HOMENAGEM/UnB - 30/06/2011
João Campos - Da Secretaria de Comunicação da UnB
A luta de José Luís Poças Leitão Conceição e Silva por justiça social no campo e pela integração entre Brasil e Portugal chegou ao fim na manhã da última terça-feira, 28 de junho. Pioneiro do extinto Centro Brasileiro de Estudos Portugueses (CBEP) da UnB, o professor Conceição morreu aos 93 anos em Brasília, cidade que adotou como lar há mais de 40 anos, quando deixou sua terra natal. Ele estava internado desde a última sexta-feira em consequência de complicações pulmonares.
A chegada do docente lusitano ao Brasil ocorreu em 16 de maio de 1967. Naquele dia, Conceição desembarcou em Brasília com mais seis familiares: esposa, quatro filhos menores de idade e o sogro. A vinda para o país sul americano surgiu do convite do filósofo lusitano Agostinho da Silva, fundador do CBEP da UnB. Logo que chegou à capital, Conceição assumiu a direção-executiva do antigo centro.
Professor pioneiro da UnB, José Santiago Naud lembra que a vinda do amigo foi um presente para a universidade. “Ele saiu de Portugal na época do regime autoritário de Salazar, que não deixou espaços para o pensamento libertário”, conta. “Ao lado de Agostinho e Eudoro (de Sousa), Conceição nos presenteou com uma interpretação única da arte portuguesa durante o Renascentismo”, completa.
Arquivo pessoal Professor Conceição com os quatro filhos, nos primeiros anos de Brasília
A passagem pela UnB teve um intervalo em 1972, com a demissão por motivos políticos e ideológicos. Influenciado pelo pensamento Marxista, Conceição teve uma história de dedicação à emancipação rural em Portugal e no Brasil. Em 1989, por recomendação do reitor Cristovam Buarque, ele entrou com um processo de reintegração à universidade com base na anistia concedida na Constituição de 1988.
Um dos trabalhos mais conhecidos do professor é a interpretação dos painéis de Nuno Gonçalves, pintor lusitano do século XV, publicados no livro Os Painéis de Dom Afonso V e o Futuro do Brasil. Mas o professor Conceição não se dedicou apenas à escrita. Conhecido pela versatilidade, ele também atuou como matemático, violinista, tenista, entre outras atividades. “Era um militante de diversas áreas”, conta Santiago.
ÚLTIMA ENTREVISTA – A UnB Agência fez a última entrevista concedida por Conceição. Em meados de abril deste ano, ele recebeu repórter e fotógrafo na sala do apartamento onde viveu com a esposa, Dona Celestina, na Asa Norte. Ali, com a ajuda da companheira, o docente relatou episódios que marcaram sua rica trajetória dentro e fora do país, como o que inspirou a música Refazenda, de Gilberto Gil.
Na ausência do trabalho acadêmico após a demissão da UnB, Conceição e os amigos Roberto Pinho e Luiz Pontual decidiram comprar uma fazenda próximo à Luziânia (GO) para a produção de alimentos e pesquisas tecnológicas: a Fazenda Guariroba. “Lá tinham duas casas onde ficavam os trabalhadores da propriedade e uma exuberante área verde espalhada pelos seus 1.300 hectares”, contou Conceição.
A fartura de Guariroba – palmeira nativa do Cerrado – era uma das marcas da propriedade. “Era uma área muito bonita e agradável”, ressaltou Conceição. Amigo de Roberto Pinho, o cantor Gilberto Gil fez uma visita à propriedade em meados da década de 1970. “Ele ficou impressionado com a beleza do lugar e com a proposta alternativa que tínhamos", lembrou Conceição. Com o violão a tiracolo, o músico acabou compondo os versos de Refazenda durante a visita:
“(...) Refazendo tudo;
Refazenda;
Refazenda toda;
Guariroba (...)”.
Assim como a propriedade de Conceição e companhia deixou saudades no compositor baiano, a morte do professor conhecido pelos poucos sorrisos, mas pela imensa capacidade de se relacionar deixou saudades nos familiares, amigos e admiradores. “Conceição nunca vai morrer. Para a felicidade de todos, seu pensamento ficará para sempre”, conclui o professor e amigo José Santiago Naud.
(UnB Agência)
Nenhum comentário:
Postar um comentário