Portugueses no Brasil alertam os novos imigrantes que podem encontrar
vários problemas na busca de oportunidades no país, sobretudo no que
diz respeito à regularização de sua situação e à burocracia pesada.
"Em Portugal, passa-se uma informação muito errada de como funciona o
mercado de trabalho no Brasil, repetem-se os mesmos chavões de que o
país é um bom mercado por excelência, mas para todos os efeitos, um
português no Brasil é um estrangeiro como qualquer outro", alerta
Marcelo Cerqueira, moderador do grupo "Novos Patrícios", que reúne
portugueses no Rio de Janeiro, na rede social Facebook.
Para o português, que está a abrir um negócio de importação de
vestuário, o maior problema para quem quer abrir uma empresa está na
morosidade do sistema brasileiro.
"Em Portugal, você cria a empresa na hora, basta apresentar os sócios,
o modelo do contrato social, e faz-se o registo. No Brasil demora uns
dois meses, se tudo correr bem, e ainda tem a figura do despachante
[profissional que faz a intermediação dos pedidos aos órgãos
públicos], o que aumenta os gastos", ressalta.
As dificuldades para conseguir um visto de trabalho estão entre as
principais reclamações, principalmente entre os jovens que fazem
intercâmbio em universidades brasileiras e querem ficar a trabalhar.
"O meu visto demorou cerca de 40 dias para sair, depois que chegou a
Brasília, fora o tempo que gastei antes. Mas dei sorte, tenho amigos
que não conseguiram, e as empresas desistiram de os contratar pela
demora", contou à Lusa o engenheiro José Queiroz, há dois anos no Rio
de Janeiro.
Para obtenção do visto de trabalho é preciso que a solicitação seja
feita pela empresa interessada, e não pelo profissional. A firma
precisa ainda explicar por que está a utilizar uma mão de obra de
fora, em detrimento da nacional.
Segundo os portugueses ouvidos pela Lusa, na maior parte dos casos, as
firmas brasileiras não estão habituadas a esse trâmite e voltam atrás
quando percebem a morosidade do processo.
"Só mesmo os grandes grupos internacionais estão preparados para
contratar estrangeiros porque já fazem isso todos os dias, já têm os
canais certos", afirma Cerqueira.
Queiroz, por sua vez, sublinha que o Brasil pode até ser o "El
Dourado" que se vende em Portugal, mas apenas para alguns setores.
"Não adianta ser formado em artes cénicas e vir para cá achando que se
vai arrumar emprego fácil. Há vagas em engenharia, mas até para outros
setores relacionados, como arquitetura, já é mais difícil", alerta.
Outra exigência para o visto de trabalho é um contrato mínimo de dois
anos, o que muitas vezes também desanima as empresas e dificulta a
vida de profissionais autónomos ou “freelancer”.
O português Pedro Silva, dono de uma empresa de incentivo à prática de
tênis no Rio de Janeiro, alerta ainda para o fato de a economia
brasileira estar começando a enfraquecer, como consequência dos
impactos da crise internacional.
"Não é preciso ser nenhum economista para perceber que um país em
crescimento como o Brasil não tem como não ser afetado pela situação
que a Europa e outros países estão a enfrentar, o país já começa a dar
sinais de fraqueza", constata.
O conselho de Silva para os portugueses que ainda pensam em tentar
oportunidades no Brasil é chegar com a mentalidade aberta, com
disposição para aprender e adaptar-se às exigências do país.
"É preciso ter humildade e vir de peito aberto, com vontade de
aprender o ‘modus operandi', não adianta chegar achando que já conhece
e sabe tudo porque fomos nós que colonizámos o país há 500 anos,
porque cada lugar tem suas regras", completa.
Lusa / SOL
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