por Mariano Pedroza
Formador de terapeutas comunitários moçambicanos.
A
partir de Nampula, é sempre possível redescobrir o conteúdo e a razão do gesto
de mergulhar experiências do Brasil no Oceano Índico, recontactar com aquela
atmosfera de pura África de mãos dadas com a Índia, os olhos se abrindo de
espanto à influência de Goa, principalmente quando, deixando o continente em
frente à Nampula, descobrimo-nos na Ilha de Moçambique e passamos a respirar
História e sentimos em torno do corpo e, sobretudo, da alma, um suave abraço de
liberdade. Aprende-se, ali, um novo sentido para a convivência e a força de um
importante impulso de integração e de “entregação” para seguir no caminho
enriquecido outrora por semente lusa, ibérica.
Nesse
estado de busca e anseio, alcança-nos o sopro do Professor Agostinho da Silva:
“Seria de todo o interesse que Maputo e Goa verificassem as possibilidades de
um entendimento que falhou entre Lisboa e Dehli.”. Respira-se, então, a atmosfera
resultante desse encontro e segue-se contemplando e refletindo, pelas ruas
mágicas da Ilha de Moçambique, inspirado pelo exemplo, mais do que pela
palavra, do Professor que sonhou e contribuiu para fortalecer pontes entre
pessoas e povos. Mestre Agostinho insistia: “... não importa que tudo demore,
que se levem séculos se for necessário... loucura nenhuma pode ser negada como
acerto para o futuro”, e sabemos que o futuro visualizado por Agostinho é de
harmoniosa convivência, de diálogo entre as civilizações, o que se repete hoje
(e se perspectiva): um futuro de Paz.
Quando
iniciado o trabalho que me trouxe a Moçambique, já suspeitava
que o que me fazia cruzar o Atlântico era uma missão agostiniana. Familiarizado
já estava com o Professor e suas conversas desde a infância ainda no Brasil, aliás,
conversas complementadas com os encontros quando habitávamos a Ilha de Gorée,
em tempos de exílio, e com as gentilezas do Professor no Abarracamento de
Péniche, em Lisboa e, também, em Porto, Évora, Portalegre, Riguengos, Monsaraz.
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