Lixão é um depósito a céu aberto, viveiro de roedores, mosquitos e outros vetores, que lá proliferam para, depois, contaminarem animais e humanos
Carlos Cristo
No Distrito Federal, cada habitante produz 2,4kg de lixo por dia. Desses, menos de 20% são encaminhados para usinas de separação e tratamento, onde resíduos secos são separados dos úmidos, destinando-se estes últimos à compostagem. Oitenta por cento vão para o lixão da Estrutural, uma área de 196 hectares, vizinha ao Parque Nacional, e a 9km do centro urbano.
Lixão é um depósito a céu aberto, viveiro de roedores, mosquitos e outros vetores, que lá proliferam para, depois, contaminarem animais e humanos. Para o subsolo escorre o chorume, resíduo líquido e pestilento, que contamina o lençol freático. Subindo para a atmosfera, o dióxido de carbono e o metano, gazes de efeito estufa, contribuirão para o aquecimento global.
Abordei, em artigo recente, a questão da integração da cidade, postulando a convivência harmoniosa do comércio e dos serviços com a habitação. O tema deste momento é mais espinhoso: como promover a convivência da moradia com o lixo? A resposta rápida, fácil e praticada é a negação. Não existiria essa possibilidade e, portanto, como mal necessário, a disposição deve fazer-se longe das vistas e do olfato de todos, em locais afastados e não frequentados pelos grandes produtores. Essa não é apenas uma lógica nacional. Tanto para a disposição dos resíduos, quanto para o uso das matérias-primas, 20% da população mundial consome 40% da energia e das matérias-primas do planeta. A produção de resíduos mantém-se em idêntica proporção.
A pura e simples segregação espacial afasta o problema, mas está longe de eliminá-lo; ao contrário, aumenta-o perigosamente. Nesse modelo tradicional, o lixo é obrigado a circular pelas cidades, num tráfego indesejável e poluidor. A disposição nos lixões polui e os aterros sanitários, mais onerosos, mitigam, mas não eliminam as consequências, principalmente a emissão de gazes.
A questão dos resíduos deve ser tratada o mais próximo da fonte geradora possível. A primeira vantagem são os custos diretos e indiretos da logística: o transporte do lixo. A segunda é a transferência da responsabilidade para os produtores, sensibilizando-os pelos famosos 3Rs: redução, reutilização e reciclagem.
O modelo utilizado por diversos países europeus, de cobrança por peso de lixo, é uma forma de atuar sobre a redução dos resíduos, o que pode ser combinado com descontos pela separação dos recicláveis, incentivando essa prática. O incentivo à compostagem familiar deve visar, preferenciamente, as áreas de habitações isoladas, como Lago Sul, Lago Norte e Park Way.
É inaceitável colocar nas lixeiras restos de podas de árvores e arbustos ou de corte de grama, isso deveria mesmo ser proibido. O uso de composteiras nos jardins poderá absorver não só os resíduos do próprio jardim, mas da cozinha. Sistemas aeróbicos são completamente inodoros e não atraem insetos.
Já os resíduos secos e não recicláveis podem ser incinerados, por meio das WTE (waste to energy), em que o lixo é convertido em energia elétrica. Cidades como Amsterdã usam o WTE como solução geral, para toda a urbe. É lá a maior usina do gênero no planeta. Num mundo preocupado com a carência de energia, qualquer contribuição à sua produção é importante.
Em áreas de maior densidade, como no Plano Piloto, ou média, como em Ceilândia, já há usinas de tratamento de lixo, processando em torno de 600 toneladas diárias. Parte do lixo vai para compostagem e parte para cooperativas de reciclagem, atividade que emprega milhares de pessoas. Falta o processo de incineração, para o lixo seco não reciclável.
A pergunta é se o sistema proposto é aceitável economicamente. O custo direto será, certamente, mais elevado do que o atual, no qual não são apropriadas as externalidades negativas do sistema tradicional, com o deslocamento dos caminhões para um único ponto de descarte, a contaminação do solo, das águas, do ar e a propagação de doenças.
Lembro-me da forma eficaz encontrada para interromper a poluição dos grandes rios europeus, que foi a obrigatoriedade de os grandes consumidores captarem água à jusante da própria emissão dos efluentes. Olhando para esse exemplo, podemos imaginar que se o Lago Sul, o Lago Norte e o Park Way tiverem que cuidar do lixo que produzem, exportando apenas os resíduos recicláveis e já segregados, dando destino final aos resíduos orgânicos, pela compostagem, e aos secos e não recicláveis, pela incineração, teremos soluções sustentáveis e eficazes para o problema.
Lixão é um depósito a céu aberto, viveiro de roedores, mosquitos e outros vetores, que lá proliferam para, depois, contaminarem animais e humanos. Para o subsolo escorre o chorume, resíduo líquido e pestilento, que contamina o lençol freático. Subindo para a atmosfera, o dióxido de carbono e o metano, gazes de efeito estufa, contribuirão para o aquecimento global.
Abordei, em artigo recente, a questão da integração da cidade, postulando a convivência harmoniosa do comércio e dos serviços com a habitação. O tema deste momento é mais espinhoso: como promover a convivência da moradia com o lixo? A resposta rápida, fácil e praticada é a negação. Não existiria essa possibilidade e, portanto, como mal necessário, a disposição deve fazer-se longe das vistas e do olfato de todos, em locais afastados e não frequentados pelos grandes produtores. Essa não é apenas uma lógica nacional. Tanto para a disposição dos resíduos, quanto para o uso das matérias-primas, 20% da população mundial consome 40% da energia e das matérias-primas do planeta. A produção de resíduos mantém-se em idêntica proporção.
A pura e simples segregação espacial afasta o problema, mas está longe de eliminá-lo; ao contrário, aumenta-o perigosamente. Nesse modelo tradicional, o lixo é obrigado a circular pelas cidades, num tráfego indesejável e poluidor. A disposição nos lixões polui e os aterros sanitários, mais onerosos, mitigam, mas não eliminam as consequências, principalmente a emissão de gazes.
A questão dos resíduos deve ser tratada o mais próximo da fonte geradora possível. A primeira vantagem são os custos diretos e indiretos da logística: o transporte do lixo. A segunda é a transferência da responsabilidade para os produtores, sensibilizando-os pelos famosos 3Rs: redução, reutilização e reciclagem.
O modelo utilizado por diversos países europeus, de cobrança por peso de lixo, é uma forma de atuar sobre a redução dos resíduos, o que pode ser combinado com descontos pela separação dos recicláveis, incentivando essa prática. O incentivo à compostagem familiar deve visar, preferenciamente, as áreas de habitações isoladas, como Lago Sul, Lago Norte e Park Way.
É inaceitável colocar nas lixeiras restos de podas de árvores e arbustos ou de corte de grama, isso deveria mesmo ser proibido. O uso de composteiras nos jardins poderá absorver não só os resíduos do próprio jardim, mas da cozinha. Sistemas aeróbicos são completamente inodoros e não atraem insetos.
Já os resíduos secos e não recicláveis podem ser incinerados, por meio das WTE (waste to energy), em que o lixo é convertido em energia elétrica. Cidades como Amsterdã usam o WTE como solução geral, para toda a urbe. É lá a maior usina do gênero no planeta. Num mundo preocupado com a carência de energia, qualquer contribuição à sua produção é importante.
Em áreas de maior densidade, como no Plano Piloto, ou média, como em Ceilândia, já há usinas de tratamento de lixo, processando em torno de 600 toneladas diárias. Parte do lixo vai para compostagem e parte para cooperativas de reciclagem, atividade que emprega milhares de pessoas. Falta o processo de incineração, para o lixo seco não reciclável.
A pergunta é se o sistema proposto é aceitável economicamente. O custo direto será, certamente, mais elevado do que o atual, no qual não são apropriadas as externalidades negativas do sistema tradicional, com o deslocamento dos caminhões para um único ponto de descarte, a contaminação do solo, das águas, do ar e a propagação de doenças.
Lembro-me da forma eficaz encontrada para interromper a poluição dos grandes rios europeus, que foi a obrigatoriedade de os grandes consumidores captarem água à jusante da própria emissão dos efluentes. Olhando para esse exemplo, podemos imaginar que se o Lago Sul, o Lago Norte e o Park Way tiverem que cuidar do lixo que produzem, exportando apenas os resíduos recicláveis e já segregados, dando destino final aos resíduos orgânicos, pela compostagem, e aos secos e não recicláveis, pela incineração, teremos soluções sustentáveis e eficazes para o problema.
Carlos Manuel Pedroso Neves Cristo
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