BRASÍLIA: PATRIMÔNIO AMEAÇADO
(E SOB A INSPEÇÃO DA UNESCO)
EMANUEL MEDEIROS VIEIRA
“Projetar Brasília
para os Políticos que vocês colocaram lá, foi como criar um lindo vaso de
flores para vocês usarem como penico. Hoje eu vejo, tristemente, que Brasília nunca
deveria ter sido projetada como forma de avião, mas sim de Camburão”
(Oscar Niemeyer)
Desembarcaram em Brasília no dia 13 (terça-feira) deste mês,
dois especialistas indicados pela Unesco para visitar a cidade e analisar as
irregularidades espalhadas pela capital federal.
A missão – como lembra a jornalista Helena Mader – foi
solicitada pelo Centro do Patrimônio Mundial da Unesco, em Paris, devido às
inúmeras denúncias de agressões à concepção da cidade.
As autoridades brasileiras e representantes do GDF (Governo
do Distrito Federal), como do governo federal, precisarão dar satisfação à
Unesco em relação às ilegalidades.
Um dos eixos do trabalho será o relatório produzido em 2001,
quando Brasília recebeu a última visita da instituição
.
O Plano original do Plano Piloto tem sido constantemente deturpado
e violado: fizeram “puxadinhos”, pilotis foram cercados, construíram coberturas
irregulares, invadiram áreas e terras públicas. E muito mais.
Os especialistas (o argentino Luís Maria Calvo e o espanhol
Carlos Sambrício) também querem analisar legislações relacionadas à preservação
do patrimônio, como o Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília
(PPCUB), apresentado no mês passado e o Plano Diretor de Ordenamento
Territorial (Pdot), cujo projeto de revisão está parado na Câmara Legislativa
(basta a última informação para causar arrepios...).
Depois da visita, os especialistas terão até 6 de abril para
elaborar o relatório relativo à missão.
O documento será entregue no Centro de Patrimônio Mundial e
também deve ser encaminhado para debate na reunião anual da Unesco, que será
realizado em julho deste ano, na cidade de São Petersburgo, na Rússia.
Na primeira visita, representantes da organização pediram
pressa ao governo local para ser criada uma zona de proteção ao redor da área
classificada como patrimônio mundial e recomendaram que o governo desse prioridade
à elaboração de um plano diretor para a região protegida.
“As medidas só começaram a sair do papel no mês passado, com
atraso de mais de uma década e às vésperas da chegada segunda missão a Brasília”,
lembra Helena Mader.
Brasília surgiu a partir do cruzamento de duas linhas.
Como observou alguém, a simplicidade do traçado de Lúcio
Costa é a essência do Plano Piloto.
Há exatos 25 anos, a
importância dessas ideias inovadoras foi reconhecida e a cidade recebeu o
título de Patrimônio Mundial a Humanidade.
“Mas hoje a leveza do desenho de Brasília, vencedor do
concurso que escolheu o projeto da nova capital, contrasta coma vulgaridade e
com a falta de padronização das construções irregulares”, sublinha um
observador.
Os problemas dos
brasilienses ganharam dimensão internacional e serão escancarados para o mundo
inteiro.
Um triste exemplo: a quantidade de edifícios acima da altura
permitida chama a atenção e mudou completamente a paisagem a antiga área dos
pioneiros.
È a ganância, a cobiça, a corrupção disseminada, péssimos
governos, o espírito predatório de muitos “construtores”, e uma classe política
que é uma das piores do Brasil.
Não é queixa nostálgica.
É a qualidade de vida
das próximas gerações que também está em jogo.
Quero dizer: é a própria vida que está em jogo.*
*Na redação do texto, utilizei trechos de matérias
publicadas sobre o assunto em jornal da capital, de autoria de Helena Mader.
(Brasília, março de 2012)
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