28 de setembro de 2013
27 de setembro de 2013
Há factos históricos irrefutáveis, simplesmente porque aconteceram...
Intervenção do deputado António Filipe em 18 de Julho de 2008, nos 90
anos de Nelson Mandela na Assembleia da República.
"(...) aquilo que os senhores não querem que se diga, lendo os vossos
votos, é que Mandela esteve até hoje na lista de terroristas dos
Estados Unidos da América. Mas isto é verdade! É público e notório -
toda a gente o sabe!
Os senhores não querem que se diga que Nelson Mandela conduziu uma
luta armada contra o apartheid, mas isto é um facto histórico. Embora
os senhores não o digam, é a verdade, e os senhores não podem omitir a
realidade.
Os senhores não querem que se diga que, quando, em 1987, a Assembleia
Geral das Nações Unidas aprovou, com 129 votos, um apelo para a
libertação incondicional de Nelson Mandela, os três países que votaram
contra foram os Estados Unidos da América, de Reagan, a Grã-Bretanha,
de Thatcher, e o governo português, da altura.*
Isto é a realidade! Está documentado!
Não querem que se diga que, em 1986, o governo português tentou
sabotar, na União Europeia, as sanções contra o regime do apartheid.
Não querem que se diga que a imprensa de direita portuguesa titulava,
em 1985, que: «Eanes recebeu em Belém um terrorista sul-africano».
Este «terrorista» era Oliver Tambo!
São, portanto, estes embaraços que os senhores não querem que fiquem
escritos num voto.
Não querem que se diga que a derrota do apartheid não se deveu a um
gesto de boa vontade dos racistas sul-africanos mas à heróica luta do
povo sul-africano, de Mandela e à solidariedade das forças
progressistas mundiais contra aqueles que defenderam até ao fim o
regime do apartheid.(...)"
*SABEM QUEM ERA O GOVERNO PORTUGUÊS EM 1987 E QUE VOTOU CONTRA? ERA
CAVACO SILVA!
Intervenção do deputado António Filipe em 18 de Julho de 2008, nos 90
anos de Nelson Mandela na Assembleia da República.
"(...) aquilo que os senhores não querem que se diga, lendo os vossos
votos, é que Mandela esteve até hoje na lista de terroristas dos
Estados Unidos da América. Mas isto é verdade! É público e notório -
toda a gente o sabe!
Os senhores não querem que se diga que Nelson Mandela conduziu uma
luta armada contra o apartheid, mas isto é um facto histórico. Embora
os senhores não o digam, é a verdade, e os senhores não podem omitir a
realidade.
Os senhores não querem que se diga que, quando, em 1987, a Assembleia
Geral das Nações Unidas aprovou, com 129 votos, um apelo para a
libertação incondicional de Nelson Mandela, os três países que votaram
contra foram os Estados Unidos da América, de Reagan, a Grã-Bretanha,
de Thatcher, e o governo português, da altura.*
Isto é a realidade! Está documentado!
Não querem que se diga que, em 1986, o governo português tentou
sabotar, na União Europeia, as sanções contra o regime do apartheid.
Não querem que se diga que a imprensa de direita portuguesa titulava,
em 1985, que: «Eanes recebeu em Belém um terrorista sul-africano».
Este «terrorista» era Oliver Tambo!
São, portanto, estes embaraços que os senhores não querem que fiquem
escritos num voto.
Não querem que se diga que a derrota do apartheid não se deveu a um
gesto de boa vontade dos racistas sul-africanos mas à heróica luta do
povo sul-africano, de Mandela e à solidariedade das forças
progressistas mundiais contra aqueles que defenderam até ao fim o
regime do apartheid.(...)"
*SABEM QUEM ERA O GOVERNO PORTUGUÊS EM 1987 E QUE VOTOU CONTRA? ERA
CAVACO SILVA!
experiência Grameen-Danone
http://www.youtube.com/watch?
Há os que pedem subsídios, outros só refilam e há os que fazem!
26 de setembro de 2013
Língua Portuguesa como Língua de ciência e inovação – objetivo da CPLP
Em Defesa da Língua Portuguesa, Língua Portuguesa Internacional a 24 de Setembro de 2013 por ronsoar Tagged:ciência e tecnologia, CPLP, educação, Língua Portuguesa, Lisboa, Lusofonia
Lúcia Vinheiras Alves
do sítio da TV Ciência, do IICT (Portugal)
20 de setembro de 2013
do sítio da TV Ciência, do IICT (Portugal)
20 de setembro de 2013
A II Conferência Internacional sobre o Futuro da Língua Portuguesa no Sistema Mundial vai realizar-se em Lisboa nos dias 29 e 30 de outubro de 2013, com especial enfoque na utilização da Língua Portuguesa como Língua de ciência e inovação.
No programa da Conferência, agora apresentado, constam dezenas de comunicações de proeminentes académicos e estudiosos da Língua Portuguesa que irão refletir porque a Língua Portuguesa perdeu espaço como Língua de ciência.
Ivo Castro, professor da Faculdade de Letras, da Universidade de Lisboa, e membro da comissão científica da Conferência, explicou à TV Ciência que “desde o século XVI que a Língua Portuguesa é uma Língua de conhecimento e de ciência. Quando as várias Línguas principais de cultura da Europa substituíram o latim como a Língua da ciência, o português foi uma delas e tem sido sempre desde então.”
O professor acrescentou que existe “produção científica em Língua Portuguesa quer nas ciências exatas, quer no pensamento em Língua Portuguesa”, mas “agora, no tempo em que estamos, a força de outras línguas é tão grande que muitas vezes nos esquecemos do passado e do património que possuímos”.
“O sentido comum é que hoje em dia o inglês é a língua dominante e que não vale a pena fazer ciência noutra língua que não seja o inglês, e nós somos interpelados a esse respeito muitas vezes”, afirmou o especialista.
Ao colocar a Língua Portuguesa enquanto Língua de ciência na agenda académica, mas também política dos países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, Ivo Castro referiu que o objetivo não é competir com outras línguas.
“O objetivo é o de não entregar os pontos, o de defender um território, um património e uma herança”, afirmou o especialista e acrescentou que esta “é a obrigação de quem se dedica ao português. Não é o desistir do que é português, não é desistir por Portugal, mas é o de se bater pela manutenção dos nossos recursos.”
Recursos que são essenciais para a produção de ciência em Língua Portuguesa, já que “pensar ciência em português não é o mesmo que pensar ciência portuguesa noutra língua”, explicou, e referiu que “se estivermos na pele da nossa Língua, temos recursos criativos e de definição que não temos se estivermos em tradução”.
E o professor exemplificou que para muitas pessoas “é uma experiência deprimente estar numa sala em que se está a discutir um tema científico, onde, por exemplo, estão apenas portugueses e brasileiros a falar de questões científicas uns com os outros em inglês” e, “por vezes, mau inglês”. Por isso, disse, “um debate entre portugueses e brasileiros em inglês é normalmente uma experiência a não repetir”.
Mas a verdade, é que em Portugal, a comunidade científica e académica comunica quase exclusivamente em inglês.
“Os próprios autores das teses pensam, no momento em que as escrevem, que, se as escreverem em inglês, vão gozar de uma audição internacional mais fácil. São os próprios que fazem essa opção de escrever em inglês. O que em certos domínios faz sentido, noutros pode fazer menos”, referiu.
Ivo Castro disse, no entanto, que “mesmo quando faz sentido, ir ao encontro de um público mais vasto escrevendo em inglês, não podemos esquecer aquele pensamento um pouco melancólico e amargo, de que cada gesto desses é uma facada na Língua Portuguesa”.
–– Terminologias em comum para a ciência ––
Para Ana Paula Laborinho, presidente do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, há espaço na ciência para comunicar nas várias línguas, não desprezando o português.
“Não há conflito nesse sentido. Achamos que as duas coisas são conciliáveis”, afirmou a responsável, e acrescentou que, dependendo “dos nichos de ciência, compreende-se perfeitamente que também possa haver esse objetivo, que é o de chegar a públicos mais vastos, e não há uma incompatibilidade. E é importante também para os nossos investigadores e para as nossas universidades essa oferta.” No entanto, ressalvou, relativamente à utilização do português como Língua de conhecimento, que, “a par dessa oferta, há outra oferta que temos de consolidar de uma forma que possa ser mais internacional”.
Para alcançar este objetivo, existem recomendações práticas que poderão vir a fazer parte do novo Plano de Ação para o Futuro da Língua Portuguesa, que será definido em Lisboa.
Ivo Castro referiu por exemplo, a “criação de terminologias, de bases terminológicas comuns aos vários países de Língua Portuguesa, nos domínios técnico, cientifico, etc. Para que o mesmo conceito, o mesmo objeto ou o mesmo processo não tenha designações diferentes em Portugal, no Brasil e nos outros países.”
Para o especialista, este é “um objetivo prático que se pode aplicar gradualmente domínio a domínio e que dá resultados garantidos”.
Por outro lado, acrescentou o professor, “um outro aspeto concreto é o de as políticas científicas dos vários países respeitarem a Língua Portuguesa. Em Portugal, um projeto científico só pode ganhar apoios governamentais, das agências de financiamento, se for elaborado em língua inglesa, se for defendido em língua inglesa, se for depois objeto de relatórios em língua inglesa. Isso sobretudo terá mais vantagens se o seu desenvolvimento decorrer em língua inglesa, e nem sempre isso é compatível com os interesses científicos do projeto.”
Uma situação para a qual o professor recomendou uma solução: “Na avaliação das candidaturas e da execução dos projetos, não ser penalizado um projeto que é apresentado em Língua Portuguesa”.
A 29 e 30 de outubro, estes são temas de debate e reflexão em Lisboa, sobre o futuro da Língua Portuguesa no sistema mundial. :::
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ALVES, Lúcia Vinheiras. Língua portuguesa como Língua de ciência e inovação é objetivo da CPLP.
Extraído do sítio da TV Ciência – seção Notícias.do Instituto de Investigação Científica Tropical – IICT
Lisboa, Portugal.
Publicado em: 20 set. 2013.
ALVES, Lúcia Vinheiras. Língua portuguesa como Língua de ciência e inovação é objetivo da CPLP.
Extraído do sítio da TV Ciência – seção Notícias.do Instituto de Investigação Científica Tropical – IICT
Lisboa, Portugal.
Publicado em: 20 set. 2013.
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Como é que esta Mulher foi Deputada pelo "centrão"???
As premonições de Natália
"A nossa entrada (na CEE) vai provocar gravíssimos retrocessos no país, a Europa não é solidária com ninguém, explorar-nos-á miseravelmente como grande agiota que nunca deixou de ser. A sua vocação é ser colonialista".
"A sua influência (dos retornados) na sociedade portuguesa não vai sentir-se apenas agora, embora seja imensa. Vai dar-se sobretudo quando os seus filhos, hoje crianças, crescerem e tomarem o poder. Essa será uma geração bem preparada e determinada, sobretudo muito realista devido ao trauma da descolonização, que não compreendeu nem aceitou, nem esqueceu. Os genes de África estão nela para sempre, dando-lhe visões do país diferentes das nossas. Mais largas mas menos profundas. Isso levará os que desempenharem cargos de responsabilidade a cair na tentação de querer modificar-nos, por pulsões inconscientes de, sei lá, talvez vingança!"
"Portugal vai entrar num tempo de subcultura, de retrocesso cultural, como toda a Europa, todo o Ocidente".
"Mais de oitenta por cento do que fazemos não serve para nada. E ainda querem que trabalhemos mais. Para quê? Além disso, a produtividade hoje não depende já do esforço humano, mas da sofisticação tecnológica".
"Os neoliberais vão tentar destruir os sistemas sociais existentes, sobretudo os dirigidos aos idosos. Só me espanta que perante esta realidade ainda haja pessoas a pôr gente neste desgraçado mundo e votos neste reaccionário centrão".
"Há a cultura, a fé, o amor, a solidariedade. Que será, porém, de Portugal quando deixar de ter dirigentes que acreditem nestes valores?"
"As primeiras décadas do próximo milénio serão terríveis. Miséria, fome, corrupção, desemprego, violência, abater-se-ão aqui por muito tempo. A Comunidade Europeia vai ser um logro. O Serviço Nacional de Saúde, a maior conquista do 25 de Abril, e Estado Social e a independência nacional sofrerão gravíssimas rupturas. Abandonados, os idosos vão definhar, morrer, por falta de assistência e de comida. Espoliada, a classe média declinará, só haverá muito ricos e muito pobres. A indiferença que se observa ante, por exemplo, o desmoronar das cidades e o incêndio das florestas é uma antecipação disso, de outras derrocadas a vir"."
Natália Correia
Fajã de Baixo, São Miguel, 13 de Setembro de 1923 — Lisboa, 16 de Março de 1993
Todas as citações foram retiradas do livro "O Botequim da Liberdade", de Fernando Dacosta.
"A nossa entrada (na CEE) vai provocar gravíssimos retrocessos no país, a Europa não é solidária com ninguém, explorar-nos-á miseravelmente como grande agiota que nunca deixou de ser. A sua vocação é ser colonialista".
"A sua influência (dos retornados) na sociedade portuguesa não vai sentir-se apenas agora, embora seja imensa. Vai dar-se sobretudo quando os seus filhos, hoje crianças, crescerem e tomarem o poder. Essa será uma geração bem preparada e determinada, sobretudo muito realista devido ao trauma da descolonização, que não compreendeu nem aceitou, nem esqueceu. Os genes de África estão nela para sempre, dando-lhe visões do país diferentes das nossas. Mais largas mas menos profundas. Isso levará os que desempenharem cargos de responsabilidade a cair na tentação de querer modificar-nos, por pulsões inconscientes de, sei lá, talvez vingança!"
"Portugal vai entrar num tempo de subcultura, de retrocesso cultural, como toda a Europa, todo o Ocidente".
"Mais de oitenta por cento do que fazemos não serve para nada. E ainda querem que trabalhemos mais. Para quê? Além disso, a produtividade hoje não depende já do esforço humano, mas da sofisticação tecnológica".
"Os neoliberais vão tentar destruir os sistemas sociais existentes, sobretudo os dirigidos aos idosos. Só me espanta que perante esta realidade ainda haja pessoas a pôr gente neste desgraçado mundo e votos neste reaccionário centrão".
"Há a cultura, a fé, o amor, a solidariedade. Que será, porém, de Portugal quando deixar de ter dirigentes que acreditem nestes valores?"
"As primeiras décadas do próximo milénio serão terríveis. Miséria, fome, corrupção, desemprego, violência, abater-se-ão aqui por muito tempo. A Comunidade Europeia vai ser um logro. O Serviço Nacional de Saúde, a maior conquista do 25 de Abril, e Estado Social e a independência nacional sofrerão gravíssimas rupturas. Abandonados, os idosos vão definhar, morrer, por falta de assistência e de comida. Espoliada, a classe média declinará, só haverá muito ricos e muito pobres. A indiferença que se observa ante, por exemplo, o desmoronar das cidades e o incêndio das florestas é uma antecipação disso, de outras derrocadas a vir"."
Natália Correia
Fajã de Baixo, São Miguel, 13 de Setembro de 1923 — Lisboa, 16 de Março de 1993
Todas as citações foram retiradas do livro "O Botequim da Liberdade", de Fernando Dacosta.
Mês do Brasil na China e Semana da Cultura Brasileira em Macau
Em Língua Portuguesa Internacional, Lusofonia e Diversidade, O Mundo de Língua Portuguesa a 25 de Setembro de 2013 por ronsoar Tagged: Brasil, China, educação, Língua Portuguesa, literatura brasileira, livros, Macau
Da Rádio China Internacional e do Ministério da Cultura do Brasil
Entre os dias 3 e 29 de setembro, oito cidades chinesas, Pequim, Xangai, Hangzhou, Chongqing, Nanquim, Wuxi, Hong Kong e Macau, receberão mais de 50 eventos culturais: é o Mês da Cultura Brasileira na China. Através de diversas expressões artísticas como concertos musicais, apresentaçao de filmes, espetáculos de dança e mostras fotográficas, de literatura e de gastronomia, os chineses poderão conhecer a cultura diversificada do Brasil.
E entre 15 de outubro e 11 de novembro, será a vez de a China apresentar aos brasileiros sua programação: o Mês da China no Brasil.
A abertura da programação se deu a partir de show de Francis e Olívia Hime, em Pequim, dia 3. No espetáculo, Sem Mais Adeus, homenagearam Vinícius de Moraes (1913-1980) – este ano comemora-se o centenário de nascimento do poeta. No dia 7, o mesmo concerto foi apresentado no Festival de Jazz de Xangai.
Entre os dias 13 e 14 de setembro, o escritor, editor e mestre em literatura pela Universidade de São Paulo, Leandro Sarmatz, e a escritora e cronista da revista cultural ‘Piauí’, Vanessa Bárbara, falaram aos chineses de Xangai sobre a nova literatura brasileira. Sarmatz abordou, em especial, a literatura do Rio de Janeiro entre as décadas de 1950 e 1970, com as obras de Vinícius de Moraes e de Clarice Lispector (1920-1977).
E ainda em Xangai, dia 13, iniciou-se o 4º. Brapeq – Festival de Cinema Brasileiro na China, em Pequim.
A embaixada brasileira em Pequim, o Consulado-Geral do Brasil em Xangai e o Consulado-Geral do Brasil em Hong Kong são os responsáveis pela organização dos eventos.
No último dia 12, a Embaixada do Brasil na China realizou uma entrevista coletiva em Pequim para lançar o Mês do Brasil na China.
“A cultura é o que faz a identidade de uma nação”, declarou a ministra da Cultura do Brasil, Marta Suplicy, durante a entrevista em Pequim concedida a mais de 20 veículos de imprensa da China. “A nossa música tem forte raiz africana, a nossa gastronomia também. Ao mesmo tempo, temos bastante influência dos europeus e dos povos indígenas. Muitas palavras do português são de origem indígena. Esta miscigenação é o que forma nossa identidade.”
A realização desse Mês da Cultura Brasileira na China faz parte de um acordo assinado em 2011 pelo então presidente chinês Hu Jintao e a atual presidenta brasileira Dilma Rousseff. :::
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–– Extraído da Rádio China Internacional e do Ministério da Cultura do Brasil ––
–– Extraído da Rádio China Internacional e do Ministério da Cultura do Brasil ––
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–– II Semana da Cultura Brasileira começou em Macau ––
Da Agência Lusa
24 de setembro de 2013
24 de setembro de 2013
O Estado brasileiro de Pernambuco é o tema central da segunda edição da Semana da Cultura Brasileira em Macau, que decorre integrada no Mês do Brasil da China e arrancou hoje.
O evento em Macau é realizado em parceria com o Departamento de Português da Universidade de Macau e na qual participam vários académicos.
Além dos filmes e das exposições, a segunda edição da Semana da Cultura Brasileira trouxe até Macau especialistas da literatura do país para discutirem o Sertão – as zonas áridas do interior do nordeste brasileiro – que “inspiram escritores e é fonte muito rica da imaginação artística” da região, explicou à Agência Lusa Raquel Abi-Sâmara, uma das coordenadoras do evento.
Em destaque estará também a literatura de cordel, um género literário típico do Estado e que “está muito vivo, mantendo a sua tradição de retratar em verso a atualidade”, acrescentou a mesma responsável, salientando que ela própria, numa visita recente a Pernambuco, ouviu e leu muitas crónicas relacionadas com as manifestações no Brasil. “Era o assunto do dia”, explicou.
Ao longo da semana, os alunos dos cursos de português da Universidade de Macau vão ter também oportunidade de contactar diretamente com escritores brasileiros, como Adriana Lisboa, galardoada em 2003 com o Prémio José Saramago, que vai apresentar o seu mais recente romance em Macau no próximo fim de semana.
O livro, intitulado Hanói, será apresentado na Livraria Portuguesa de Macau, no final da primeira viagem da autora à China.
Nascida no Rio de Janeiro, Adriana Lisboa vive há seis anos nos Estados Unidos, e Hanói, o seu sexto romance, apresenta-se como um livro sobre “deslocamentos”, onde a cidade evocada no título “é mais um futuro imaginado do que uma localidade geográfica”.
Em declarações à Agência Lusa, Fernanda Gil Costa, diretora do Departamento de Português da Universidade de Macau, explicou que o objetivo da semana cultural “é contribuir para que o Brasil seja mais conhecido em Macau”.
“É o maior dos países lusófonos e, portanto, temos o maior interesse que Macau – onde o português continua a ser Língua oficial, embora se dê pouco por isso – conheça os países da Língua Portuguesa. O Brasil é aquele que tem mais falantes de português no mundo e, por isso, é bastante representativo, quer no presente, quer daquilo que julgamos poder vir a ser o futuro da Língua Portuguesa”, disse.
A mesma responsável acrescentou que o Brasil é, em termos culturais, “muito diversificado e também muito importante porque a cultura brasileira, sobretudo a música, é um evento mundial. E tudo aquilo que tenha a ver com o conhecimento e reconhecimento do caráter impar da cultura brasileira é extremamente importante.” :::
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–– Extraído da Agência Lusa ––
–– Extraído da Agência Lusa ––
Marcadores:
Brasil,
China,
Semana da Cultura Brasileira em Macau
A Korsang di Melaka - ONGD, associa-se e divulga:
CONFERÊNCIA - LÍNGUA PORTUGUESA, SOCIEDADE CIVIL E CPLP
Dia 11 de Outubro de 2013 na Universidade do Algarve
(Grande Auditório - Campus Gambelas - Faro)
(Grande Auditório - Campus Gambelas - Faro)
Aceda ao programa e Inscrição no site: A Q U I
Marcadores:
língua portuguesa,
sociedade civil e CPLP
22 de setembro de 2013
Milton Nascimento - Pieta (full concert)
http://youtu.be/ojUKOBqKNOo
Chamada de Trabalhos
IV Congresso Internacional em Estudos Culturais – Colonialismos, Pós-colonialismos e Lusofonias
28, 29 e 30 de abril, 2014
Aveiro, Portugal
+ info: http://estudosculturais.com/ congressos/ivcongresso/
1. Colonialismos, Pós-colonialismos e Lusofonias – Descolonizar o pensamento
Descolonizar o pensamento hegemónico onde quer que ele se revele, não pode deixar de implicar as academias, centros de produção do saber e do conhecimento da realidade cultural, política e social, centros a partir dos quais pode e deve ser estabelecida uma práxis que alie o conhecimento científico a uma ação transformadora das realidades sociais, ou, mais do que isso, uma práxis efetivamente inserida nessas realidades. É essa dimensão política da ciência, no sentido de uma ciência que se institui como ação na pólis, como prática que re-imagina e transforma o mundo que o Programa Doutoral em Estudos Culturais UA/UM pretende imprimir a este IV Congresso Internacional.
Uma reflexão pós-colonial no contexto lusófono não pode evitar o exercício da crítica às antigas dicotomias periferia/centro; cosmopolitismo/ruralismo, civilizado/selvagem, negro/branco, norte/sul, num contexto cultural de mundialização, transformado por novos e revolucionários fenómenos de comunicação, que têm também globalizado a marginalidade. Um tal projeto implica, em nossa opinião, trabalhar a ideia de que colonialismos e pós-colonialismos marcam as culturas e as histórias de colonizadores e colonizados, misturando, de diferentes formas, os seus ‘destinos’. Não há colonialismos nem pós-colonialismos iguais. Cada qual tem de reconstruir, conhecer, simbolizar e integrar a sua própria história e definir sentidos possíveis de futuro. Também não há como não o fazer, pois o ‘destino’ que em comum nos coube, para o melhor e o pior, é um dado com o qual podemos e devemos pensar o futuro.
O que será decisivo neste projeto é descolonizar a cultura, o pensamento, as práticas sociais, a política e a ciência: uma tarefa que cabe a colonizados e colonizadores. Em nosso entender, esta é uma das tarefas candentes no processo de re-imaginação da Lusofonia, que passa, atualmente, pela procura de um pensamento estratégico rumo a uma reflexão e a uma práxis descolonialista.
2. Organização das sessões
O IV Congresso Internacional em Estudos Culturais – Colonialismos, Pós-Colonialismos e Lusofonias acolhe duas modalidades de apresentações: as Conferências e as Tertúlias.
2.1. As Conferências
As Conferências serão proferidas por convidados cujo trabalho científico se revista de notório reconhecimento nacional e internacional. Terão lugar no auditório do Museu de Aveiro. Os horários e os temas poderão ser consultados no site do IV Congresso.
2.2. As Tertúlias
A tertúlia será o formato de eleição das sessões deste Congresso. A ideia é proporcionar uma versão mais interativa das tradicionais sessões paralelas, com menos trabalhos expostos em simultâneo e maiores possibilidades de aproximação e discussão entre os autores e demais participantes. Cada tertúlia será organizada em torno de um tema e composta por até 5 trabalhos que o abordarão a partir de diferentes perspetivas.
O tempo máximo de apresentação dos trabalhos será de 10 minutos, seguindo-se um período de discussão mais alargado. O modelo de cada apresentação fica a cargo de cada conferencista, sendo incentivada a criatividade e a multiplicidade de formatos. Não há obrigatoriedade de utilização de powerpoints e não haverá projeção de imagens por data-show. Solicitamos a todos os conferencistas que nos enviem as imagens que desejarem compartilhar na apresentação, sejam slides, vídeos, fotografias, etc., até ao dia 30 de janeiro. Elas ficarão disponíveis online no site do IV Congresso e poderão ser visualizadas durante as sessões. Para o melhor andamento dos trabalhos, sugerimos a todos que tragam os seus próprios computadores portáteis.
As submissões de trabalhos deverão ser feitas em português ou em inglês (veja o item 2.2.2), mas todas as línguas serão bem-vindas e poderão ser utilizadas para apresentar trabalhos nas tertúlias. Para tornar possível a comunicação no contexto multicultural em que nos encontraremos, solicitamos, a todos os autores que entreguem uma versão inglesa dos textos até ao dia 30 de janeiro de 2014 (quando esta não for a língua adotada na submissão da proposta). Esta solicitação prende-se com a necessidade de nos fazermos compreender pelos conferencistas de diversas nacionalidades e diferentes línguas maternas. Os textos ficarão disponíveis online no site do IV Congresso e poderão ser consultados no momento da tertúlia. Deste modo, o conferencista poderá fazer a sua apresentação na sua língua de conforto sem prejuízo da compreensão por parte dos demais integrantes do grupo.
2.2.1 Os temas
As tertúlias serão organizadas em torno de temas importantes nos debates sobre Colonialismos, Pós-colonialismos e Lusofonias no contexto dos Estudos Culturais. Privilegiaremos, portanto, as abordagens mais problematizadoras e menos descritivas. Sugerimos aqui algumas temáticas, mas não encerramos nelas o escopo deste IV Congresso, ficando livres os autores para contribuir com outras propostas:
1. Pós-colonialismos e políticas de identidades.
2. Descolonizações ou recolonizações?
3. Emigrantes em contextos coloniais e pós-coloniais.
4. Lusofonias visíveis, lusofonias invisíveis.
5. Questões de género em contextos coloniais e pós-coloniais.
6. Direitos humanos e construção da alteridade em contextos coloniais e pós-coloniais.
7. Pensar a descolonização da cultura: das marcas coloniais à re-imaginação do mundo.
2.2.2 Submissão de trabalhos
Poderão ser submetidos trabalhos individuais que serão agrupados pela organização do Congresso segundo a temática indicada pelo autor, bem como sessões fechadas, com no mínimo 3 e no máximo 5 participantes. Esta proposta (texto completo) deverá ser submetida numa das duas línguas oficiais do IV Congresso (português e inglês). No caso da proposta aceite ter sido redigida em português, uma versão em inglês deverá ser enviada até ao dia 30 de janeiro de 2014.
2.2.3. Regras de edição dos textos e apresentação dos trabalhos
Todas as línguas serão bem-vindas e poderão ser utilizadas na publicação eletrónica das atas do IV Congresso. No entanto, para o alargamento das possibilidades de disseminação do conhecimento no contexto internacional, solicitamos aos autores que entreguem os textos completos em duas versões, sendo uma na língua que preferirem e outra em inglês até ao dia 30 de janeiro.
Os artigos devem ter em 8 e 10 páginas; letra: Georgia 11 (texto), 10 (citações), 9 (notas de rodapé); espaço: 1,5 (texto), 1,0 (citações e notas); parágrafo: 10 pto; referências bibliográficas apenas no fim.
A submissão dos artigos é feita através de um sistema que implica que os autores façam um registo prévio(http://www.estudosculturais. com/congressos/ocs-2.3.5/ index.php/ivcongresso/cpcl/ user/account)
4. Publicação
As atas dos trabalhos apresentados no IV Congresso Internacional em Estudos Culturais serão disponibilizadas em formato digital com ISSN já na altura da realização do evento. Alguns trabalhos poderão posteriormente ser selecionados para publicação num número especial da Revista do Programa Doutoral em Estudos Culturais / Universidades de Aveiro e do Minho, Estudos Culturais – Revista Lusófona ou eventualmente num E-Book. Nestes casos, os autores serão devidamente consultados a respeito do seu interesse na referida publicação.
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28, 29 e 30 de abril, 2014
Aveiro, Portugal
+ info: http://estudosculturais.com/
1. Colonialismos, Pós-colonialismos e Lusofonias – Descolonizar o pensamento
Descolonizar o pensamento hegemónico onde quer que ele se revele, não pode deixar de implicar as academias, centros de produção do saber e do conhecimento da realidade cultural, política e social, centros a partir dos quais pode e deve ser estabelecida uma práxis que alie o conhecimento científico a uma ação transformadora das realidades sociais, ou, mais do que isso, uma práxis efetivamente inserida nessas realidades. É essa dimensão política da ciência, no sentido de uma ciência que se institui como ação na pólis, como prática que re-imagina e transforma o mundo que o Programa Doutoral em Estudos Culturais UA/UM pretende imprimir a este IV Congresso Internacional.
Uma reflexão pós-colonial no contexto lusófono não pode evitar o exercício da crítica às antigas dicotomias periferia/centro; cosmopolitismo/ruralismo, civilizado/selvagem, negro/branco, norte/sul, num contexto cultural de mundialização, transformado por novos e revolucionários fenómenos de comunicação, que têm também globalizado a marginalidade. Um tal projeto implica, em nossa opinião, trabalhar a ideia de que colonialismos e pós-colonialismos marcam as culturas e as histórias de colonizadores e colonizados, misturando, de diferentes formas, os seus ‘destinos’. Não há colonialismos nem pós-colonialismos iguais. Cada qual tem de reconstruir, conhecer, simbolizar e integrar a sua própria história e definir sentidos possíveis de futuro. Também não há como não o fazer, pois o ‘destino’ que em comum nos coube, para o melhor e o pior, é um dado com o qual podemos e devemos pensar o futuro.
O que será decisivo neste projeto é descolonizar a cultura, o pensamento, as práticas sociais, a política e a ciência: uma tarefa que cabe a colonizados e colonizadores. Em nosso entender, esta é uma das tarefas candentes no processo de re-imaginação da Lusofonia, que passa, atualmente, pela procura de um pensamento estratégico rumo a uma reflexão e a uma práxis descolonialista.
2. Organização das sessões
O IV Congresso Internacional em Estudos Culturais – Colonialismos, Pós-Colonialismos e Lusofonias acolhe duas modalidades de apresentações: as Conferências e as Tertúlias.
2.1. As Conferências
As Conferências serão proferidas por convidados cujo trabalho científico se revista de notório reconhecimento nacional e internacional. Terão lugar no auditório do Museu de Aveiro. Os horários e os temas poderão ser consultados no site do IV Congresso.
2.2. As Tertúlias
A tertúlia será o formato de eleição das sessões deste Congresso. A ideia é proporcionar uma versão mais interativa das tradicionais sessões paralelas, com menos trabalhos expostos em simultâneo e maiores possibilidades de aproximação e discussão entre os autores e demais participantes. Cada tertúlia será organizada em torno de um tema e composta por até 5 trabalhos que o abordarão a partir de diferentes perspetivas.
O tempo máximo de apresentação dos trabalhos será de 10 minutos, seguindo-se um período de discussão mais alargado. O modelo de cada apresentação fica a cargo de cada conferencista, sendo incentivada a criatividade e a multiplicidade de formatos. Não há obrigatoriedade de utilização de powerpoints e não haverá projeção de imagens por data-show. Solicitamos a todos os conferencistas que nos enviem as imagens que desejarem compartilhar na apresentação, sejam slides, vídeos, fotografias, etc., até ao dia 30 de janeiro. Elas ficarão disponíveis online no site do IV Congresso e poderão ser visualizadas durante as sessões. Para o melhor andamento dos trabalhos, sugerimos a todos que tragam os seus próprios computadores portáteis.
As submissões de trabalhos deverão ser feitas em português ou em inglês (veja o item 2.2.2), mas todas as línguas serão bem-vindas e poderão ser utilizadas para apresentar trabalhos nas tertúlias. Para tornar possível a comunicação no contexto multicultural em que nos encontraremos, solicitamos, a todos os autores que entreguem uma versão inglesa dos textos até ao dia 30 de janeiro de 2014 (quando esta não for a língua adotada na submissão da proposta). Esta solicitação prende-se com a necessidade de nos fazermos compreender pelos conferencistas de diversas nacionalidades e diferentes línguas maternas. Os textos ficarão disponíveis online no site do IV Congresso e poderão ser consultados no momento da tertúlia. Deste modo, o conferencista poderá fazer a sua apresentação na sua língua de conforto sem prejuízo da compreensão por parte dos demais integrantes do grupo.
2.2.1 Os temas
As tertúlias serão organizadas em torno de temas importantes nos debates sobre Colonialismos, Pós-colonialismos e Lusofonias no contexto dos Estudos Culturais. Privilegiaremos, portanto, as abordagens mais problematizadoras e menos descritivas. Sugerimos aqui algumas temáticas, mas não encerramos nelas o escopo deste IV Congresso, ficando livres os autores para contribuir com outras propostas:
1. Pós-colonialismos e políticas de identidades.
2. Descolonizações ou recolonizações?
3. Emigrantes em contextos coloniais e pós-coloniais.
4. Lusofonias visíveis, lusofonias invisíveis.
5. Questões de género em contextos coloniais e pós-coloniais.
6. Direitos humanos e construção da alteridade em contextos coloniais e pós-coloniais.
7. Pensar a descolonização da cultura: das marcas coloniais à re-imaginação do mundo.
2.2.2 Submissão de trabalhos
Poderão ser submetidos trabalhos individuais que serão agrupados pela organização do Congresso segundo a temática indicada pelo autor, bem como sessões fechadas, com no mínimo 3 e no máximo 5 participantes. Esta proposta (texto completo) deverá ser submetida numa das duas línguas oficiais do IV Congresso (português e inglês). No caso da proposta aceite ter sido redigida em português, uma versão em inglês deverá ser enviada até ao dia 30 de janeiro de 2014.
2.2.3. Regras de edição dos textos e apresentação dos trabalhos
Todas as línguas serão bem-vindas e poderão ser utilizadas na publicação eletrónica das atas do IV Congresso. No entanto, para o alargamento das possibilidades de disseminação do conhecimento no contexto internacional, solicitamos aos autores que entreguem os textos completos em duas versões, sendo uma na língua que preferirem e outra em inglês até ao dia 30 de janeiro.
Os artigos devem ter em 8 e 10 páginas; letra: Georgia 11 (texto), 10 (citações), 9 (notas de rodapé); espaço: 1,5 (texto), 1,0 (citações e notas); parágrafo: 10 pto; referências bibliográficas apenas no fim.
A submissão dos artigos é feita através de um sistema que implica que os autores façam um registo prévio(http://www.estudosculturais.
4. Publicação
As atas dos trabalhos apresentados no IV Congresso Internacional em Estudos Culturais serão disponibilizadas em formato digital com ISSN já na altura da realização do evento. Alguns trabalhos poderão posteriormente ser selecionados para publicação num número especial da Revista do Programa Doutoral em Estudos Culturais / Universidades de Aveiro e do Minho, Estudos Culturais – Revista Lusófona ou eventualmente num E-Book. Nestes casos, os autores serão devidamente consultados a respeito do seu interesse na referida publicação.
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14 de setembro de 2013
Brasil pode desperdiçar oportunidade única de propor novo modelo civilizatório
Enquanto acharmos que melhorar a vida das pessoas é dar-lhes mais dinheiro
para comprarem uma televisão, em vez de melhorar o saneamento,
o abastecimento de água, a saúde e a educação fundamental, não vai dar.
Você ouve o governo falando que a solução é consumir mais, mas não vê
qualquer ênfase nesses aspectos literalmente fundamentais da
vida humana nas condições dominantes no presente século.
Eduardo Viveiros de Castro dispara: iludido por noção
ultrapassada de progresso, Brasil pode desperdiçar
oportunidade única de propor novo modelo civilizatório
Entrevista a Júlia Magalhães
Qual é sua percepção sobre a participação política do brasileiro?
Preferiria começar por uma desgeneralização: vejo a sociedade brasileira
como profundamente dividida no que concerne à sua visão do país e do futuro.
A ideia de que existe um Brasil, no sentido não-trivial das ideias de unidade
e de brasilidade, parece-me uma ilusão politicamente conveniente
sobretudo para os dominantes) mas antropologicamente equivocada.
Existem no mínimo dois, e, a meu ver, bem mais Brasis.
O conceito geopolítico de Estado-nação unificado não é descritivo,
mas prescritivo. Há fraturas profundas na sociedade brasileira.
Há setores da população com uma vocação conservadora imensa; eles
não integram necessariamente uma classe específica, embora as chamadas
“classes médias”, ascendentes ou descendentes, estejam bem representadas ali.
Grande parte da chamada sociedade brasileira — a maioria, infelizmente,
temo — se sentiria muito satisfeita sob um regime autoritário, sobretudo
se conduzido mediaticamente pela autoridade paternal de uma personalidade forte.
Mas isso é uma daquelas coisas que a minoria libertária que existe no país,
ou mesmo uma certa medioria “progressista”, prefere manter envolta em um silêncio
embaraçado. Repete-se a todo e a qualquer propósito que o povo brasileiro é
democrático, “cordial”, amante da liberdade, da igualdade e da fraternidade
– o que me parece uma ilusão muito perigosa. É assim que vejo a “participação
política do povo brasileiro”: fraturada, dividida, polarizada, uma polarização
que não está necessariamente em harmonia com as divisões politicas oficiais
partidos etc.). O Brasil permanece uma sociedade visceralmente escravocrata,
renitentemente racista, e moralmente covarde. Enquanto não acertarmos contas
com esse inconsciente, não iremos “para a frente”. Em outros momentos, é claro,
soluços insurreicionais esporádicos, e uma certa indiferença pragmática em relação
aos poderes constituídos, que se testemunha sobretudo entre os mais pobres,
ou os mais alheios ao teatro montado pelo andar de cima, inspiram modestas
utopias e moderados otimismos por parte daqueles que a historia colocou na
confortável posição de “pensar o Brasil”. Nós, em suma.
O que é preciso para mudar isso?
Falar, resistir, insistir, olhar por cima do imediato – e, evidentemente, educar.
Mas não “educar o povo”, como se a elite fosse muito educada e devêssemos
e pudéssemos) trazer o povo para um nível superior; mas sim criar as condições
para que o povo se eduque e acabe educando a elite, quem sabe até livrando-se dela.
A paisagem educacional do Brasil de hoje é a de uma terra devastada, um deserto.
E não vejo nenhuma iniciativa consistente para tentar cultivar esse deserto.
Pelo contrário: chego a ter pesadelos conspiratórios de que não interessa ao
projeto de poder em curso modificar realmente a paisagem educacional do Brasil:
domesticar a força de trabalho, se é que é isso mesmo que se está sinceramente
tentando (ou planejando), não é de forma alguma a mesma coisa que educar.
Isto é só um pesadelo, decerto: não é assim, não pode ser assim, espero que não
seja assim. Mas fato é que não se vê uma iniciativa de modificar a situação.
Vê-se é a inauguração bombástica de dezenas de universidades sem a mínima
infra-estrutura física (para não falar de boas bibliotecas, luxo quase
impensável no Brasil), enquanto o ensino fundamental e médio permanecem
grotescamente inadequados, com seus professores recebendo uma miséria,
com as greves de docentes universitários reprimidas como se eles fossem bandidos.
A “falta” de instrução — que é uma forma muito particular e perversa de instrução
imposta de cima para baixo — é talvez o principal fator responsável pelo
conservadorismo reacionário de boa parte da sociedade brasileira.
Em suma, é urgente uma reforma radical na educação brasileira.
“A floresta e a escola”, sonhava Oswald de Andrade. Infelizmente,
parece que deixaremos de ter uma e ainda não teremos a outra.
Pois sem escola, aí é que não sobrará floresta mesmo.
Por onde começaria a reforma na educação?
Começaria por baixo, é lógico, no ensino fundamental
– que continua entregue às moscas. O ensino público teria de
ter uma política unificada, voltada para uma – com perdão da expressão –
“revolução cultural”. Não adianta redistribuir renda (ou melhor,
aumentar a quantidade de migalhas que caem da mesa cada vez mais farta dos ricos)
apenas para comprar televisão e ficar vendo o BBB e porcarias do mesmo quilate,
se não redistribuímos cultura, educação, ciência e sabedoria; se não damos ao
povo condições de criar cultura em lugar de apenas consumir aquela produzida
“para” ele. Está havendo uma melhora do nível de vida dos mais pobres,
e talvez também da velha classe média – melhora que vai durar o tempo que
a China continuar comprando do Brasil e não tiver acabado de comprar a África.
Apesar dessa melhora no chamado nível de vida, não vejo melhora na qualidade
efetiva de vida, da vida cultural ou espiritual, se me permitem a palavra arcaica.
Ao contrário. Mas será que é preciso mesmo destruir as forças vivas,
naturais e culturais, do povo, ou melhor, dos povos brasileiros para
construir uma sociedade economicamente mais justa? Duvido.
Nesse cenário, quais os temas capazes de mobilizar a sociedade brasileira, hoje?
Vejo a “sociedade brasileira” imantada, pelo menos no plano de sua
auto-representação normativa por via da midia, por um ufanismo oco,
um orgulho besta, como se o mundo (desta vez, enfim) se curvasse ao Brasil.
Copa, Olimpíadas… Não vejo mobilização sobre temas urgentíssimos,
como esses da educação e da redefinição de nossa relação com a terra,
isto é, com aquilo que está por baixo do território. Natureza e Cultura,
em suma, que hoje não apenas se acham mediadas, mediatizadas pelo Mercado,
mas mediocrizadas por ele. O Estado se aliou ao Mercado, contra a Natureza
e contra a Cultura.
Esses temas ainda não mobilizam?
Existe alguma preocupação da opinião pública com a questão ambiental,
um pouco maior do que com a educacional – o que não deixa de ser para
se lamentar, pois as duas vão juntas. Mas tudo me parece
“too little, too late”: muito pouco, e muito tarde. Está demorando
tempo demais para se espalhar a consciência ambiental, o sentido de
urgência absoluta que a situação do planeta impõe a todos nós.
Essa inércia se traduz em pouca pressão sobre os governos, as corporações,
as empresas – estão investindo cada vez mais na historia da carochinha
do “capitalismo verde”. E pouca pressão sobre a grande imprensa,
suspeitamente lacônica, distraída e incompetente quando se trata
da questão das mudanças climáticas.
Não se vê a sociedade realmente mobilizada, por exemplo, por Belo Monte,
uma monstruosidade provada e comprovada, mas que tem o apoio desinformado
(é o que se infere) de porções significativas da população do Sul e Sudeste,
para onde irá boa parte da energia que não for vendida a preço de banana
paras as multinacionais do alumínio fazerem latinha de sakê, no baixo Amazonas,
para o mercado asiático. Faz falta um discurso politico mais agressivo
em relação à questão ambiental. É preciso sobretudo falar aos povos,
chamar a atenção de que saneamento básico é um problema ambiental,
dengue é problema ambiental, lixão é problema ambiental.
Não é possível separar desmatamento de dengue e de saneamento básico.
É preciso convencer a população mais pobre de que melhorar as condições
ambientais é garantir as condições de existência das pessoas.
Mas a esquerda tradicional, como se está comprovando, mostra-se
completamente despreparada para articular um discurso sobre a
questão ambiental. Quando suas cabeças mais pensantes falam,
tem-se a sensação de que estão apenas “correndo atrás”, tentando
desajeitadamente capturar e reduzir ao já-conhecido um tema novo,
um problema muito real que não estava em seu DNA ideológico e filosófico.
Isso quando ela, a esquerda, não se alinha com o insustentável
projeto ecocida do capitalismo, revelando assim sua comum origem
com este último, lá nas brumas e trevas da metafísica
antropocêntrica do Cristianismo.
Enquanto acharmos que melhorar a vida das pessoas é dar-lhes mais dinheiro
para comprarem uma televisão, em vez de melhorar o saneamento,
o abastecimento de água, a saúde e a educação fundamental, não vai dar.
Você ouve o governo falando que a solução é consumir mais, mas não vê
qualquer ênfase nesses aspectos literalmente fundamentais da vida humana
nas condições dominantes no presente século.
Não se diga, por suposto, que os mais favorecidos pensem melhor e vejam
mais longe que os mais pobres. Nada mais idiota do que esses Land Rovers
que a gente vê a torto e a direito em São Paulo ou no Rio, rodando com
plásticos do Greenpeace e slogans “ecológicos” colados nos pára-brisas.
Gente refestelada nessas banheiras 4×4 que atravancam as ruas e bebem o
venenoso óleo diesel, gente que acha que “contato com a natureza”
é fazer rally no Pantanal…
É uma situação difícil: falta instrução básica, falta compromisso da midia,
falta agressividade política no tratar da questão do ambiente — isso quando
se acha que há uma questão ambiental, o que está longe de ser o caso de
nossos atuais Responsáveis. Estes mostram, ao contrário e por exemplo,
preocupação em formar jovens que dirijam com segurança, e assim ao mesmo
tempo mantêm sua aposta firme no futuro do transporte por carro individual
numa cidade como São Paulo, em que não cabe nem mais uma agulha. Um governo
que não se cansa de arrotar grandeza sobre a quantidade de veiculos
produzidos por ano. É um absurdo utilizar os números da produção de
veiculos como indicador de prosperidade econômica. Isso é uma proposta podre,
uma visão tacanha, um projeto burro de país.
Você está dizendo que muitos apelos ao consumo vêm do próprio governo.
Mas também há um apelo muito grande que vem do mercado. Como você avalia isso?
O Brasil é um país capitalista periférico. O capitalismo industrial-financeiro
é considerado por quase todo mundo hoje como uma evidência necessária, o modo
incontornável de um sistema social sobreviver no mundo de hoje. Entendo,
ao contrário de alguns companheiros de viagem, que o capitalismo sustentável
é uma contradição em termos, e que se nossa presente forma de vida econômica
é realmente necessária, então logo nossa forma de vida biológica, isto é, a
espécie humana, vai-se mostrar desnecessária. A Terra vai favorecer outras
alternativas.
A ideia de crescimento negativo, ou de objeção ao crescimento, a ética da
suficiência são contraditórias com a lógica do capital. O capitalismo depende do
crescimento contínuo. A ideia manutenção de um determinado patamar de equilíbrio
na relação de troca energética com a natureza não cabe na matriz econômica
do capitalismo.
Esse impasse, queiramos ou não, vai ser “solucionado” pelas condições
termodinâmicas do planeta em um período muito mais curto do que imaginávamos.
As pessoas fingem não saber o que está acontecendo,
preferem não pensar no assunto,
mas o fato é que temos que nos preparar para o pior. E o Brasil, ao contrário,
está sempre se preparando para o melhor. O otimismo nacional diante de uma
situação planetária para lá de inquietante é extremamente perigoso, e a
aposta de que vamos nos dar bem dentro do capitalismo é algo ingênua, se
é que não é, quem sabe, desesperada.. O Brasil continua sendo um país
periférico, uma plantation relativamente high tech que abastece de produtos
primários o capitalismo central. Vivemos de exportar nossa terra e nossa
água em forma de soja, açúcar, carne, para os países industrializados
– e são eles que dão as cartas, controlam o mercado. Estamos bem nesse
momento, mas de forma alguma em posição de controlar a economia mundial.
Se mudar um pouco para um lado ou para o outro, o Brasil pode simplesmente
perder esse lugar à janela onde está sentado hoje. Sem falar, é claro,
no fato de que estamos vivendo uma crise econômica mundial que se tornou
explosiva em 2008 e está longe de acabar; ninguém sabe onde ela vai parar.
O Brasil, nesse momento da crise, está em uma espécie de contrafluxo do
tsunami, mas quando a onda quebrar vai molhar muita gente.
Essas coisas têm de ser ditas.
E como você avalia a relação dessa realidade macropolítica,
macroeconômica, com as realidades do Brasil rural,
dos ribeirinhos, dos indígenas?
O projeto de Brasil que tem a presente coalizão governamental
sob o comando do PT é um no qual ribeirinhos, índios, camponeses,
quilombolas são vistos como gente atrasada, retardados socioculturais
que devem ser conduzidos para um outro estágio. Isso é uma concepção
tragicamente equivocada. O PT é visceralmente paulista, seu projeto
é uma “paulistanização” do Brasil. Transformar o interior do país
numa fantasia country: muita festa do peão boiadeiro, muito carro
de tração nas quatro, muita música sertaneja, bota, chapéu, rodeio,
boi, eucalipto, gaúcho. E do outro lado cidades gigantescas
e impossíveis como São Paulo. O PT vê a Amazônia brasileira
como um lugar a se civilizar, a se domesticar, a se rentabilizar,
a se capitalizar. Esse é o velho bandeirantismo que tomou conta de
vez do projeto nacional, em uma continuidade lamentável entre a
geopolítica da ditadura e a do governo atual. Mudaram as condições
políticas formais, mas a imagem do que é uma civilização brasileira,
do que é uma vida que valha a pena ser vivida, do que é uma sociedade
que esteja em sintonia consigo mesma, é muito, muito parecida.
Estamos vendo hoje, numa ironia bem dialética, o governo comandado
por uma pessoa perseguida e torturada pela ditadura realizando
um projeto de sociedade encampado e implementado por essa mesma
ditadura: destruição da Amazônia, mecanização, transgenização e
agrotoxificação da “lavoura”, migração induzida para as cidades.
Por trás de tudo, uma certa ideia de Brasil que o vê, no início
do século XXI, como se ele devesse ser o que os Estados Unidos
foram no século XX. A imagem que o Brasil tem de si mesmo é,
sob vários aspectos, aquela projetada pelos Estados Unidos
nos filmes de Hollywood dos anos 50 – muito carro, muita
autoestrada, muita geladeira, muita televisão, todo mundo feliz.
Quem pagava por tudo isso éramos, entre outros, nós.
(Quem nos pagará, agora? A África, mais uma vez? O Haiti? A Bolivia?).
Isso sem falarmos na massa de infelicidade bruta gerada por esse modo
de vida para seus beneficiários mesmo.
É isso que vejo, uma tristeza: cinco séculos de abominação continuam aí.
Sarney é um capitão hereditário, como os que vieram de Portugal para
saquear e devastar a terra dos índios. O nosso governo dito de esquerda
governa com a permissão da oligarquia e dos jagunços destas para governar,
ou seja, pode fazer várias coisas desde que a parte do
leão continue com ela.
Toda vez que o governo ensaia alguma medida que ameace isso, o congresso,
eleito sabe-se como, breca, a imprensa derruba, o PMDB sabota.
Há uma série de impasses para os quais não vejo saída, não vejo como
sair por dentro do jogo político tradicional, com as presentes regras
– vejo mais como sendo possível pelo lado do movimento social.
Este está desmobilizado; se não está, o que mais se ouve é que ele está.
Mas se não for por via do movimento social, vamos continuar vivendo nesse
paraíso subjuntivo, aquele em que um dia tudo vai ficar ótimo.
O Brasil é um país dominado politicamente por grandes proprietários
e grandes empreiteiros, que não só nunca fez sua reforma agrária,
como onde se diz que já não é mais preciso fazê-la.
Você acha que as coisas vão começar a mudar quando chegarem a um limite?
A crise econômica mundial vai provavelmente pegar o Brasil no contrapé
em algum momento próximo. Mas o que vai acontecer com certeza é que o
mundo todo vai passar por uma transição ecológica, climática e demográfica
muito intensa nos próximos 50 anos, com epidemias, fomes, secas, desastres,
guerras, invasões. Estamos vendo as condições climáticas mudarem muito
mais aceleradamente do que imaginávamos, e é grande a possibilidade de
catástrofes, de quebras de safras, de crises de alimentos. Por ora, hoje,
isso está até beneficiando o Brasil. Mas um dia a conta vai chegar.
Os climatologistas, os geofísicos, os biólogos e os ecólogos estão
profundamente pessimistas quanto ao ritmo, as causas e as consequências
da transformação das condições ambientais em que se desenvolve hoje
a vida da espécie. Porque haveria eu de estar otimista?
Penso que é preciso insistir que é possível ser feliz sem se deixar
hipnotizar por esse frenesi de consumo que a mídia nos impõe.
Não sou contra o crescimento econômico no Brasil, não sou idiota
a ponto de achar que tudo se resolveria distribuindo a grana do
Eike Batista entre os camponeses do semi-árido nordestino ou cortando
os subsídios aos clãs político-mafiosos que governam o país.
Não que isso não fosse uma boa ideia. Mas sou contra, isso sim,
o crescimento da “economia” mundial, e sou a favor de uma
redistribuição das taxas de crescimento. Sou também obviamente
a favor de que todos possam comprar uma geladeira, e,
por que não, uma televisão — mas sou a favor de que isso
envolva a máxima implementação das tecnologias solar e eólica.
E teria imenso prazer em parar de andar de carro se pudéssemos
trocar esse meio absurdo de transporte por soluções mais inteligentes.
E como você vê o jovem nesse contexto?
É muito difícil falar de uma geração à qual não se pertence.
Na década de 60 tínhamos ideias confusas mas ideais claros,
achávamos que podíamos mudar o mundo, e sabíamos que tipo de
mundo queríamos. Acho que, no geral, os horizontes utópicos
se retraíram enormemente.
Algum movimento recente no Brasil ou no mundo chamou sua atenção?
No Brasil, a aceleração da difusão do que podemos chamar de
cultura agro-sulista,
tanto à direita como à esquerda, pelo interior do país. Vejo isso como a
consumação do projeto de branqueamento da nacionalidade, esse modo muito
peculiar da elite dominante acertar suas contas com o próprio passado
(passado?) escravista.
Outra mudança importante foi a consolidação de uma cultura popular ligada
ao movimento evangélico. O evangelismo das igrejas universais do
reino de Deus e congêneres está evidentemente associado à religião
do consumo, aliás.
E como você vê o surgimento das redes sociais, nesse contexto?
Isso é uma das poucas coisas com que estou bastante otimista:
o relativo e progressivo enfraquecimento do controle total das
mídias por cinco ou seis grandes grupos. Esse enfraquecimento
está acontecendo com a proliferação das redes sociais,
que são a grande novidade na sociedade brasileira e que
estão contribuindo para fazer circular um tipo de informação
que não tinha trânsito na imprensa oficial, e permitindo formas
de mobilização antes impossíveis. Há movimentos inteiramente
produzidos dentro das redes sociais, como a marcha
contra a homofobia, o churrasco da “gente diferenciada”
em Higienópolis, os vários movimentos contra Belo Monte,
a mobilização pelas florestas. As redes são nossa saída de
emergência para a aliança mortal entre governo e mídia.
São um fator de desestabilização, no melhor sentido da palavra,
do arranjo de poder dominante. Se alguma grande mudança no
cenário político brasileiro vier a acontecer, creio que vai
passar por essa mobilização das redes.
Por isso se intensificam as tentativas de controlar essas redes
por parte dos poderes constituídos – isso no mundo inteiro.
Pelo controle ao acesso ou por instrumentos vergonhosos,
como o “projeto” brasileiro de banda larga, que começa pelo
reconhecimento de que o serviço será de baixa qualidade.
Uma decisão tecnológica e política antidemocrática e antipopular,
equivalente ao que se faz com a educação: impedir que a população
tenha acesso pleno à circulação cultural. Parece mesmo, às vezes,
que há uma conspiração para impedir que os brasileiros tenham uma
educação boa e acesso de qualidade à internet. Essas coisas vão
juntas e têm o mesmo efeito, que é o aumento da inteligência social,
algo que, pelo jeito, é preciso controlar com muito cuidado.
Você imagina um novo modelo político?
Um amigo que trabalhava no ministério do Meio Ambiente
na época de Marina Silva me criticava dizendo que essa
minha conversa de ficar longe do Estado era romântica e absurda,
que tínhamos que tomar o poder, sim. Eu respondia que, se tínhamos
de tomar o poder, era preciso saber manter o poder depois,
e era aí que a coisa pegava. Não tenho um desenho político para o Brasil,
não tenho a pretensão de saber o que é melhor para o povo brasileiro
em geral e como um todo. Só posso externar minhas preocupações e indignações,
e palpitar, de verdade, apenas ali onde me sinto seguro.
Penso, de qualquer forma, que se deve insistir na ideia de que o
Brasil tem – ou, a essa altura, teria – as condições ecológicas,
geográficas, culturais de desenvolver um novo estilo de civilização,
um que não seja uma cópia empobrecida do modelo americano e norte-europeu.
Poderíamos começar a experimentar, timidamente que fosse, algum tipo
de alternativa aos paradigmas tecno-econômicos desenvolvidos na Europa moderna.
Mas imagino que, se algum país vai acabar fazendo isso no mundo, será a China.
Verdade que os chineses têm 5000 anos de historia cultural praticamente
continua, e o que nós temos a oferecer são apenas 500 anos de
dominação europeia e uma triste historia de etnocídio, deliberado ou não.
Mesmo assim, é indesculpável a falta de inventividade da sociedade brasileira,
pelo menos das suas elite políticas e intelectuais, que perderam várias ocasiões
de se inspirarem nas soluções socioculturais que os povos brasileiros
historicamente ofereceram, e de assim articular as condições de uma
civilização brasileira minimamente diferente dos comerciais de TV.
Temos de mudar completamente, para começar, a relação secularmente
predatória da sociedade nacional com a natureza, com a base
físico-biológica da própria nacionalidade. E está na hora de
iniciarmos uma relação nova com o consumo, menos ansiosa e mais
realista diante da situação de crise atual. A felicidade tem muitos caminhos.
13 de setembro de 2013
COMUNICADO DO PRÍNCIPE DOM LUIZ DE ORLEANS E BRAGANÇA, CHEFE DA CASA IMPERIAL DO BRASIL
2 de setembro de 2013 às 13:02
É com o espírito carregado de graves apreensões que venho considerando os mais recentes acontecimentos de nossa vida pública. As instituições são desrespeitadas, a insegurança jurídica aumenta, a faculdade de opinar vai sendo ameaçada, insuflam-se conflitos entre brasileiros, sobre as forças dinâmicas da Nação se abatem legislações cada vez mais sufocantes e até nossa diplomacia – outrora reconhecida por seu equilíbrio e subtileza – é vilipendiada.
Aumenta, dia a dia, em considerável parte de nossa população – afável, ordeira e laboriosa – o sentimento de inconformidade e rejeição ante os crescentes desmandos de algumas de nossas mais altas autoridades, obstinadamente comprometidas com metas ideológicas avessas ao sentir da alma cristã de nosso povo.
O País assiste nestes dias, estupefato e incrédulo, ao que algumas vozes ponderadas já não hesitam em qualificar de um moderno tráfico de escravos ideológicos.
A classe médica e considerável parte da população vê com aversão a vinda (“importação”!) para o nosso País de médicos cubanos como “solução” para um sistema estatal de saúde em boa medida falido, devido ao descaso do próprio governo.
Enviados para o Brasil – a mando das autoridades que há décadas envolvem a outrora pérola do Caribe nesse ambiente obscuro, miserável e trágico, típico das nações-masmorras sobre as quais se abateu o comunismo – tais médicos são massa de manobra de inconfessados desígnios.
Enquanto é legítimo duvidar dos conhecimentos científicos de muitos deles, não é difícil conjecturar que alguns aqui desembarcarão como agentes da ideologia socialo-comunista vigente em Cuba, como tem acontecido em países como a Venezuela e a Bolívia. Além disso, muitos, separados propositalmente de seus familiares, aqui ficarão confinados em seus locais de trabalho, sem que seja clara a garantia de sua liberdade de ir e vir, bem como de outros princípios básicos de nosso Estado de Direito. Isso para não mencionar que parte do pagamento deste trabalho escravo hodierno será enviado pelas autoridades brasileiras às autoridades do regime cubano.
A se consolidar esta espúria operação, o Brasil terá sido empurrado decididamente para os descaminhos do totalitarismo. Hoje escravidão de pobres cubanos, amanhã talvez de brasileiros.
É, pois, com repulsa que vejo autoridades da República, com profundos laços ideológicos com o regime comunista de Cuba, fazerem semelhante acordo, favorecendo ademais a sobrevivência de uma ditadura que visa estender pelo território brasileiro os males com que o expansionismo castrista fustiga há décadas países de nosso Continente.
Para que o Brasil prossiga sua trajetória histórica sem conhecer as discórdias, agitações e até morticínios que têm caracterizado as revoluções de índole socialo-comunista, urge que os brasileiros, das mais diversas condições, abandonem certa inércia desavisada na qual se encontram e se articulem para fazer refluir as ameaças que, contrárias ao modo de pensar, de agir e de viver, da grande maioria de nossa população, vão baixando sobre o País.
É neste sentido que elevo minhas preces a Nossa Senhora Aparecida, a quem Dom Pedro I consagrou o Brasil, logo após nossa Independência, como Padroeira e Rainha.
Dom Luiz de Orleans e Bragança
1º de setembro de 2013
Enviado por Jorge da Paz
Enviado por Jorge da Paz
8 de setembro de 2013
questão etnico racial
http://www.usp.br/neinb/
Percepções da Diferença
Informações e Conhecimento sobre o Negro no Brasil e na Diáspora Africana
Aqui você tem acesso a todos os volumes da coleção Percepções da Diferença especialmente criada pelo NEINB para subsidiar educadores que atuam na Educação Infantil, saiba mais acerca do histórico da produção sobre o Negro na USP e tenha a oportunidade de acessar livremente nosso catálogo.
7 de setembro de 2013
A pensar o 7 de setembro de 2013
Eduardo Viveiros de Castro dispara: iludido por noção ultrapassada de progresso, Brasil pode desperdiçar oportunidade única de propor novo modelo civilizatório
Entrevista a Júlia Magalhães
Qual é sua percepção sobre a participação política do brasileiro?
Preferiria começar por uma desgeneralização: vejo a sociedade brasileira como profundamente dividida no que concerne à sua visão do país e do futuro. A ideia de que existe um Brasil, no sentido não-trivial das ideias de unidade e de brasilidade, parece-me uma ilusão politicamente conveniente (sobretudo para os dominantes) mas antropologicamente equivocada. Existem no mínimo dois, e, a meu ver, bem mais Brasis. O conceito geopolítico de Estado-nação unificado não é descritivo, mas prescritivo. Há fraturas profundas na sociedade brasileira. Há setores da população com uma vocação conservadora imensa; eles não integram necessariamente uma classe específica, embora as chamadas “classes médias”, ascendentes ou descendentes, estejam bem representadas ali. Grande parte da chamada sociedade brasileira — a maioria, infelizmente, temo — se sentiria muito satisfeita sob um regime autoritário, sobretudo se conduzido mediaticamente pela autoridade paternal de uma personalidade forte. Mas isso é uma daquelas coisas que a minoria libertária que existe no país, ou mesmo uma certa medioria “progressista”, prefere manter envolta em um silêncio embaraçado. Repete-se a todo e a qualquer propósito que o povo brasileiro é democrático, “cordial”, amante da liberdade, da igualdade e da fraternidade – o que me parece uma ilusão muito perigosa. É assim que vejo a “participação política do povo brasileiro”: fraturada, dividida, polarizada, uma polarização que não está necessariamente em harmonia com as divisões politicas oficiais (partidos etc.). O Brasil permanece uma sociedade visceralmente escravocrata, renitentemente racista, e moralmente covarde. Enquanto não acertarmos contas com esse inconsciente, não iremos “para a frente”. Em outros momentos, é claro, soluços insurreicionais esporádicos, e uma certa indiferença pragmática em relação aos poderes constituídos, que se testemunha sobretudo entre os mais pobres, ou os mais alheios ao teatro montado pelo andar de cima, inspiram modestas utopias e moderados otimismos por parte daqueles que a historia colocou na confortável posição de “pensar o Brasil”. Nós, em suma.
Preferiria começar por uma desgeneralização: vejo a sociedade brasileira como profundamente dividida no que concerne à sua visão do país e do futuro. A ideia de que existe um Brasil, no sentido não-trivial das ideias de unidade e de brasilidade, parece-me uma ilusão politicamente conveniente (sobretudo para os dominantes) mas antropologicamente equivocada. Existem no mínimo dois, e, a meu ver, bem mais Brasis. O conceito geopolítico de Estado-nação unificado não é descritivo, mas prescritivo. Há fraturas profundas na sociedade brasileira. Há setores da população com uma vocação conservadora imensa; eles não integram necessariamente uma classe específica, embora as chamadas “classes médias”, ascendentes ou descendentes, estejam bem representadas ali. Grande parte da chamada sociedade brasileira — a maioria, infelizmente, temo — se sentiria muito satisfeita sob um regime autoritário, sobretudo se conduzido mediaticamente pela autoridade paternal de uma personalidade forte. Mas isso é uma daquelas coisas que a minoria libertária que existe no país, ou mesmo uma certa medioria “progressista”, prefere manter envolta em um silêncio embaraçado. Repete-se a todo e a qualquer propósito que o povo brasileiro é democrático, “cordial”, amante da liberdade, da igualdade e da fraternidade – o que me parece uma ilusão muito perigosa. É assim que vejo a “participação política do povo brasileiro”: fraturada, dividida, polarizada, uma polarização que não está necessariamente em harmonia com as divisões politicas oficiais (partidos etc.). O Brasil permanece uma sociedade visceralmente escravocrata, renitentemente racista, e moralmente covarde. Enquanto não acertarmos contas com esse inconsciente, não iremos “para a frente”. Em outros momentos, é claro, soluços insurreicionais esporádicos, e uma certa indiferença pragmática em relação aos poderes constituídos, que se testemunha sobretudo entre os mais pobres, ou os mais alheios ao teatro montado pelo andar de cima, inspiram modestas utopias e moderados otimismos por parte daqueles que a historia colocou na confortável posição de “pensar o Brasil”. Nós, em suma.
O que é preciso para mudar isso?
Falar, resistir, insistir, olhar por cima do imediato – e, evidentemente, educar. Mas não “educar o povo”, como se a elite fosse muito educada e devêssemos (e pudéssemos) trazer o povo para um nível superior; mas sim criar as condições para que o povo se eduque e acabe educando a elite, quem sabe até livrando-se dela. A paisagem educacional do Brasil de hoje é a de uma terra devastada, um deserto. E não vejo nenhuma iniciativa consistente para tentar cultivar esse deserto. Pelo contrário: chego a ter pesadelos conspiratórios de que não interessa ao projeto de poder em curso modificar realmente a paisagem educacional do Brasil: domesticar a força de trabalho, se é que é isso mesmo que se está sinceramente tentando (ou planejando), não é de forma alguma a mesma coisa que educar.
Isto é só um pesadelo, decerto: não é assim, não pode ser assim, espero que não seja assim. Mas fato é que não se vê uma iniciativa de modificar a situação. Vê-se é a inauguração bombástica de dezenas de universidades sem a mínima infra-estrutura física (para não falar de boas bibliotecas, luxo quase impensável no Brasil), enquanto o ensino fundamental e médio permanecem grotescamente inadequados, com seus professores recebendo uma miséria, com as greves de docentes universitários reprimidas como se eles fossem bandidos. A “falta” de instrução — que é uma forma muito particular e perversa de instrução imposta de cima para baixo — é talvez o principal fator responsável pelo conservadorismo reacionário de boa parte da sociedade brasileira. Em suma, é urgente uma reforma radical na educação brasileira.
“A floresta e a escola”, sonhava Oswald de Andrade. Infelizmente, parece que deixaremos de ter uma e ainda não teremos a outra. Pois sem escola, aí é que não sobrará floresta mesmo.
Por onde começaria a reforma na educação?
Começaria por baixo, é lógico, no ensino fundamental – que continua entregue às moscas. O ensino público teria de ter uma política unificada, voltada para uma – com perdão da expressão – “revolução cultural”. Não adianta redistribuir renda (ou melhor, aumentar a quantidade de migalhas que caem da mesa cada vez mais farta dos ricos) apenas para comprar televisão e ficar vendo o BBB e porcarias do mesmo quilate, se não redistribuímos cultura, educação, ciência e sabedoria; se não damos ao povo condições de criar cultura em lugar de apenas consumir aquela produzida “para” ele. Está havendo uma melhora do nível de vida dos mais pobres, e talvez também da velha classe média – melhora que vai durar o tempo que a China continuar comprando do Brasil e não tiver acabado de comprar a África. Apesar dessa melhora no chamado nível de vida, não vejo melhora na qualidade efetiva de vida, da vida cultural ou espiritual, se me permitem a palavra arcaica. Ao contrário. Mas será que é preciso mesmo destruir as forças vivas, naturais e culturais, do povo, ou melhor, dos povos brasileiros para construir uma sociedade economicamente mais justa? Duvido.
Nesse cenário, quais os temas capazes de mobilizar a sociedade brasileira, hoje?
Vejo a “sociedade brasileira” imantada, pelo menos no plano de sua auto-representação normativa por via da midia, por um ufanismo oco, um orgulho besta, como se o mundo (desta vez, enfim) se curvasse ao Brasil. Copa, Olimpíadas… Não vejo mobilização sobre temas urgentíssimos, como esses da educação e da redefinição de nossa relação com a terra, isto é, com aquilo que está por baixo do território. Natureza e Cultura, em suma, que hoje não apenas se acham mediadas, mediatizadas pelo Mercado, mas mediocrizadas por ele. O Estado se aliou ao Mercado, contra a Natureza e contra a Cultura.
Esses temas ainda não mobilizam?
Existe alguma preocupação da opinião pública com a questão ambiental, um pouco maior do que com a educacional – o que não deixa de ser para se lamentar, pois as duas vão juntas. Mas tudo me parece “too little, too late”: muito pouco, e muito tarde. Está demorando tempo demais para se espalhar a consciência ambiental, o sentido de urgência absoluta que a situação do planeta impõe a todos nós. Essa inércia se traduz em pouca pressão sobre os governos, as corporações, as empresas – estão investindo cada vez mais na historia da carochinha do “capitalismo verde”. E pouca pressão sobre a grande imprensa, suspeitamente lacônica, distraída e incompetente quando se trata da questão das mudanças climáticas.
Não se vê a sociedade realmente mobilizada, por exemplo, por Belo Monte, uma monstruosidade provada e comprovada, mas que tem o apoio desinformado (é o que se infere) de porções significativas da população do Sul e Sudeste, para onde irá boa parte da energia que não for vendida a preço de banana paras as multinacionais do alumínio fazerem latinha de sakê, no baixo Amazonas, para o mercado asiático. Faz falta um discurso politico mais agressivo em relação à questão ambiental. É preciso sobretudo falar aos povos, chamar a atenção de que saneamento básico é um problema ambiental, dengue é problema ambiental, lixão é problema ambiental. Não é possível separar desmatamento de dengue e de saneamento básico. É preciso convencer a população mais pobre de que melhorar as condições ambientais é garantir as condições de existência das pessoas. Mas a esquerda tradicional, como se está comprovando, mostra-se completamente despreparada para articular um discurso sobre a questão ambiental. Quando suas cabeças mais pensantes falam, tem-se a sensação de que estão apenas “correndo atrás”, tentando desajeitadamente capturar e reduzir ao já-conhecido um tema novo, um problema muito real que não estava em seu DNA ideológico e filosófico. Isso quando ela, a esquerda, não se alinha com o insustentável projeto ecocida do capitalismo, revelando assim sua comum origem com este último, lá nas brumas e trevas da metafísica antropocêntrica do Cristianismo.
Enquanto acharmos que melhorar a vida das pessoas é dar-lhes mais dinheiro para comprarem uma televisão, em vez de melhorar o saneamento, o abastecimento de água, a saúde e a educação fundamental, não vai dar. Você ouve o governo falando que a solução é consumir mais, mas não vê qualquer ênfase nesses aspectos literalmente fundamentais da vida humana nas condições dominantes no presente século.
Não se diga, por suposto, que os mais favorecidos pensem melhor e vejam mais longe que os mais pobres. Nada mais idiota do que esses Land Rovers que a gente vê a torto e a direito em São Paulo ou no Rio, rodando com plásticos do Greenpeace e slogans “ecológicos” colados nos pára-brisas. Gente refestelada nessas banheiras 4×4 que atravancam as ruas e bebem o venenoso óleo diesel, gente que acha que “contato com a natureza” é fazer rally no Pantanal…
É uma situação difícil: falta instrução básica, falta compromisso da midia, falta agressividade política no tratar da questão do ambiente — isso quando se acha que há uma questão ambiental, o que está longe de ser o caso de nossos atuais Responsáveis. Estes mostram, ao contrário e por exemplo, preocupação em formar jovens que dirijam com segurança, e assim ao mesmo tempo mantêm sua aposta firme no futuro do transporte por carro individual numa cidade como São Paulo, em que não cabe nem mais uma agulha. Um governo que não se cansa de arrotar grandeza sobre a quantidade de veiculos produzidos por ano. É um absurdo utilizar os números da produção de veiculos como indicador de prosperidade econômica. Isso é uma proposta podre, uma visão tacanha, um projeto burro de país.
Você está dizendo que muitos apelos ao consumo vêm do próprio governo. Mas também há um apelo muito grande que vem do mercado. Como você avalia isso?
O Brasil é um país capitalista periférico. O capitalismo industrial-financeiro é considerado por quase todo mundo hoje como uma evidência necessária, o modo incontornável de um sistema social sobreviver no mundo de hoje. Entendo, ao contrário de alguns companheiros de viagem, que o capitalismo sustentável é uma contradição em termos, e que se nossa presente forma de vida econômica é realmente necessária, então logo nossa forma de vida biológica, isto é, a espécie humana, vai-se mostrar desnecessária. A Terra vai favorecer outras alternativas.
A ideia de crescimento negativo, ou de objeção ao crescimento, a ética da suficiência são contraditórias com a lógica do capital. O capitalismo depende do crescimento contínuo. A ideia manutenção de um determinado patamar de equilíbrio na relação de troca energética com a natureza não cabe na matriz econômica do capitalismo.
Esse impasse, queiramos ou não, vai ser “solucionado” pelas condições termodinâmicas do planeta em um período muito mais curto do que imaginávamos. As pessoas fingem não saber o que está acontecendo, preferem não pensar no assunto, mas o fato é que temos que nos preparar para o pior. E o Brasil, ao contrário, está sempre se preparando para o melhor. O otimismo nacional diante de uma situação planetária para lá de inquietante é extremamente perigoso, e a aposta de que vamos nos dar bem dentro do capitalismo é algo ingênua, se é que não é, quem sabe, desesperada.. O Brasil continua sendo um país periférico, uma plantation relativamente high tech que abastece de produtos primários o capitalismo central. Vivemos de exportar nossa terra e nossa água em forma de soja, açúcar, carne, para os países industrializados – e são eles que dão as cartas, controlam o mercado. Estamos bem nesse momento, mas de forma alguma em posição de controlar a economia mundial. Se mudar um pouco para um lado ou para o outro, o Brasil pode simplesmente perder esse lugar à janela onde está sentado hoje. Sem falar, é claro, no fato de que estamos vivendo uma crise econômica mundial que se tornou explosiva em 2008 e está longe de acabar; ninguém sabe onde ela vai parar. O Brasil, nesse momento da crise, está em uma espécie de contrafluxo do tsunami, mas quando a onda quebrar vai molhar muita gente. Essas coisas têm de ser ditas.
E como você avalia a relação dessa realidade macropolítica, macroeconômica, com as realidades do Brasil rural, dos ribeirinhos, dos indígenas?
O projeto de Brasil que tem a presente coalizão governamental sob o comando do PT é um no qual ribeirinhos, índios, camponeses, quilombolas são vistos como gente atrasada, retardados socioculturais que devem ser conduzidos para um outro estágio. Isso é uma concepção tragicamente equivocada. O PT é visceralmente paulista, seu projeto é uma “paulistanização” do Brasil. Transformar o interior do país numa fantasia country: muita festa do peão boiadeiro, muito carro de tração nas quatro, muita música sertaneja, bota, chapéu, rodeio, boi, eucalipto, gaúcho. E do outro lado cidades gigantescas e impossíveis como São Paulo. O PT vê a Amazônia brasileira como um lugar a se civilizar, a se domesticar, a se rentabilizar, a se capitalizar. Esse é o velho bandeirantismo que tomou conta de vez do projeto nacional, em uma continuidade lamentável entre a geopolítica da ditadura e a do governo atual. Mudaram as condições políticas formais, mas a imagem do que é uma civilização brasileira, do que é uma vida que valha a pena ser vivida, do que é uma sociedade que esteja em sintonia consigo mesma, é muito, muito parecida. Estamos vendo hoje, numa ironia bem dialética, o governo comandado por uma pessoa perseguida e torturada pela ditadura realizando um projeto de sociedade encampado e implementado por essa mesma ditadura: destruição da Amazônia, mecanização, transgenização e agrotoxificação da “lavoura”, migração induzida para as cidades. Por trás de tudo, uma certa ideia de Brasil que o vê, no início do século XXI, como se ele devesse ser o que os Estados Unidos foram no século XX. A imagem que o Brasil tem de si mesmo é, sob vários aspectos, aquela projetada pelos Estados Unidos nos filmes de Hollywood dos anos 50 – muito carro, muita autoestrada, muita geladeira, muita televisão, todo mundo feliz. Quem pagava por tudo isso éramos, entre outros, nós. (Quem nos pagará, agora? A África, mais uma vez? O Haiti? A Bolivia?). Isso sem falarmos na massa de infelicidade bruta gerada por esse modo de vida para seus beneficiários mesmo.
É isso que vejo, uma tristeza: cinco séculos de abominação continuam aí. Sarney é um capitão hereditário, como os que vieram de Portugal para saquear e devastar a terra dos índios. O nosso governo dito de esquerda governa com a permissão da oligarquia e dos jagunços destas para governar, ou seja, pode fazer várias coisas desde que a parte do leão continue com ela. Toda vez que o governo ensaia alguma medida que ameace isso, o congresso, eleito sabe-se como, breca, a imprensa derruba, o PMDB sabota.
Há uma série de impasses para os quais não vejo saída, não vejo como sair por dentro do jogo político tradicional, com as presentes regras – vejo mais como sendo possível pelo lado do movimento social. Este está desmobilizado; se não está, o que mais se ouve é que ele está. Mas se não for por via do movimento social, vamos continuar vivendo nesse paraíso subjuntivo, aquele em que um dia tudo vai ficar ótimo. O Brasil é um país dominado politicamente por grandes proprietários e grandes empreiteiros, que não só nunca fez sua reforma agrária, como onde se diz que já não é mais preciso fazê-la.
Você acha que as coisas vão começar a mudar quando chegarem a um limite?
A crise econômica mundial vai provavelmente pegar o Brasil no contrapé em algum momento próximo. Mas o que vai acontecer com certeza é que o mundo todo vai passar por uma transição ecológica, climática e demográfica muito intensa nos próximos 50 anos, com epidemias, fomes, secas, desastres, guerras, invasões. Estamos vendo as condições climáticas mudarem muito mais aceleradamente do que imaginávamos, e é grande a possibilidade de catástrofes, de quebras de safras, de crises de alimentos. Por ora, hoje, isso está até beneficiando o Brasil. Mas um dia a conta vai chegar. Os climatologistas, os geofísicos, os biólogos e os ecólogos estão profundamente pessimistas quanto ao ritmo, as causas e as consequências da transformação das condições ambientais em que se desenvolve hoje a vida da espécie. Porque haveria eu de estar otimista?
Penso que é preciso insistir que é possível ser feliz sem se deixar hipnotizar por esse frenesi de consumo que a mídia nos impõe. Não sou contra o crescimento econômico no Brasil, não sou idiota a ponto de achar que tudo se resolveria distribuindo a grana do Eike Batista entre os camponeses do semi-árido nordestino ou cortando os subsídios aos clãs político-mafiosos que governam o país. Não que isso não fosse uma boa ideia. Mas sou contra, isso sim, o crescimento da “economia” mundial, e sou a favor de uma redistribuição das taxas de crescimento. Sou também obviamente a favor de que todos possam comprar uma geladeira, e, por que não, uma televisão — mas sou a favor de que isso envolva a máxima implementação das tecnologias solar e eólica. E teria imenso prazer em parar de andar de carro se pudéssemos trocar esse meio absurdo de transporte por soluções mais inteligentes.
E como você vê o jovem nesse contexto?
É muito difícil falar de uma geração à qual não se pertence. Na década de 60 tínhamos ideias confusas mas ideais claros, achávamos que podíamos mudar o mundo, e sabíamos que tipo de mundo queríamos. Acho que, no geral, os horizontes utópicos se retraíram enormemente.
Algum movimento recente no Brasil ou no mundo chamou sua atenção?
No Brasil, a aceleração da difusão do que podemos chamar de cultura agro-sulista, tanto à direita como à esquerda, pelo interior do país. Vejo isso como a consumação do projeto de branqueamento da nacionalidade, esse modo muito peculiar da elite dominante acertar suas contas com o próprio passado (passado?) escravista.
Outra mudança importante foi a consolidação de uma cultura popular ligada ao movimento evangélico. O evangelismo das igrejas universais do reino de Deus e congêneres está evidentemente associado à religião do consumo, aliás.
E como você vê o surgimento das redes sociais, nesse contexto?
Isso é uma das poucas coisas com que estou bastante otimista: o relativo e progressivo enfraquecimento do controle total das mídias por cinco ou seis grandes grupos. Esse enfraquecimento está acontecendo com a proliferação das redes sociais, que são a grande novidade na sociedade brasileira e que estão contribuindo para fazer circular um tipo de informação que não tinha trânsito na imprensa oficial, e permitindo formas de mobilização antes impossíveis. Há movimentos inteiramente produzidos dentro das redes sociais, como a marcha contra a homofobia, o churrasco da “gente diferenciada” em Higienópolis, os vários movimentos contra Belo Monte, a mobilização pelas florestas. As redes são nossa saída de emergência para a aliança mortal entre governo e mídia. São um fator de desestabilização, no melhor sentido da palavra, do arranjo de poder dominante. Se alguma grande mudança no cenário político brasileiro vier a acontecer, creio que vai passar por essa mobilização das redes.
Por isso se intensificam as tentativas de controlar essas redes por parte dos poderes constituídos – isso no mundo inteiro. Pelo controle ao acesso ou por instrumentos vergonhosos, como o “projeto” brasileiro de banda larga, que começa pelo reconhecimento de que o serviço será de baixa qualidade. Uma decisão tecnológica e política antidemocrática e antipopular, equivalente ao que se faz com a educação: impedir que a população tenha acesso pleno à circulação cultural. Parece mesmo, às vezes, que há uma conspiração para impedir que os brasileiros tenham uma educação boa e acesso de qualidade à internet. Essas coisas vão juntas e têm o mesmo efeito, que é o aumento da inteligência social, algo que, pelo jeito, é preciso controlar com muito cuidado.
Você imagina um novo modelo político?
Um amigo que trabalhava no ministério do Meio Ambiente na época de Marina Silva me criticava dizendo que essa minha conversa de ficar longe do Estado era romântica e absurda, que tínhamos que tomar o poder, sim. Eu respondia que, se tínhamos de tomar o poder, era preciso saber manter o poder depois, e era aí que a coisa pegava. Não tenho um desenho político para o Brasil, não tenho a pretensão de saber o que é melhor para o povo brasileiro em geral e como um todo. Só posso externar minhas preocupações e indignações, e palpitar, de verdade, apenas ali onde me sinto seguro.
Penso, de qualquer forma, que se deve insistir na ideia de que o Brasil tem – ou, a essa altura, teria – as condições ecológicas, geográficas, culturais de desenvolver um novo estilo de civilização, um que não seja uma cópia empobrecida do modelo americano e norte-europeu. Poderíamos começar a experimentar, timidamente que fosse, algum tipo de alternativa aos paradigmas tecno-econômicos desenvolvidos na Europa moderna. Mas imagino que, se algum país vai acabar fazendo isso no mundo, será a China. Verdade que os chineses têm 5000 anos de historia cultural praticamente continua, e o que nós temos a oferecer são apenas 500 anos de dominação europeia e uma triste historia de etnocídio, deliberado ou não. Mesmo assim, é indesculpável a falta de inventividade da sociedade brasileira, pelo menos das suas elite políticas e intelectuais, que perderam várias ocasiões de se inspirarem nas soluções socioculturais que os povos brasileiros historicamente ofereceram, e de assim articular as condições de uma civilização brasileira minimamente diferente dos comerciais de TV. Temos de mudar completamente, para começar, a relação secularmente predatória da sociedade nacional com a natureza, com a base físico-biológica da própria nacionalidade. E está na hora de iniciarmos uma relação nova com o consumo, menos ansiosa e mais realista diante da situação de crise atual. A felicidade tem muitos caminhos.
Colaboração: Rômulo Andrade (artista plástico)
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