30 de junho de 2012

SABER LER


                                           
                   A maior parte das imagens que circulam hoje são frutos
de um impulso econômico, para criar
produtos e mercados de consumo,
não para celebrar o espírito humano
ou para aprendermos mais ou sermos melhores.
É pura e simplesmente para fazer mais dinheiro.
Então, neste sistema,
se você lê profundamente uma imagem publicitária,
você a destrói, como diz Alberto Manguel.
A publicidade
– é claro que não digno nada de novo –
é feita para “convencer”,
manipular as emoções mais primárias
e, muitas vezes, para enganar.
E para tapear um povo prostrado
e sem cultura não é difícil.
Vejam as tantas igrejas
(o super-mercado universal da fé),
os tantos políticos, os tantos bingos camuflados,
os tantos sindicalistas, os tantos banqueiros,
os tantos usineiros, os tantos grileiros,
os tantos marqueteiros: todos impunes.
Enfim, é o reino da trambicagem.
Então
– seguindo as pegadas do autor citado –
é fundamental que possamos novamente
recuperar a dignidade humana de ler imagens
para buscar as verdadeiras,
para voltarmos a ser criaturas da memória.
Precisamos “saber ler”.
Sabendo ler, aprendemos com as gerações passadas
e com a nossa própria.
O que quero dizer?
Uma mulher não é solitária
porque não usa o sabonete tal,
o perfume daquela marca.
Não vai ser “amada”’ se usar aquele jeans.
O sorriso da “felicidade plena”
(que você obterá se conseguir tal produto)
é pura enganação.
Todos os carros são maravilhosos,
cada banco é melhor do que o outro.
Quando vemos as propagandas de mil cervejas,
com mulheres gostosonas,
malhadas e sorridentes, a mensagem é essa:
se bebermos tais produtos,
viveremos naquele clima de festa eterna.
E tudo isso vai entrando no inconsciente.
É subliminar, é lavagem cerebral.
Na segunda-feira temos o resultado no noticiário:
carros que viraram ferro retorcido
dirigidos por motoristas bêbados.
Não, não é moralismo: é defesa da vida.
E atores famosos, que já tem muito dinheiro,
fazem as tais propagandas de bebida alcoólica.
Exagero? Não creio.
Acho, no mínimo, anti-ético. É pura cobiça.
Quem faz propaganda de remédio,
deveria ingerir antes o produto e
só depois fazer a publicidade.
A Xuxa, Luciano Hulk
e tantos outros que ganham muito dinheiro
fazendo publicidade,
usam aqueles serviços dos quais dizem mil maravilhas?

A partir deste aprendizado,
poderemos enfrentar
as imagens da Coca-Cola e de todas as marcas.
Lendo “Madame Bovary”, de Flaubert,
você percebe que a infelicidade da mulher
não deriva do fato dela não usar o perfume tal.
As razões são outras, muito mais profundas.
O problema é que estamos vivendo
um momento de enorme velocidade e de
pouca concentração.
(Emanuel Medeiros Vieira)


                  

Um comentário:

Jorge da Paz Rodrigues disse...

Oportuno e certíssimo!
Parabens ao autor