23 de novembro de 2011

Uma Economia em Transição Abrupta



           
por Diogo Vaz Guedes, presidente da GESPURA

           A tempestade que varreu os mercados financeiros durante os últimos 2 anos e a gravidade da crise nas finanças públicas dos países mais desenvolvidos do mundo, veio por em causa um conjunto abrangente de despesas públicas, investimentos públicos e privados e despesas na protecção do Estado social que estão a provocar alterações significativas no padrão de comportamento das organizações privadas, dos governos e das famílias porventura aceitando o princípio de que todos vivíamos acima das nossas possibilidades e que temos de fazer uma cura de emagrecimento e humildade que nos leve de novo a um caminho de crescimento, desenvolvimento e prosperidade baseados em inovação e respeito pelo ambiente, protecção dos países menos desenvolvidos, redução drástica das políticas de subsidiação e alteração nos hábitos de consumo.
Esta crise não é no entanto só econômica e financeira, é também fortemente política pois põe a nu a "fragilidade" do crescimento dos países que tinham estruturado a sustentabilidade do seu desenvolvimento baseado em grandes projectos de construção e de promoção imobiliária, criando com isso expectativas infundadas nos agentes econômicos de financiamento ilimitado, de taxas de juro insustentavelmente baixas e de despesismo faraônico e por vezes inútil.
A consequência deste alinhamento de interesses públicos e privados que durante anos promoveu a prosperidade de um conjunto alargado de países do mundo mais desenvolvido, é que o ajustamento das suas economias é posto à prova duma maneira abrupta, violenta e devastadora para um conjunto alargado de agentes econômicos que gravitavam tranquilos à volta deste modelo de crescimento e desenvolvimento e que não resistem a uma necessidade de adaptação muito rápida que lhes exige em simultáneo diversificação, internacionalização e redimensionamento.
De facto, Portugal tem um "cluster" na área da construção e transportes que, segundo um estudo da Deloitte publicado em 2009 vale cerca de 28% do PIB, e cuja dívida ao sector financeiro multiplicou por 4 durante os últimos 10 anos. De igual modo, uma parte significativa deste tecido empresarial iria continuar a depender fortemente das Parcerias Público Privadas e das concessões de infra-estruturas que estavam previstas no Plano do Governo, designadamente as rodoviárias, o TGV e o novo aeroporto, entre outras.
Ora, sabemos hoje bem que vai inevitavelmente surgir um atraso significativo no desenvolvimento de infraestruturas o que impõe à nossa economia e particularmente a este "cluster" uma adaptação que irá ter consequências muito graves para as empresas e o desaparecimento de muitos postos de trabalho.
Acontece, no entanto, que a capacidade de absorção destes postos de trabalho e desta transição forçada neste sector tão importante em Portugal exige uma política sustentada de empreendedorismo e apoio às PME's que, embora pareça real à luz das várias iniciativas que conhecemos quer junto do sistema financeiro quer através das mútuas controladas pelo Estado nada acrescenta verdadeiramente ao modelo económico tradicional no qual temos vivido.
É certo que existem desde sempre um conjunto de 10 a 20 empresas portuguesas que, fruto da sua dimensão, da sua protecção estatal, da sua internacionalização e por vezes da qualidade da sua gestão representam uma base sólida de desenvolvimento empresarial e de presença portuguesa além fronteiras.
______________________________
Texto recolhido da obra Portugal E Agora? Que Fazer? Editor Horácio Piriquito. Deplano, 2010, pp. 38-39.
Imagem:internet

Nenhum comentário: