos portugueses em Terras de Santa Maria.
O Dr. Jorge da Paz Rodrigues, ilustre Magistrado português, jubilado, representa uma geração mais jovem, que esteve na base dos acontecimentos de 25 de Abril de 1974, dia da Revolução dos Cravos, que devolveu as Liberdades públicas aos portugueses e instaurou a Democracia, consubstanciada num Estado de Direito Democrático. Assim como, importa sublinhar que o Brasil, quase no final do seu período de ditadura, foi a primeira Nação, a nível mundial, a reconhecer o novo regime político que acabava de ser instaurado em Portugal!
Pessoalmente, foi uma felicidade, também, encontrar, neste espaço, o Dr. Jorge da Paz Rodrigues - a "Casa de Agostinho da Silva", um Homem que tive o privilégio de conhecer e com ele conviver quando ainda em Portugal, sendo, hoje, considerado o maior filólogo da Língua Portuguesa. Mais ainda, por ter colaborado no Projecto da construção da Comunidade Portuguesa, a convite do Professor Darcy Ribeiro, da UnB - Universidade de Brasília.
Naquela época, em 1961, liderados pelo Professore Darcy Ribeiro, os Professores Agostinho da Silva, Eduardo Tropa e José Aparecido de Oliveira, com o apoio de Jorge Amado, fundaram o Instituto Brasileiro de Estudos Afro-Asiáticos. A ideia e a convicção de se criar uma Comunidade Portuguesa, que reunisse todos os que falam a Língua Portuguesa, ganhou força e conteúdo no convívio com Agostinho da Silva, o que demonstra bem a vocação Humanista e Homem de grande cultura e sabedoria!
Lado a lado, quer o Dr. Jorge da Paz Rodrigues quer eu próprio, caminhamos, na direcção de dar a conhecer ao Mundo, particularmente o Lusófono, quem foi um outro português, hoje, considerado o maior Humanista do Século XX, que foi Cônsul-Geral de Portugal em Bordéus, Aristides de Sousa Mendes, já homenageado em São Paulo e em Fortaleza, pela Comunidade Judaica, pela sua acção humanista, em plena II Guerra Mundial, tendo salvo das garras das tropas nazis e do Holocausto mais de 30 mil vidas, das quais mais de 10 mil eram judeus.
Assim como, ainda, hoje, ecoam no auditório do Instituto Camões, da Embaixada de Portugal em Brasília, as suas palavras proferidas no decorrer de uma brilhante palestra em Homenagem a Aristides de Sousa Mendes, promovida pela Casa de Agostinho da Silva.
Ainda, hoje, recordo com saudade as palavras do Grande Mestre de Língua Portuguesa e Jornalista, Austregésilo de Athayde, que foi presidente da ABL - Academia Brasileira de Letras e co-autor da Declaração Universal dos Direitos do Homem, quando, com alguma frequência, me dizia: " Nós, brasileiros e portugueses, devemos ter a límpida consciência de que somos, no ponto de vista político internacional, uma entidade à parte!"
Para concluir este comentário, diria, apenas, que o Dr. Jorge da Paz Rodrigues é o Homem certo no momento certo, para dar uma mão de ajuda, competente, honesta e desinteressada, ao desenvolvimento e intensificação das relações bilaterais entre Portugal e o Brasil.
Bem-vindo ao Brasil, que muito espera de si e da sua dedicação!
Paulo M. A. Martins
___________________________________
Jornalista
e Conselheiro da Fundação Aristides de Sousa Mendes
Parabéns à Casa Agostinho da Silva, pela publicação do lúcido, eloquente e bem informado artigo de Jorge da Paz Rodrigues. Bem lembrado o esquecimento de Pedro Teixeira, um dos maiores heróis nacionais, ao lado de Raposo Tavares e de outros personagens monumentais, de nível mundial.Parabéns também ao esclarecido comentário de Pedro Martins. É esse nível de manifestações que eleva nosso País e mostra a que vem a CAS. Como leitor lhes digo o meu muito obrigado. Há mais luz no fim do túnel do que alguns ainda pensam.
Há muita luz ainda esperando espaço para se manifestar e ao país iluminar. O país precisa mostrar a própria face. Só tem muito a ganhar.
José Jorge Peralta
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