Stanislaw Ponte Preta escreveu o FEBEAPÁ, satirizando o Brasil de cabo a rabo na época do regime militar. Comprei diversas vezes, porque a turma pedia emprestado e não devolvia (ah, mas tenho amigos que devolvem livros, não é incrível?). Jamais tive a menor dificuldade em encontrálos. Qualquer livraria tinha aos montes. Recebi um e-mail idiota de um patrulheiro não menos que babava ódio contra o livro do coronel Ulstra, na base do “é mentira! É mentira! É mentira!”, mas sem qualquer consistência para rebater as informações. Embora todo mundo tenha o direito natural de expressar sua opinião, eu não dou crédito a patrulhas sem conteúdo. Não dou bola para slogans repetidos à exaustão, já disse um sem número de vezes. Mas fiquei curioso e quis comprar o livro... mas que é de? Rapaz, como está difícil de achar!
Agora, recebo este artigo de meu mano José Maurício. E leio que a corja de preconceituosos que ocupa cargos no poder – vou repetir: a corja de preconceituosos que ocupa cargos no poder – pretende usar o Ministério Público Federal para amordaçar editoras que publiquem o dicionário Houaiss!!
Não dá para acreditar!
Comecei minha vida em cima dos Elementos de Bibiologia, do Antonio Houaiss. Boa parte das dúvidas que tive, ao longo de minha carreira – e foram muitas – foram tiradas pela Enciclopédia Mirador. Ela ainda está lá, na minha estante, desde a década de 1970. Não preciso repetir quem foi Houaiss. O José Maurício já deu uma boa informação.
E é esse Antônio Houaiss que esse bando de imbecis quer censurar? Leiam para ver o descalabro.
Vou parar por aqui. Está difícil escrever sem dizer palavrão e eu ainda me considero um homem razoavelmente educado.
“É proibido censurar”, vocês lembram da música? Ah, mas só de um lado. Quando a gente chega no poder, pode tudo. A ralé tem que pensar em bloco para que a ignorância dos que chegaram ao poder não fique tão patente.
Bando de boçais inconsequentes!
Vamos ver se essa estupidez ainda encontra defensores entre homens inteligentes. Estamos chegando ao É proibido discordar. Daqui a pouco vem o É proibido pensar.
Nessas horas, lamento não ser coronel para assinar o tal manifesto. Falta de caráter tem limite.
JG
“Um livro no banco dos réus”
Antônio Houaiss é o nome de um dos maiores filólogos brasileiros, tendo sido também destacado escritor, crítico literário, tradutor, diplomata e Ministro da Cultura. Nasceu em 1915 e viveu até 1999, dedicando sua existência à cultura brasileira e à vida intelectual. Cedo se deixou cativar pelo latim e pelos clássicos gregos. Aos dezesseis anos já lecionava português, atividade que exerceu durante toda sua vida. Houaiss ocupou cargos importantes como membro da Academia das Ciências de Lisboa e presidente da Academia Brasileira de Letras. Era conhecido como o "maior estudioso das palavras da língua portuguesa nos tempos modernos". Houaiss aliava o rol de méritos e talentos à modéstia, definindo-se como um mero “estudiosozinho da Língua Portuguesa”. Escreveu dezenove livros (sendo que na Academia Brasileira de Letras existem acadêmicos que não escreveram nenhum...) e elaborou as duas enciclopédias das mais importantes realizadas no Brasil: a Delta-Larousse e a Mirador Internacional. Publicou dois dicionários bilíngues inglês-português e organizou o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras. Entre seus maiores feitos literários está a de tradução do complexo romance Ulisses de James Joyce. Foi em 1986 que Houaiss iniciou seu mais ambicioso projeto: o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa que só foi concluído após a sua morte e pelo empenho de Mauro Villar.
O INSTITUTO ANTÔNIO HOUAISS foi criado primeiro no Brasil e a seguir em Portugal, para divulgar a cultura da língua portuguesa em ambos os países. A obra de Houaiss é tão extensa e importante que só uma equipe permanente de especialistas seria capaz de cuidar dela. O Instituto aplica os recursos advindos das obras e de parcerias com empresas na contínua revisão e atualização de suas publicações. Obras principais do Instituto: “Dicionário Houaiss na Nova Ortografia”, “Gramática Houaiss”, “Dicionário Houaiss de Sinônimos e Antônimos”, “Escrevendo pela Nova ortografia”, “Mini Houaiss”, “Meu Primeiro Dicionário Houaiss”, “Dicionário Houaiss da MPB”, “Dicionário Houaiss em CDROM”, “Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa”. Desculpem-me o trocadilho – mas se Antônio Houaiss estivesse vivo diria um solene UAI!? diante da ação agora proposta pelo Ministério Público Federal contra editoras que publicam dicionário Houaiss. O colunista da Folha, Hélio Schawrtsman considerou despropositada a ação que pede a retirada de circulação do dicionário Houaiss, porque a obra contém 'expressões pejorativas e preconceituosas'. E essa caça federal ao dicionário teve seu berço em Uberlândia, em minha jurisconsulta Minas Gerais de tantos Carlos Drummond de Andrade, tantas Adélia Prado, Affonso Romano de Sant'Anna, Alphonsus de Guimaraens, Antônio Augusto de Lima Júnior, Autran Dourado, Bernardo Guimarães, Ciro dos Anjos, Cláudio Manuel da Costa, Darcy Ribeiro, Eduardo Frieiro, Fernando Sabino, Guimarães Rosa, Lúcia Machado de Almeida, Manuel Inácio da Silva Alvarenga, Mário Palmério, Murilo Rubião, Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos, Murilo Mendes, Pedro Nava, Godofredo Rangel, Roberto Drummond, Henriqueta Lisboa, Rubem Fonseca, sem falar nos Zuenires, Zélios, Ziraldos, Stellas, Nelsons , Josés e Zés e Marias, Horácios , Giocondas, Gilbertos , Geraldos , Dilermandos , Coelho (que não paulos), Celsos , Cecílios, Benitos, Beatrizes, Bartolomeus, Antônios , Annas e Anas, Aníbals, Andrés , Alexandres e Agostinhos... uffff
A ação solicita a imediata retirada de circulação, suspensão de tiragem, venda e distribuição das edições do dicionário. Eu tenho um exemplar e tratei de escondê-lo debaixo da cama, assim como fazia na época de estudante, com os livros marxista-leninistas. O comunicado do Instituto Antônio Houaiss diz, em nota oficial, entre outras coisas, terem recebido em maio de 2010, uma recomendação da Procuradoria da República do estado de Minas Gerais a respeito de significados atribuídos pelo Dicionário a determinada expressão. O Instituto esclarece: o texto publicado em 2001 (1ª edição) não teria novas reimpressões, tendo sido alteradas a definição em questão, assim como todas as palavras ligadas ao tema; que estavam, por isso mesmo, preparando uma 2ª edição que ficou pronta no final de 2011, não havendo como imprimi-la e publicá-la até agora. O Instituto Antônio Houaiss esclarece (para os que não sabem) que os dicionários “não criam termos na língua; eles apenas refletem, como espelhos, as ocorrências com que se deparam, não os usando, portanto, com intenção de atacar, ferir ou menosprezar pessoas ou grupos”; e que tais verbetes vêm, modernamente, sempre acompanhados de uma observação sobre o fato de que tal acepção é pejorativa, registrando o que ocorreu ou ocorre na língua falada e escrita, tanto no padrão culto como no informal, pois dicionários não inventam palavras nem acepções. E exemplifica, com ótimo argumento, que não se pode eliminar dos dicionários as palavras guerra, tortura, violência, pedofilia supondo, com isso, impedir que tais atos aconteçam. É como fazem os dicionários modernos em todo o mundo, afirma o Instituto.
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