28 de junho de 2012

DESCARTÁVEL



(E os 15 minutos de fama)
EMANUEL MEDEIROS VIEIRA*
“Um homem sensato acreditará que é mais importante
o que o destino lhe concedeu do que o ele lhe negou.”
                         (Baltasar Gracian)
Vivemos num tempo de enorme velocidade
e de escassa concentração.
Tudo parece descartável, 
como as engenhocas eletrônicas que tantos amam.
Pois se você não tem uma vida interior profunda, 
vai buscar no “exterior” o que não consegue dentro de si.
Tem medo de sua própria interioridade.
Buscará o que não tem de si, “saindo de si mesmo”, 
em festas e baladas contínuas, em drogas de todas as espécies.
Não digo nada de novo? 
Eu sei. Parece platitude sentimental? Paciência.
É o chamado mecanismo de alienação
 (no conceito usado por Marx).
“Transfiro” para a vida dos outros 
(celebridades, cantores famosos) a minha própria vida. 
Renuncio a ela.
Cristo se recolheu no deserto para pensar.
Buda também.
E apesar de todo o maquinário,
 poucas vezes as pessoas pareceram 
tão solitárias e tão pouco solidárias.
É preciso começar lá de baixo.
É necessário educar nossos filhos desde cedo.
Não há milagre.  É trabalho lento,
 paciente, difícil. Que não cessa.
Mas as pessoas preferem os tais 15 minutos de fama.
E depois? O que resta?
As meninas querem serem  modelos,
 garotas do “Fantástico”,
 e os garotos jogadores de futebol.
É importante que nos fixemos em outro tipo de “tempo” 
(que fica internalizado através da memória).
Um tempo que preserve para os jovens o que
 Italo Calvino deixou escrito 
sobre essa “rapidez” do milênio no qual viveu.
 Esse é o tempo que importa:
 “O tempo que flui sem outro intento 
que o de deixar as ideias
 e sentimentos se sedimentarem, 
amadurecerem,
 libertarem-se de toda a impaciência 
e de toda contingência efêmera.”
*Escritor

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