31 de dezembro de 2014

A criança tem de ser sempre o futuro do mundo. Cuidemos dela. Bem haja 2015!

Holograma, de Artur Alonso Novelhe



O corpo atenua a dor,
certamente
mesmo assim temos chegado a um ponto de dano irreversível.
Tu admiras um rosto na fotografia,
ela luta, pela contra, contra a glória longe de seu país
sonhando sua morte com honorável virtude
e, aureamente,
os anciãos nahuatl bailam na lua que reflete o jasmim
aguardando extrair seu êxtase.
O corpo atenua a dor,
bebendo sonhamos ser livres,
e
o fuzil semeia medo sobre um temor
da verdade ser, em verdade, um impossível.
Mulheres humildes do povo Yazadi caminham descalças
sem tempo a reparar
que para migrar cumes gelados deverão atravessar
acima da fronteira invisível – arames farpados, e
os meninos fogem quando o homem pergunta no hospital
pelas câmaras onde acumulam –sem nome- valiosos vultos:
barrigas, pernas, orelhas e demais,
que ainda ontem se ouviram pronunciando devagar
no passeio flores, com borboletas, e árvores de natal,
em dias ativos, o frio invernal solstício.
Agora as casas são de cinza, colmo e algum lençol,
com presépios improvisados em forma de aparentar
vidas cheias de falsas denúncias.
Lamento.
Estai atentos, o corpo aguenta,
o cérebro não
e o espírito esta a mudar à alma
pela cobiçosa despesa.
Depressa, depressa! Alguém acaba de transpassar
A vala que divide o Norte da pobreza!

30 de dezembro de 2014

2014 O ANO DA VIRAGEM PARA O INCERTO - UM ANO DE CRISES MÚLTIPLAS

Guerra na Europa - Terrorismo do Estado Islâmico pior que o Nazismo
António Justo
Se passarmos em revisão o ano 2014 notaremos que foi 
um ano de surpresas e mudança. A guerra também voltou à Europa.
Neste centenário da primeira guerra mundial com 18 milhões de 
mortos dá-se início aos vícios do século XX: Kiev, Krim, o inferno da 
Síria e do Iraque são o melhor exemplo disso e preparam uma nova 
era também na cena política internacional. Países fronteiriços da 
Rússia revelam-se como palco para motejo entre a Rússia e o Ocidente.
No Iraque e na Síria instala-se um estado de terror ainda pior que 
os de Hitler e de Estaline.Fenómeno novo preocupante e indicativo 
da globalização do terrorismo revela-se o facto de os terroristas 
islâmicos serem recrutados também das cidades de Estados de 
direito como a UE.
A Turquia (membro da nato) torna-se mais islamista e dá cobertura 
ao terrorismo sunita na Síria e no Iraque, a que os curdos resistem 
com a esperança de a História lhes vir a fazer justiça e lhes 
reconhecer posteriormente o direito à sua nacionalidade, ao estado 
do Curdistão. (Este será o próximo conflito!). A política internacional 
aceita a destruição de um estado antes multicultural como era a Síria, 
e em conivência com a facção muçulmana sunita (turca e saudita) 
contra a facção xiita (iraniana) aceita dividir a região em território 
sunita e xiita deixando também o problema do Curdistão para as 
calendas gregas. O ocidente apenas reage mas sem um conceito 
integral; a liga árabe não está interessada em consenso. A ONU 
reflecte a divisão dos estados e dos interesses.
A Alemanha prefere dedicar-se ao negócio económico e falar 
da solidariedade dos outros países europeus no que toca 
à distribuição dos refugiados. Entretanto cresce na Alemanha o 
desejo de participar mais activamente nas intervenções 
militares de conflitos mundiais. Isto significará o acréscimo de 
poder também militar não só da Alemanha mas também da Europa. 
Em 2014 cria-se a necessidade de intensificar o armamento. 
A Alemanha inicia uma nova política e a NATO forma uma nova 
tropa de reacção; a polícia e os serviços secretos de informação 
preparam-se para piores tempos ao constatar o terrorismo 
extra e intra muros. Por isso a Alemanha cala os casos de 
espionagem dos EUA na Europa.
O apoio russo aos separatistas do leste da Ucrânia (invasão) 
e a sua anexação da ilha krim na Rússia criam uma nova 
situação na Europa. A Ucrânia que tinha entregado as armas 
nucleares à Rússia em 1994 pensava, com isso, adquirir a 
sua independência e integridade territorial. A Rússia 
sente-se ferida nos seus interesses fronteiriços com a NATO 
e parece encetar um caminho imprevisível.
Sansões contra a Rússia provocaram uma crise económica 
na Rússia com consequências negativas também para a economia 
ocidental.
Putin considera a queda da União Soviética como “a maior 
catástrofe geopolítica do século XX”. Não aceita que as fronteiras 
da NATO se tornem as fronteiras da Rússia, o que vai levar a NATO 
à corrida às armas. Um caso bicudo de resolver também 
devido à falta de entendimento entre os países europeus. 
Os EUA espionam os amigos, porque consideram prioritários os 
interesses políticos, económicos e de defesa. A crise da UE vai-se 
arrastando.
Milhares de refugiados da guerra e da miséria morrem no 
mediterrâneo e muitos milhares encontram refúgio entre nós.
A sociedade não se encontra preparada sequer para 
reconhecer os perigos e conflitos que ela mesma anda 
a chocar. Tem medo de imaginar e analisar cenários 
possíveis porque muita da nossa inteligência política foi 
formada numa mentalidade polar ou da guerra fria.
Os cristãos tornaram-se nas maiores vítimas da modernidade; 
em cada cinco minutos que passam é morto um cristão. Hoje 
tornou-se moda atacar os cristãos. Até quando surge um 
comentário sobre o terrorismo árabe logo surge uma 
resposta desculpante ou desviadora do assunto para canto, 
com o argumento de que os cristãos também já perseguiram 
com a inquisição ou caça às bruxas. 400 milhões de cristãos 
encontram-se ameaçados e 100 milhões sofrem violência 
directa (massacres, aprisionamento, marcação das casas onde 
vivem cristãos com o nome nazareno, pagamento do imposto de 
cabeça – por cristão, como era costume durante a ocupação 
muçulmana da Península Ibérica, etc.) . As igrejas do ocidente 
não reagem porque se encontram preocupadas com problemas 
de umbigo e sob o pensar correcto que domina a imprensa e a 
política ocidental.
O Ano 2014 não será para esquecer pelas consequências das 
tragédias nele iniciadas ou acentuadas a nível internacional.
Portugal encontra-se ainda em estado de excepção dado 
estar submetido a um regime especial de poupança; a 
confiança do cidadão na política está de rastos, o combate 
à corrupção encontra muita resistência por parte de poderes 
enredados e instalados.
2015 não parece prometer muito, resta-nos a esperança.
António da Cunha Duarte Justo

29 de dezembro de 2014

28 de dezembro de 2014


Para vós desejávamos um Natal tão Santo, quanto o Amor tiverdes.E desejamos agora que todo o Amor se espalhe ao tempo e às horas do ano de 2015.


21 de dezembro de 2014

Emanuel Medeiros Vieira


“Civilizações feneceram e isso me consterna. Incas, Maias, Assírios, Fenícios, 
Babilônios, Gregos. Não os conheci. Não os conheço (…)
Que insuspeitas relações tiveram? (…) A arte são marcas de passagens.
(…) Não sei porque  escrevo, menos ainda o que isso possa significar.” (…)
(Herculano Farias)
“Nada sabemos, a não ser que há uma noite/pura e vazia à nossa espera. 
Uma noite intocável/além do fogo e do gelo, e de qualquer esperança.”
(Ledo Ivo)
E continuamos a cada dia. Tentando celebrar os momentos –  encantamentos
Sim: há soberba, cobiça, pessoas que se acham insubstituíveis, celebridades vãs. 
E depressa desaparecerão.  Mas continuamos.
Há fé (às vezes). Há sombras, pó, e esperança.
“Estás sendo pessimista”, adverte uma voz interior. Basta olhar o mundo ao redor. 
Nada de novo. É preciso manter o circo. Sempre. O cantor famoso “passou”, 
espremido como laranja. Criam-se outros. Como a loira gostosa no anúncio 
de cerveja. A insinuação subliminar dos espertos publicitários: 
“tome essa cerveja e terás a loira”.
E há os marqueteiros. Ganhando rios de dinheiro, estabeleceram o reino 
da mentira virtual. “Mas as ditaduras acabaram na América a Latina”, alguém lembra. 
E o que veio depois? Desagregação (traição, deslumbramento) de muitos sonhos 
e dos maiores valores. E as revoluções implantadas viraram sistemas totalitários. Não?
E criamos todos os dias. Será a arte que nos salvará? “Inventamos” uma realidade. 
Não a revelamos. E continuamos. Parece que já existem mais escritores que leitores. 
Toneladas de opiniões (nos jornais, no mundo virtual) não saciam. 
Pois a incompletude é a nossa sagrada e irreversível marca. Como em
 tantos momentos, talvez saibamos mais o que não queremos do que aquilo que queremos.
A cura é a morte do desejo? Civilizações morreram.
Ando por Pompéia, está frio, e penso em todos que por aqui andaram, 
em todos os pés que aqui pisaram.
Penso o mesmo no Pelourinho – “ouvindo” o gemido dos escravos. 
Mas a agitação dos turistas com suas máquinas fotográficas e celulares, 
é mais forte do que as minhas reflexões. E meninos cheiram crack e assaltam.
O desejo é registrar tudo. Tudo. Mas somos meros fragmentos de outros fragmentos.
Há mais motivos para beber do que para não beber – eu sei.
Mas – ainda mais moralista na maturidade – creio que é melhor não beber. 
Sim: pela vida (perdoem o lugar-comum.). Mas tal opção é absolutamente subjetiva, 
e prefiro ouvir um Canto Gregoriano nesta capelinha do que os berros e gritos em um culto, 
garantindo que Cristo voltará (e se deres mais dinheiro, ele chegará mais rápido).
É outra manhã. Sim, sonhávamos refundar o mundo, e a alegria não-napoleônica de uma
criança mexendo numa máquina de escrever – estranhando –, e um pássaro cantando é
maior que isso. Mas, é claro, também passaremos e bem mais rápido que as civilizações. 
Mas – mal rompendo a aurora – estarás aqui de novo, seguindo o ofício, não buscando álibis. 
E continuarás, até o dia em que escutarás um assobio e irás – sereno – atravessar a ponte.
(Brasília, janeiro de 2014)

14 de novembro de 2014

Retrato do artista quando coisa
A maior riqueza
do homem
é sua incompletude.
Nesse ponto
sou abastado.
Palavras que me aceitam
como sou
— eu não aceito.
Não aguento ser apenas
um sujeito que abre
portas, que puxa
válvulas, que olha o
relógio, que compra pão
às 6 da tarde, que vai
lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai. Mas eu
preciso ser Outros.
Eu penso
renovar o homem
usando borboletas.
. Manoel de Barros .

Manuel de Barros: sempre presente

http://youtu.be/eB5_l2NdRLc

22 de outubro de 2014

Contenda na concorrência, por Artur Alonso Novelhe


A espécie extermina outras espécies,
denota providência.
Ocupa imensa a plana maior
de todo o atemorizado planeta,
e ainda assim sempre se encontram,
por dentro, valeiros.
A espécie mata à rapina,
abre as entranhas da mãe
– terra na areia ferida –
e no entanto continuamente
se sente, a miúdo, vencida.
Hoje reúnem-se
perto dum combinado local
a determinada hora, em determinada altura,
para devorarem-se por si mesmos.
Maximus Sancti cum nomine do Primeiro Sacramento
A este ato denominam-no contenda.
Seu objetivo:
garantir cobiçados recursos
que a seguir em grandes celebrações dilapidam sempre,
com arrogância, alegremente;
como se dum obsequio a regalar se trate
porque Roma precisa, a um tempo,
degolar, incipiente, pela noite no pentecostes,
um anho renascido do velho carneiro preto;
para tirar, contra a dor, o pecado do insípido berço.
A espécie gosta do riso também
como das sêmolas de trigo
e da fartura.
Desfruta com fêmeas violadas
e meninhos fracos, emagrecidos,
com moscas na cara da núbil fotografia.
A espécie sabe dizer: me,
escreve gafanhotos com gralhas na ortografia
(porque adora pasigrafar
sua raiva em todo seu domínio)
Um constrói, outro o imita, um terceiro planifica;
afinal juntam tílias nos passeios e
camélias em grandes prédios, demolidos, ao lado
imensas praças, com teatros e alinhadas avenidas;
reluzentes desde um centro
simétrico – bem vos digo – ao
grande monumento equestre à aquele general
que – hoje mesmo antes da ceia executar
ordenou ocupar–decepar ou queimar com ardor
provisoriamente –
todas as florestas que virgens ainda restem
… por se acaso em alguma delas
se escondem os insurgentes.
(ego te absolvo…)

14 de outubro de 2014

A posição galega no contexto da língua portuguesa

 por Ângelo Cristóvão

 (Academia Galega da Língua Portuguesa)


A recente aprovação da lei 1/2014 de 24 de março, Lei Para o Aproveitamento 
da Língua Portuguesa e Vínculos com a Lusofonia, ou Lei Paz-Andrade, pela 
unanimidade dos deputados do Parlamento Autónomo da Galiza, representa 
uma mudança significativa na orientação da política linguística e na estratégia 
global da Comunidade Autónoma galega, que precisa de concretização através de
ações do governo e da imprescindível colaboração da sociedade.
Durante as últimas décadas, todo o esforço de relacionamento e aproximação
linguística e cultural da Galiza em relação aos países de língua portuguesa 
foi realizado por personalidades e entidades da sociedade civil, em condições 
de escasso ou nulo apoio político. Estamos agora numa nova etapa em que 
essa experiência, esse caminho e discurso de integração no espaço 
lusófono é recolhido e legitimado institucionalmente, politicamente.
A base deste êxito reside no trabalho do movimento lusófono galego, e mais 
recentemente nas mais de 17 000 assinaturas de cidadãos que apoiaram 
a Iniciativa Legislativa Popular Valentim Paz-Andrade. Apresentada com 
grande sucesso pelo porta-voz da Comissão Promotora da ILP, José Morell, 
foi aprovada pela unanimidade dos deputados para tramitação 
no Parlamento da Galiza, 
em 8 de março de 2013. Aceite o texto inicial, num segundo momento foi 
preciso chegar a um entendimento sobre a redação definitiva da lei. 
O governo e o grupo parlamentar do Partido Popular que o sustenta 
decidiu, em outubro de 2013, negociar o texto com os promotores da
 iniciativa em representação dos assinantes, da sociedade civil. 
Nesta negociação procurou-se recolher, quanto possível, 
as propostas dos grupos da oposição, PSdeG e AGE, apresentadas 
formalmente através de emendas ao texto originário. Também 
foi tido em conta o ponto de vista dos representantes de algumas 
instituições culturais tradicionalmente contrárias à lusofonia galega, 
de forma que não ficassem excluídas do acordo político.
Desta forma, num processo de consultas e diálogo que se prolongou 
durante vários meses, a Comissão Promotora da Iniciativa Popular
 Valentim Paz-Andrade, com a colaboração ativa e discreta de todas 
as partes implicadas, logrou o mais amplo consenso possível, pondo de 
acordo o governo e os grupos da oposição numa unanimidade infrequente.
A negociação converteu os promotores da lei Paz-Andrade e, em definitivo, 
as entidades lusófonas galegas, em interlocutoras de facto e cooperadoras 
necessárias na aplicação da Lei. A Comissão Promotora, com o apoio 
de personalidades da cultura e o assessoramento das associações 
lusófonas galegas, entre as quais a AGLP elaborou, durante o 
verão de 2013, um Parecer sobre as possíveis linhas de 
atuação a desenvolver na aplicação da lei. Foi apresentado pelo 
nosso colega Joám Evans Pim em outubro de 2013 na 
II Conferência Internacional sobre o Futuro da Língua Portuguesa no 
Sistema Mundial, realizada na Universidade de Lisboa, e entregue ao governo 
galego e grupos do Parlamento Autónomo, recebendo uma excelente acolhida. 
O documento, disponível na Rede, inclui algumas das medidas que o governo 
autónomo poderia aplicar nos próximos tempos nas três áreas de intervenção 
dispostas na lei: a) Introdução do ensino do português no sistema escolar galego; 
b) Produção, intercâmbio e divulgação de produtos audiovisuais em português nas 
televisões e rádios da Galiza; c) Participação da Galiza em foros internacionais 
de língua portuguesa, como os da CPLP.
A Lei, aprovada por unanimidade dos deputados em março de 2014, foi publicada 
no Diário Oficial da Galiza em 8 de abril e posteriormente no Boletim Oficial do 
Estado espanhol, entrando em vigor sem que o governo de Madrid tenha 
apresentado reparo algum ao seu conteúdo, o que constitui outra prova da 
abrangência do consenso que esta iniciativa tem gerado.
Do ponto de vista das políticas linguísticas no Estado espanhol, é o único 
caso em que uma Comunidade Autónoma aprova uma lei para promover uma 
língua de um estado vizinho que é, também, língua oficial em outros 
8 estados geograficamente situados em todos os continentes. Contudo, 
dizer isto é ficar muito aquém da intenção do legislador e do significado 
do texto, pois a própria lei, no seu preâmbulo, reconhece a singular relação 
entre a variedade portuguesa e a variedade galega da língua comum, 
assinalando o facto de existir uma fácil “intercompreensão” entre os 
falantes de aquém e além Minho. Ficou estabelecida, deste modo, uma 
fórmula de compromisso aceitável por todas as partes que não acarreta 
mudanças na legislação vigorante, amparando a promoção da língua portuguesa 
nas “competências em línguas estrangeiras” da Comunidade Autónoma Galega.
Aceite este princípio, com um consenso alargado a todas as forças políticas e 
administrações implicadas, estamos certos que este passo legal facilitará a 
criação de fórmulas institucionais para que o amplo abano de associações 
e instituições culturais e cívicas lusófonas da Galiza possam desenvolver em 
pleno todas as suas potencialidades, e a sociedade venha tirar proveito 
da nossa língua comum como instrumento eficaz de comunicação 
e vertebração nacional.
A situação faz virar a atenção para diversos reptos, dificuldades e 
carências que se abrem nesta altura. É preciso perceber adequadamente a 
relação da língua portuguesa com os cidadãos galegos. Atendendo à realidade 
social, sabemos que podem existir vários tipos de motivações para aprender o 
português padrão. Enquanto para alguns é adquirir conhecimentos da língua 
nacional da Galiza, que lhes permite usar o galego com plenitude, para outros 
será uma língua de relação instrumental, laboral ou cultural. 
Todos são legítimos e coexistem na nossa sociedade. Uma grande maioria 
se aproxima do português com um nível alto de compreensão prévia, 
por conhecimento da variedade galega. Poderíamos dizer que, em termos gerais, 
os galegos não começam no grau zero, mas no nível intermédio. Dar aulas de 
português padrão na Galiza não é o mesmo que ministrar noutras latitudes 
linguísticas. Os docentes conhecem este facto e são conscientes da necessidade 
de adaptar os manuais escolares ou criar uns novos, específicos, para os nossos estudantes.
Por outro lado, a ninguém escapa que o período de políticas antilusófonas, 
desenvolvidas durante as últimas 3 décadas pelos sucessivos governos autónomos, 
criou uma rede de interesses que, nesta altura, manifesta uma evidente resistência 
à mudança, resultando difícil de ultrapassar no curto prazo. Será preciso tê-lo 
em conta e fazer uma gestão apropriada desta questão.
A necessidade de promover uma norma do português galego, ideia até agora 
restrita a poucas entidades, começará a ter em breve uma maior audiência pela 
força do desenvolvimento dos factos. Precisa-se entender que a norma galega se 
insere no português europeu e dentro dos critérios aprovados pelo Acordo Ortográfico 
de 1990, mas apresenta características próprias na pronúncia, léxico, algumas 
formas verbais e, em geral, uma maior proximidade do antigo galaico-português. 
A articulação de fórmulas para a participação galega nos foros internacionais da 
língua portuguesa leva consigo esta opção que, como oportunidade, se revela 
também de grande versatilidade discursiva, entre a unidade gráfica e o necessário 
reflexo de traços identitários da Galiza. A este respeito, cabe lembrar que a 
utilização do português padrão em foros internacionais é cada vez mais normal 
entre os representantes políticos eleitos, como se tem evidenciado no 
Parlamento Europeu, e não só.
A recente revisão, ampliação e adaptação do Dicionário Estraviz ao Acordo Ortográfico, 
primeiro dicionário galego da língua portuguesa, é mostra do empenho e bom fazer 
do seu autor, Isaac Alonso Estraviz, e da capacidade de colaboração entre 
entidades galegas (AGAL, AGLP e Fundação Meendinho) para contribuir 
de forma eficaz e atual a este património comum. Com 130 000 entradas é o 
maior dicionário produzido na Galiza, sendo atualizado diariamente. 
Em breve o Vocabulário Ortográfico Galego, em cuja elaboração está trabalhando 
uma comissão da AGLP sob a direção do académico Carlos Durão, 
com um número similar de entradas, virá completar o perfil lexicográfico galego.
A mudança que se está a operar na Galiza, com a aprovação da lei Paz-Andrade, 
não pode deixar indiferentes as instituições da CPLP nem os governos 
representados. Especialmente Portugal, que tem, nesta altura, uma dupla 
responsabilidade. Os redatores da lei Paz-Andrade quiseram manter e consolidar 
um dos signos mais enraizados na tradição da cultura galega, assinalando 
Portugal como sócio preferente da Galiza. Um privilégio que, em ocasiões, 
não tem encontrado correspondência em determinados governos portugueses. 
São umas relações alicerçadas no intercâmbio cultural que, desde meados 
do século XIX se vem produzindo entre intelectuais galegos e portugueses, 
e que, no nosso entender, ninguém tem direito a dilapidar.
Vistos os factos e consideradas as condições atuais, podemos dizer 
que a posição galega no contexto da língua portuguesa foi representada 
até agora por entidades privadas, da sociedade civil e de cariz claramente 
reintegracionista, participando em numerosos eventos de âmbito cultural 
ou académico, estabelecendo relações perduráveis, criando iniciativas 
transfronteiriças, tecendo relações e amizades. O Parlamento aprovou uma
 lei que assume e legitima este longo percurso histórico. Em breve serão também 
outros atores, como o Governo Galego, a manter uma posição e um discurso 
institucional público em relação à língua portuguesa. Não é previsível que 
esta coincida com a da Academia Galega da Língua Portuguesa, pois aquele 
tem outros compromissos e atende outros critérios, menos técnicos, mais políticos. 
Contudo o interesse geral aponta para a necessidade de manter esta 
colaboração mútua, já solicitada e confirmada publicamente pelo Secretário-Geral 
de Política Linguística do governo autónomo, durante a sua intervenção no 
Seminário que sobre a Lei Paz-Andrade organizou a AGLP em Santiago de Compostela 
em 26 de junho de 2014.
O grande repto que temos pela frente é manter a coordenação 
entre todos os atores galegos, 
o que reforçaria esta posição já conhecida e elaborada durante as
últimas décadas 
por diversos agentes culturais, universitários e intelectuais galegos 
no espaço da língua portuguesa.
A estratégia da Galiza no processo de aproximação da Lusofonia 
beneficia desta tradição consolidada, do facto fazer parte do 
território originário da língua comum, da sua localização geográfica, 
da longa tradição de país com vocação marítima e atlântica, das amplas 
redes tecidas pela emigração nos quatro cantos do mundo, da ausência 
de conotações históricas negativas no imaginário coletivo dos falantes de 
português, e de ser um espaço com um alto nível económico e de 
desenvolvimento humano próximo da média europeia, o que poderá 
resultar atraente para os países emergentes e em vias de desenvolvimento.
A Galiza conta, portanto, com uma boa posição de partida, com vantagens 
claras que deverá saber maximizar, mesmo em relação a outros atores próximos, 
no desejável horizonte de um relacionamento triangular estável entre a Europa, 
América e África, sem esquecer Timor, Macau e os territórios de 
língua portuguesa da Ásia. (Fonte MIL)

(*) Comunicação ao XXII Colóquio da Lusofonia  - Seia, Portugal - 29 setembro 2014

8 de outubro de 2014

A língua portuguesa

A língua portuguesa, junto com a francesa, são as ÚNICAS línguas neolatinas 
na face da Terra que são completas em todos os sentidos... quem fala português 
ou francês de nascimento, é capaz de fazer proezas como esse texto com a 
letra "P". Só o português e o francês permitem isso...  a língua inglesa, 
se comparada com a língua portuguesa, é de uma pobreza de palavras 
sem limites... portanto, antes de estudar uma outra língua, 
se aperfeiçoe na sua, combinado?!
 

A LETRA "P"

"Apenas a língua portuguesa nos permite escrever isso...
     
Pedro Paulo Pereira Pinto, pequeno pintor português, 
pintava portas, paredes, portais. Porém, pediu para 
parar porque preferiu pintar panfletos. Partindo 
para Piracicaba, pintou prateleiras para poder progredir.

Posteriormente, partiu para Pirapora. Pernoitando, 
prosseguiu para Paranavaí, pois pretendia praticar 
pinturas para pessoas pobres. Porém, pouco praticou, 
porque Padre Paulo pediu para pintar panelas, porém 
posteriormente pintou pratos para poder pagar promessas.
Pálido, porém personalizado, preferiu partir para 
Portugal para pedir permissão para Papai para 
permanecer praticando pinturas, preferindo, portanto, 
Paris. Partindo para Paris, passou pelos Pirineus, 
pois pretendia pintá-los.

Pareciam plácidos, porém, pesaroso, percebeu 
penhascos pedregosos, preferindo pintá-los 
parcialmente, pois perigosas pedras pareciam 
precipitar-se principalmente pelo Pico, porque 
pastores passavam pelas picadas para pedirem 
pousada, provocando provavelmente pequenas 
perfurações, pois, pelo passo percorriam, 
permanentemente, possantes potrancas. Pisando Paris, 
permissão para pintar palácios pomposos, procurando 
pontos pitorescos, pois, para pintar pobreza, 
precisaria percorrer pontos perigosos, pestilentos, 
perniciosos, preferindo Pedro Paulo precaver-se.
Profundas privações passou Pedro Paulo. 
Pensava poder prosseguir pintando, porém, 
pretas previsões passavam pelo pensamento, 
provocando profundos pesares, principalmente 
por pretender partir prontamente para Portugal. 
Povo previdente! Pensava Pedro Paulo... 
Preciso partir para Portugal porque pedem 
para prestigiar patrícios, pintando principais 
portos portugueses. Paris! Paris! Proferiu Pedro Paulo.

Parto, porém penso pintá-la permanentemente, 
pois pretendo progredir. Pisando Portugal, Pedro Paulo 
procurou pelos pais, porém, Papai Procópio partira 
para Província. Pedindo provisões, partiu prontamente, 
pois precisava pedir permissão para Papai Procópio 
para prosseguir praticando pinturas.
Profundamente pálido, perfez percurso percorrido 
pelo pai. Pedindo permissão, penetrou pelo portão 
principal. Porém, Papai Procópio puxando-o pelo 
pescoço proferiu: Pediste permissão para praticar 
pintura, porém, praticando, pintas pior. Primo Pinduca 
pintou perfeitamente prima Petúnia. Porque pintas porcarias? 
Papai proferiu Pedro Paulo, pinto porque permitiste, 
porém, preferindo, poderei procurar profissão própria 
para poder provar perseverança, pois pretendo permanecer 
por Portugal.

Pegando Pedro Paulo pelo pulso, penetrou pelo patamar, 
procurando pelos pertences, partiu prontamente, pois 
pretendia pôr Pedro Paulo para praticar profissão perfeita: 
pedreiro! Passando pela ponte precisaram pescar para 
poderem prosseguir peregrinando.

Primeiro, pegaram peixes pequenos, porém, passando pouco 
prazo, pegaram pacus, piaparas, pirarucus. Partindo 
pela picada próxima, pois pretendiam pernoitar pertinho, 
para procurar primo Péricles primeiro. Pisando por 
pedras pontudas, Papai Procópio procurou Péricles, 
primo próximo, pedreiro profissional perfeito.

Poucas palavras proferiram, porém prometeu pagar 
pequena parcela para Péricles profissionalizar Pedro Paulo. 
Primeiramente Pedro Paulo pegava pedras, porém, Péricles 
pediu-lhe para pintar prédios, pois precisava pagar 
pintores práticos. Particularmente Pedro Paulo preferia pintar 
prédios. Pereceu pintando prédios para Péricles, pois 
precipitou-se pelas paredes pintadas. Pobre Pedro Paulo. 
Pereceu pintando...
Permita-me, pois, pedir perdão pela paciência, pois 
pretendo parar para pensar... Para parar preciso pensar. 
Pensei. Portanto, pronto pararei.