(Cortesia: Instituto Moreira Salles)
"Para um historiador como eu, que estudou o Brasil na política e na economia, na sociedade, descobrir estes trabalhos de Landseer foi lindo, deixou-me verdadeiramente feliz", diz Leslie Bethell, especialista em história latino-americana e comissário da exposição Charles Landseer: desenhos e aguarelas de Portugal e do Brasil, 1825-1826, que abre hoje no Centro Cultural de Cascais e que junta a fundação portuguesa D. Luís I e o Instituto Moreira Salles, brasileiro, que desde 1999 tem o álbum do britânico na sua colecção. "Se fosse um historiador de arte teria muitas teorias sobre o traço e a cor em Landseer, mas não posso ignorar que ele é por vezes muito bom. Não é como o nosso Turner, claro, mas estas imagens têm grande valor documental e chegam a ser muito sedutoras."
Bethell, 75 anos, antigo director do Centre for Brazilian Studies de Oxford, fala com entusiasmo dos mais de 170 esquissos, desenhos, óleos e aguarelas desta exposição que fica em Cascais até 27 de Janeiro e que, segundo o administrador-delegado da Fundação D. Luís I, Salvato Teles de Menezes, faz "um travelling muito curioso pela cidade de Lisboa e os arredores na primeira metade do século XIX", mostrando ao mesmo tempo um "Brasil exuberante", sem nunca esquecer as pessoas. "É como um filme com quase 200 anos."
São as pessoas, explica Bethell no seu português solto, com um sotaque brasileiro delicioso, que mais parecem atrair o jovem Landseer, à data com 25 anos e que tinha recebido formação em casa e na Academia Real de Belas-Artes de Londres. Apontando para os marinheiros lisboetas e os escravos da Baía ou do Rio, Bethell explica porquê: "Ele sabe desenhar corpos - teve aulas de traço anatómico -, está muito atento às características dos vários tipos urbanos e sabe documentá-las, seja num desenho rápido de rua, seja numa aguarela que exige mais tempo."
Quem percorre a exposição fica com a sensação de que não há muitas diferenças de objectivos entre os esboços de Landseer e as fotografias que hoje tiramos com os nossos smartphones. "Ele quer prender na memória e no papel estas pessoas que vê." Sobretudo os escravos.
Um artista em missão
A viagem de ida e volta de Landseer ao Brasil, passando por Portugal (Madeira e Açores incluídos) e pela ilha espanhola de Tenerife, é feita em contexto diplomático. O jovem passa 18 meses longe de casa fazendo mais de 300 desenhos e aguarelas (a maioria no Brasil) enquanto artista da missão de Charles Stuart, um dos mais experientes embaixadores britânicos, encarregue de negociar por parte de Portugal e da Grã-Bretanha o reconhecimento do recém-independente império do Brasil.
A actual exposição, que faz parte do programa do Ano do Brasil em Portugal, foi já mostrada, com diferenças, em São Paulo, Minas Gerais e no Rio de Janeiro, onde a presidente da Espírito Santo Cultura, Maria João Bustorff Silva, a viu em 2010, sugerindo depois a sua apresentação na Europa. Bethell, que continua a tentar levá-la ao Reino Unido, sonha agora que algum visitante reconheça nos desenhos uma pintura que tem em casa: "Seria maravilhoso. Tão maravilhoso como vir viver a minha aposentadoria para Cascais."
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