EMIGRADOS
Emigrados:
seremos sempre,
emigrados.
Em
busca de outro mar,
da
última ilha,
seguindo os pássaros,
atrás do último pássaro.
De
um mar a outro,
de
uma ilha à outra ilha,
e, então,
dormiremos,
uma noite sucedendo-se à outra.
(Tela de Rômulo Andrade)
HOMEM DIANTE DO MAR
Homem diante
do mar
(instância
interrogativa).
Precária caravela.
E finita: a
vida
Trapiche:
o homem só
contempla
(desembarcado).
No estatuto
da memória:
ele se interroga.
(Nunca mais a
ação.)
No porto: a
rapariga rosada estendeu o lenço.
Limo:
foram-se a juventude, trapiche, rapariga,
lenço.
(Mátria: sou
apenas um homem diante do mar.)
Desterro?
O instante convertido
em sempre?
O homem
desembarcado só pode viver de memória:
diante do
mar.
2 comentários:
Este poema pode ombrear com o da grande Rosalia de Castro: Cantar da Emigração, eternizado pelo grande cantor/poeta português precocemente desaparecido - Adriano Correia de Oliveira. E cria-se um círculo: Galiza, Portugal, Brasil. Parabéns, Emanuel. Carlos Jorge Mota
As escrituras do amigo Emanuel são sempre lúcidas e bem acompanhadas de poeticidade. Afinal, a poesia fala o que os homens tentam calar.
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