24 de setembro de 2012

A Casa Agostinho da Silva em perspectiva


Em tempos da paradoxal “aldeia global”, exclusiva e excludente, na qual a sociedade prende-se à corrupção dos costumes em que todas as fatalidades tornaram-se normais na Humanidade e às manipulações insolentes, políticas e comerciais que se praticam sob a máscara da palavra “cultura” (culturus), a Casa Agostinho da Silva (CAS) está a favor da corrente do respeito às coexistências sociais para que as gentes de povo algum tenham o medo de existir. A CAS, como espaço cultural que pretende atuar com “os pés na rua”, crê na valorização da língua portuguesa e nas reformas a ela pertinentes para melhor traduzir-se em qualidade de vida e asseveração da dignidade humana. Também, credita confiança no diálogo e na cooperação entre os povos com suas origens culturais, porque só assim poderão compartir de interesses comuns e precisos nas áreas econômica, social, política e ambiental e dar à planetarização do Planeta nova futura-Idade.

Sabe-se que a globalização alargou as fronteiras do poderio técnico e consumista da sociedade capitalista, voltada para a burguesia industrializada e midiatizada. Dona do mundo, a globalização dá-se ao direito de destruir os animais e as plantas, de escravizar os irmãos homens. No real cotidiano global, os arquétipos implícitos do humano deixaram de ser transmitidos, pouco circulam e não impressionam mais. Isso ocorre porque não fez introduzir no cerne de sua ação global a dimensão do humano. Esqueceu-se dos mitos, das crenças, dos valores ecumênicos que devem existir entre culturas. Tudo deu a ver tão-somente como repetições rituais e supervalorização das particularidades e dos critérios de “raça”, “gênero” e “classe” como depositários da memória cultural colonizadora e/ou descolonizadora que reforçam, ideologicamente, um ponto de vista predeterminado e, inclusive, deixam mais evidentes preconceitos e intolerâncias.

A CAS repudia os ecletismos superficiais e generalizantes que eclipsam a fundamentação Histórica, Antropológica, Sociológica ou Filosófica, bem como recusa a reconhecer válida qualquer investigação em que a natureza do fenômeno cultural — intricado em sua essência — e até os seres humanos — naturalmente complexos — sejam substituídos por um meio ambiente simplificado, sintético e pré-fabricado pela tecnologia/linguagem midiática que tende a tudo e a todos uniformizar. Ademais, a CAS quer fazer valer o ideal político pedagógico do professor Agostinho da Silva no que respeita à proliferação de significados democraticamente disponíveis na quantidade de informações circulantes no ciberespaço e o máximo de seleção real que alavanque discussões críticas para a construção da melhor futura-Idade para todos os povos de língua portuguesa, diz-se translusófonos, haja vista que há, principalmente nos países pobres, um número enorme de indivíduos que sequer tem acesso às tecnologias modernas, sendo alijados de qualquer aquisição ou participação no ciberespaço, o que implica a negação de perspectivas na educação, na saúde e no trabalho. Cabe, então, àqueles que compreendem a obra de Agostinho da Silva, trazer à tona, na prática das ações sociais às quais se conferem posição política, que a globalização é a falsa universalização do mundo pela economia e pela padronização do imaginário,  apoiada em sua única ideologia — da técnica e do lucro — que unifica, indiferenciando, e que depende de modas efêmeras e fragmentárias e da multiplicação do banal e do vulgar. Paradoxalmente, na linha do pensamento de Agostinho da Silva, a CAS pretende divulgar que o progresso tecnológico dos tempos modernos é capaz de permitir que vivamos com segurança, abatendo os espectros da fome e do desemprego que já se mostram como sendo os dois maiores flagelos da Humanidade.

pg.: 6 da 1ª Edição da Revista Identidades




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