por Diogo Vaz Guedes, presidente da GESPURA
A tempestade
que varreu os mercados financeiros durante os últimos 2 anos e a gravidade da
crise nas finanças públicas dos países mais desenvolvidos do mundo, veio por em
causa um conjunto abrangente de despesas públicas, investimentos públicos e
privados e despesas na protecção do Estado social que estão a provocar
alterações significativas no padrão de comportamento das organizações privadas,
dos governos e das famílias porventura aceitando o princípio de que todos
vivíamos acima das nossas possibilidades e que temos de fazer uma cura de
emagrecimento e humildade que nos leve de novo a um caminho de crescimento,
desenvolvimento e prosperidade baseados em inovação e respeito pelo ambiente,
protecção dos países menos desenvolvidos, redução drástica das políticas de
subsidiação e alteração nos hábitos de consumo.
Esta
crise não é no entanto só econômica e financeira, é também fortemente política
pois põe a nu a "fragilidade" do crescimento dos países que tinham
estruturado a sustentabilidade do seu desenvolvimento baseado em grandes
projectos de construção e de promoção imobiliária, criando com isso
expectativas infundadas nos agentes econômicos de financiamento ilimitado, de
taxas de juro insustentavelmente baixas e de despesismo faraônico e por vezes
inútil.
A
consequência deste alinhamento de interesses públicos e privados que durante
anos promoveu a prosperidade de um conjunto alargado de países do mundo mais
desenvolvido, é que o ajustamento das suas economias é posto à prova duma
maneira abrupta, violenta e devastadora para um conjunto alargado de agentes
econômicos que gravitavam tranquilos à volta deste modelo de crescimento e
desenvolvimento e que não resistem a uma necessidade de adaptação muito rápida
que lhes exige em simultáneo diversificação, internacionalização e
redimensionamento.
De
facto, Portugal tem um "cluster" na área da construção e transportes
que, segundo um estudo da Deloitte publicado em 2009 vale cerca de 28% do PIB,
e cuja dívida ao sector financeiro multiplicou por 4 durante os últimos 10
anos. De igual modo, uma parte significativa deste tecido empresarial iria
continuar a depender fortemente das Parcerias Público Privadas e das concessões
de infra-estruturas que estavam previstas no Plano do Governo, designadamente
as rodoviárias, o TGV e o novo aeroporto, entre outras.
Ora,
sabemos hoje bem que vai inevitavelmente surgir um atraso significativo no
desenvolvimento de infraestruturas o que impõe à nossa economia e
particularmente a este "cluster" uma adaptação que irá ter
consequências muito graves para as empresas e o desaparecimento de muitos
postos de trabalho.
Acontece,
no entanto, que a capacidade de absorção destes postos de trabalho e desta
transição forçada neste sector tão importante em Portugal exige uma política
sustentada de empreendedorismo e apoio às PME's que, embora pareça real à luz
das várias iniciativas que conhecemos quer junto do sistema financeiro quer
através das mútuas controladas pelo Estado nada acrescenta verdadeiramente ao
modelo económico tradicional no qual temos vivido.
É
certo que existem desde sempre um conjunto de 10 a 20 empresas portuguesas que,
fruto da sua dimensão, da sua protecção estatal, da sua internacionalização e
por vezes da qualidade da sua gestão representam uma base sólida de
desenvolvimento empresarial e de presença portuguesa além fronteiras.
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Texto recolhido da obra Portugal E Agora? Que Fazer? Editor Horácio Piriquito. Deplano, 2010, pp. 38-39.
Imagem:internet
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