30 de abril de 2011

poétiCAS

Língua Portuguesa
(autor: Gerson Valle, 1944, Brasil)

Mares de fala portuguesa,

pregadores da paz de toda parte,

lembremos da intenção inicial

de quando se partiu de Portugal,

dos sonhos da aventura posta em arte

por mares nunca dantes navegados.

Cantemos a epopéia vinda de Lisboa

nas vozes de Camões e Fernando Pessoa.

Para que fosses nosso,

quantas noivas ficaram sem casar,

Ó mar salgado, quanto de teu sal

São lágrimas de Portugal!

Valeu a pena?

Tudo vale a pena

se a alma não for pequena.

Quem quer passar além do Bojador

tem de passar além da dor.

Além de sofrimento

e dos males da civilização,

a história trouxe um porto mais humano

no caminho marítimo lusitano.

O aventureiro quis, por sua ação,

sonhar por outro mundo, mudar tudo.

E as descobertas lhe obrigaram a passar

das terras conquistadas à paz de outro mar!

Além do Cabo das Tormentas,

além de todo sofrimento,

a história traz um porto mais humano

no caminho marítimo lusitano.

A paz espera o seu momento;

o encontro de culturas diferentes

no sonho da aventura a se formar

num barco da mesma língua a navegar.
Texto e imagem recolhidos do encarte do CD da Cantata dos Dez Povos/Direção: Maestro Jorge Antunes.

28 de abril de 2011

Para Reflexão

Luz da Consciência



Estamos nessa vida para aprender, continuamente, e são raras as vezes que saímos do círculo vicioso dos acontecimentos, ou seja, todas as situações, todas as experiências por que passamos formam um abismo entre o que queremos, o que esperamos que aconteça e aquilo que verdadeiramente se manisfesta na nossa vida. O meio externo só reflete para nós aquilo que não queremos. Passamos a maior parte do nosso tempo nesse dilema, correndo atrás da felicidade, mas a realidade é uma só: esse mundo não pode fazer ninguém feliz. E por quê?
Gastamos muito tempo resistindo àquilo que não queremos que aconteça ou que se repita e acabamos atraindo justamente o que mais tentamos evitar. Isso acontece porque não encaramos as situações como elas se apresentam no momento, assumindo responsabilidade por elas. Não agimos e pensamos com calma, coerência, refletindo e perguntando, ao nosso coração, as respostas. Ficamos na negação e culpando as pessoas ou o meio externo pelos nossos fracassos.
Em uma das passagens bíblicas, Pedro perguntou a Jesus: "Qual é o pecado do mundo, aquele pelo qual se deve morrer?"
Jesus respondeu: "O pecado não existe; sois vós que o criam quando, assim como no adultério, sois infiéis à vossa verdadeira natureza e agis conforme o hábito de vossa natureza corrupta. Por isso o dom da luz Crística foi colocado em vós e, por essa razão Eu vim para vosso meio para restituir cada alma à sua verdadeira origem".
Aqui, na matéria, somos infiéis à nossa própria natureza porque não percebemos que existe um ponto de equilíbrio sagrado entre as realidades física e espiritual da consciência. A ajuda que devemos pedir é que sejamos auxiliados a descobrir esse ponto de equilíbrio sutil que habita o coração e esse poder é gerado por duas forças complementares: a luz e a escuridão.
Elas criam toda a perfeição. Se continuarmos ignorantes com relação a essas duas forças atuantes em todos, iremos fracassar em manter o equilíbrio em nossos relacionamentos, criando desarmonia, deixando que todas as dores e angústias vividas pelo espírito se revelem no momento presente.
Corrompemos a divindade existente em nós (as duas forças) na maioria das vezes para agradar aos outros, para sermos aceitos, ou mesmo para evitar situações de sofrimento que não queremos mais. Olhamos para o outro da mesma maneira, criando expectativas, esquecendo que dentro dele, assim como em nós, existe luz e escuridão, provavelmente, também desequilibradas.
Todo ser humano que conseguir agir pautado na verdade que todos têm seu ponto de equilíbrio, que, independentemente das diferenças individuais, possuem um ponto de união comum a todos, sairá da expectativa de que alguém o faça feliz. Perceberá que todos podem ser felizes, se quiserem, agora.
Não estamos aqui para fazer coisas, ter idéias e, sim, para nos livrarmos delas. Libertarmo-nos de crenças e padrões equivocados sobre nós mesmos e sobre os outros. E ninguém poderá fazer isso em nosso lugar. Um dia aceitamos essas idéias e crenças e agora somos nós que temos que nos livrar delas.
Só podemos ser felizes agora. Se nos preocuparmos em sermos felizes amanhã, ou ficarmos chorando a infelicidade de ontem, esqueceremos de ser felizes agora. Isso é adquirir o domínio da mente e alcançar esse ponto de equilíbrio. E não espere ser valorizado por isso aqui nessa sociedade, pois todo aquele que alcança esse feito, que passa a ser fiel à sua natureza, torna-se um verdadeiro mestre. Nesse ponto esse ser jamais irá procurar posições de poder, nunca irá oferecer aos outros técnicas milagrosas de cura, e nem lhe dirá o que deve ou não fazer. Ele procurará uma situação de anonimato e, simplesmente, irá encorajá-lo a assumir total responsabilidade pelo que lhe acontece. Irá auxiliá-lo a assumir seu Cristo interior para ser feliz no AGORA, no momento presente.(Vera Godoy)

(Texto enviado por Jayme Andrade)

23 de abril de 2011

Ressurreição

Bajo el Cielo (Pintura da artista argentina Marta Coll)


"Mas, sendo o Deus-Absoluto e a Trindade-Mundo simultâneos, como simultânea é a "expansão e a contração do Universo", natural é que tudo se processe simultaneamente em dois sentidos: o da passagem do absoluto ao relativo e o do trânsito do relativo ao absoluto, sendo o primeiro movimento o da passagem da liberdade ao determinismo e o segundo o processo inverso. Se na constituição do Deus-Absoluto como Trindade-Mundo a lei é o determinismo, podendo matematizar-se o real, já "ao retrair-se o Universo, ao passar a Trindade a Deus, [...] restabelece-se como lei a liberdade e o que depois surge pode ser totalmente diverso". Ou seja, na sempiterna e instantânea pulsão reintegrativa do criado no incriado, isto é, em mais radical instância, na decriação de Deus como criador, ou, pura e simplesmente, na decriação de Deus, no recolhimento da trinitária e cosmicizante auto-consciência divina, para além mesmo da sua paraclética unidade, à sua intimidade imanifestada, exuberante de virtualidades inatualizadas, tudo volta a ser possível e um mundo realmente novo pode advir que não seja uma mera reorganização do anterior, embora exteriormente o possa parecer. Há em tudo, a cada instante, como se pode verificar na experiência humana, a possibilidade de um início radical, a possibilidade da explosão de algo de absolutamente inédito. O que Agostinho tematiza em termos de salto quântico, por "uma concentração suprema do espírito" e da vontade, que transforme o sujeito e o mundo, ou de "estradas de Damasco", a cada momento entreabertas, onde, porventura já sem querer, se dá a metanóia pela qual "um homem se aniquila" e "outro diferente, até contrário, surge". Como conclui: "O Universo, a nós nos incluindo, não é estático: vai e vem, sobe e desce".


("Criação e Mística em Agostinho da Silva", in TEMPOS DE SER DEUS/A Espiritualidade Ecumênica de Agostinho da Silva, de Paulo Borges, Lisboa: Âncora Editora, 2006.)



22 de abril de 2011

poétiCAS

Viva o dia da Terra...
por mais distante o errante navegante, quem jamais te esqueceria... Caetano


Pintura de Rômulo Andrade

Quando eu me encontrava preso
Na cela de uma cadeia
Foi que vi pela primeira vez
As tais fotografias
Em que apareces inteira
Porém lá não estavas nua
E sim coberta de nuvens...
Terra! Terra!
Por mais distante
O errante navegante
Quem jamais te esqueceria...
Ninguém supõe a morena
Dentro da estrela azulada
Na vertigem do cinema
Mando um abraço prá ti
Pequenina como se eu fosse
O saudoso poeta
E fosses a Paraíba...
Terra! Terra!
Por mais distante
O errante navegante
Quem jamais te esqueceria...
Eu estou apaixonado
Por uma menina terra
Signo de elemento terra
Do mar se diz terra à vista
Terra para o pé firmeza
Terra para a mão carícia
Outros astros lhe são guia...
Terra! Terra!
Por mais distante
O errante navegante
Quem jamais te esqueceria...
Eu sou um leão de fogo
Sem ti me consumiria
A mim mesmo eternamente
E de nada valeria
Acontecer de eu ser gente
E gente é outra alegria
Diferente das estrelas...
Terra! Terra!
Por mais distante
O errante navegante
Quem jamais te esqueceria...
De onde nem tempo, nem espaço
Que a força mãe dê coragem
Prá gente te dar carinho
Durante toda a viagem
Que realizas do nada
Através do qual carregas
O nome da tua carne...
Terra! Terra!
Por mais distante
O errante navegante
Quem jamais te esqueceria

Na sacada dos sobrados
Da velha são Salvador
Há lembranças de donzelas
Do tempo do Imperador
Tudo, tudo na Bahia
Faz a gente querer bem
A Bahia tem um jeito...
Terra! Terra!
Por mais distante
O errante navegante
Quem jamais te esqueceria

Terra!

Reflexão: o que diria Agostinho deste fingimento...


TESE DE MESTRADO NA USP por um PSICÓLOGO

'O HOMEM TORNA-SE TUDO OU NADA, CONFORMEE A EDUCAÇÃO QUE RECEBE'

'Fingi ser gari por 8 anos e vivi como um ser invisível'

Psicólogo varreu as ruas da USP para concluir sua tese de mestrado da
'invisibilidade pública'. Ele comprovou que, em geral, as pessoas
enxergam apenas a função social do outro. Quem não está bem posicionado
sob esse critério, vira mera sombra social.

Plínio Delphino, Diário de São Paulo.

O psicólogo social Fernando Braga da Costa vestiu uniforme e trabalhou
oito anos como gari, varrendo ruas da Universidade de São Paulo. Ali,
constatou que, ao olhar da maioria, os trabalhadores braçais são 'seres
invisíveis, sem nome'. Em sua tese de mestrado, pela USP, conseguiu
comprovar a existência da 'invisibilidade pública', ou seja, uma
percepção humana totalmente prejudicada e condicionada à divisão
social do trabalho, onde enxerga-se somente a função e não a pessoa.
Braga trabalhava apenas meio período como gari, não recebia o salário de
R$ 400 como os colegas de vassoura, mas garante que teve a maior lição
de sua vida:

'Descobri que um simples bom dia, que nunca recebi como gari, pode
significar um sopro de vida, um sinal da própria existência', explica o
pesquisador.

O psicólogo sentiu na pele o que é ser tratado como um objeto e não
como um ser humano. 'Professores que me abraçavam nos corredores da USP
passavam por mim, não me reconheciam por causa do uniforme. Às vezes,
esbarravam no meu ombro e, sem ao menos pedir desculpas, seguiam me
ignorando, como se tivessem encostado em um poste, ou em um orelhão',
diz.
No primeiro dia de trabalho paramos pro café. Eles colocaram uma
garrafa térmica sobre uma plataforma de concreto. Só que não tinha
caneca. Havia um clima estranho no ar, eu era um sujeito vindo de outra
classe, varrendo rua com eles. Os garis mal conversavam comigo, alguns
se aproximavam para ensinar o serviço. Um deles foi até o latão de lixo
pegou duas latinhas de refrigerante cortou as latinhas pela metade e
serviu o café ali, na latinha suja e grudenta. E como a gente estava num
grupo grande, esperei que eles se servissem primeiro. Eu nunca apreciei
o sabor do café. Mas, intuitivamente, senti que deveria tomá-lo, e
claro, não livre de sensações ruins. Afinal, o cara tirou as latinhas de
refrigerante de dentro de uma lixeira, que tem sujeira, tem formiga, tem
barata, tem de tudo. No momento em que empunhei a caneca improvisada,
parece que todo mundo parou para assistir à cena, como se perguntasse:
'E aí, o jovem rico vai se sujeitar a beber nessa caneca?' E eu bebi.
Imediatamente a ansiedade parece que evaporou. Eles passaram a conversar
comigo, a contar piada, brincar.

O que você sentiu na pele, trabalhando como gari?
Uma vez, um dos garis me convidou pra almoçar no bandejão central. Aí
eu entrei no Instituto de Psicologia para pegar dinheiro, passei pelo
andar térreo, subi escada, passei pelo segundo andar, passei na
biblioteca, desci a escada, passei em frente ao centro acadêmico, passei
em frente a lanchonete, tinha muita gente conhecida. Eu fiz todo esse
trajeto e ninguém em absoluto me viu. Eu tive uma sensação muito ruim. O
meu corpo tremia como se eu não o dominasse, uma angustia, e a tampa da
cabeça era como se ardesse, como se eu tivesse sido sugado. Fui almoçar,
não senti o gosto da comida e voltei para o trabalho atordoado.

E depois de oito anos trabalhando como gari? Isso mudou?
Fui me habituando a isso, assim como eles vão se habituando também a
situações pouco saudáveis. Então, quando eu via um professor se
aproximando - professor meu - até parava de varrer, porque ele ia passar
por mim, podia trocar uma idéia, mas o pessoal passava como se tivesse
passando por um poste, uma árvore, um orelhão.

E quando você volta para casa, para seu mundo real?
Eu choro. É muito triste, porque, a partir do instante em que você está
inserido nessa condição psicossocial, não se esquece jamais. Acredito
que essa experiência me deixou curado da minha doença burguesa. Esses
homens hoje são meus amigos. Conheço a família deles, freqüento a casa
deles nas periferias. Mudei. Nunca deixo de cumprimentar um trabalhador.
Faço questão de o trabalhador saber que eu sei que ele existe. Eles são
tratados pior do que um animal doméstico, que sempre é chamado pelo
nome. São tratados como se fossem uma 'COISA'.

*Ser IGNORADO é uma das piores sensações que existem na vida!



(Texto enviado por Jayme Andrade)

21 de abril de 2011

Mensagem agostiniana



Do que você precisa, acima de tudo, é de se não lembrar do que eu lhe disse; nunca pense por mim, pense sempre por você; fique certo de que mais valem todos os erros, se forem cometidos segundo o que pensou e decidiu, do que todos os acertos, se eles forem meus, não seus.

Se o Criador o tivesse querido juntar a mim, não teríamos talvez dois corpos ou duas cabeças também distintas. Os meus conselhos devem servir para que você se lhes oponha. É possível que depois da oposição venha a pensar o mesmo que eu; mas nessa altura já o pensamento lhe pertence.

São meus discípulos, se alguns tenho, os que estão contra mim; porque esses guardaram no fundo da alma a força que verdadeiramente me anima e que mais desejaria transmitir-lhes: a de se não conformarem.


20 de abril de 2011

poétiCAS

MÚSCULO MAIOR

Ao professor Agostinho da Silva.
(Palavras que lhe mandei, num aniversário).



Interesso-me
Cada vez mais
Pelo coração do Homem:
Carne, sangue
E secretos canais.

Porém, o que é mais extraordinário
É a sua progressiva qualidade
De músculo voluntário!

Eduardo Aroso
(In "O Olhar da Serra", Gresfoz, 1995)

"Mim'delo"

O “mim´delo” é um projecto de intervenção cultural que foi consagrado pelo Governo de Cabo Verde com uma Declaração de Interesse Cultural e foi convidado pela Creative Visions Foundation (EUA) para o restrito grupo de projectos de Activismo Criativo, isto é, usam a arte para positivamente influenciar a sociedade. O “mim´delo” é um retrato provocador de uma juventude marginalizada que explora a sua identidade cultural e conflitos sociais através do teatro.
Para mais informação visite: www.creativevisions.org/projects/mim-delo.html
(All contributions are tax-deductible, via Creative Visions Foundation, 501(C)3 non-profit organization)
O "mim´delo", Criação Lusófona (10pt), possui uma plataforma multidisciplinar criadora de ideias nas artes performativas e audiovisuais. É uma associação sem fins lucrativos e tem como objectivo a produção e divulgação de actividades artísticas que contribuam activamente para o surgimento e afirmação de novas dinâmicas culturais e sociais de âmbito Lusófono. A 10pt é um novo agente cultural, ‘ancorado’ na cidade do Porto e contemplando todo o espaço e nações lusófonas.

Para mais informação não deixe de visitar:

www.10pt.org
www.10pt.org/docmimdelo

Saudações Cordiais.

19 de abril de 2011

CAS a saber Cabo Verde



Cabo Verde é um país profundamente mestiço, onde as culturas em presença, com ganhos e perdas, acabaram se amalgamando em autêntica osmose. Brancos e negros se reconheciam nas culturas de uns de outros de manaeira desinibida.

Este processo deu origem a uma nova cultura, a crioula, base da existência de uma Nação eminentemente cristã e onde sempre predominou o catolicismo.

Na música, por exemplo, bastante rica e diversificada, a marca é a Morna, "considerada expressão da alma de um povo". É conhecida, internacionalmente, a cantora Cesária Évora, uma verdadeira Embaixadora da cultura de Cabo Verde, espelhando essas melodias mundo afora. Mas outros nomes são igualmente expressivos, como Tito Paris, Maria de Barros, Lura, Mayara Andrade...

O território é também identificado como uma terra de poetas. Muito recentemente, em 2009, Arménio Vieira foi agraciado com o Prêmio Camões, a maior e a mais importante em língua portuguesa. Mas existem outros igualmente expressivos, como Corsino Fortes, Osvaldo Osório, Filinto Elísio, José Luís Tavares ou romancistas de renome, traduzidos em diversas línguas, como Germano Almeida, entre alguns mais. Algumas referências mais antigas, designadamente Baltazar Lopes, Jorge Barbosa, Manuel Lopes, estiveram na gênese do movimento literário mais conhecido como Claridade, movimento esse influenciado por escritores brasileiros nordestinos, como Josué de Castro, Ribeiro Couto, Jorge Amado e Manuel Bandeira, para além de muitos outros. A Claridade foi considerada como o grito da independência literária de Cabo Verde.
(Texto recolhido de O livro na rua, Fundação Alexandre de Gusmão e Thesaurus Editora.)

18 de abril de 2011

Uma idéia inventiva em ação: o CEAO de Agostinho da Silva

O Centro de Estudos Afro-Orientais (CEAO) foi criado por Agostinho da Silva quando de sua passagem pela Universidade da Bahia nos meados dos anos de 1950. Hoje, em plena ação política, pedagógica, social e cultural, é exemplo de que o pensamento agostiniano fez-se práxis.



O Centro de Estudos dos Povos Afro-Índio-Americanos (Cepaia/UNEB) em parceira com o Ceafro, programa do Centro de Estudos Afro-Orientais (CEAO) da Universidade Federal da Bahia (UFBa) promove na próxima terça-feira (19/4), das 14 às 17h30, a Mesa redonda "Mulheres Indígenas e Negras em movimento: trajetórias e diálogos", que contará com a participação de Glicéria Tupinambá e Korã Xukuru Kariri, líderes indígenas, Eliete Paraguaçu e Elionice Sacramento, líderes quilombolas. Essa atividade faz parte da Semana da Consciência Indígena que acontece de 18 a 20 de abril.

Veja a programação completa no site do CEAO: www.ceao.ufba.br


Para saber mais do CEAO:
YouTube - 50 Anos CEAO, Centro de Estudos Afro-Orientais, UFBA

Mambembrincantes no Aniversário de Brasília

Os Mambembrincantes brincam o Boi

e dizem do Infinito de que Agostinho da Silva (con)versava.

17 de abril de 2011

Agostinho da Silva-Um Pensamento Vivo - Trailer

Agostinho da Silva por Santiago Naud


José Santiago Naud: poeta, ensaísta e professor pioneiro da Universidade de Brasília


"A seminal presença de Agostinho da Silva no Brasil é confirmação iluminada de sua generosa teoria civilizatória. À horizontalidade da abscissa que Roma edificou entre o Leste e o Oeste, ele soma a ordenada vertical que, unindo Norte e Sul, corrija os equívocos do poder indo-europeu e promova as coordenadas do Amor, como auguraram os "cavaleiros espirituais" da Renascença, que liam pelo avesso a palavra Roma. Harmonia da inteligência racional e emocial. No reino ideal, Portugal e Brasil conformam uma única nação, não obstante separada politicamente em dois Estados segundo a razão ou sem-razão das leis. O milagre axial dos Descobrimentos foi que o primeiro corpo multiplicou-se pelo mundo, agregando o diferente. Nesse sentido, hoje guarda enorme transcendência enquanto comunidade de povos, inspirada por sinal em idéia agostiniana e reconhecida oficialmente por novos governos constituídos. Tal fato se desvela à energia de sua literatura matricial, envolta no paradoxo porque é vigorosa conjunção de contrários, muito embora toda a sua complexa riqueza não tenha até agora morada condigna na confraria dos léxicos ou circunscrição dos compêndios. Já vale contudo como confirmação do princípio feminino, a mátria olvidada e profanada, trinitária Santa Marial medieval que tanto comovia, e opera nas águas históricas do Douro, Mondego e Tejo, recuados ao intemporal da pré-história. Também no templo da miscigenação e do sincretismo, os ilês afro-brasileiros, ele cruzava, como um sufi, Oxum e Iemanjá, que reúnem as águas das fontes, arroios e rios no imenso Oceano. Aí, quem sabe, explique a parapsicologia haver o escritor nascido sob o signo de Aquário. Assim, tudo quanto escreveu, falou ou praticou, singra a terceira margem do imenso rio ilusório que liga o tempo e a eternidade, onde o Padre António Vieira, mais um "sonho das eras português", igual a ele raie o sol futuro. A propósito, com a autoridade do historiador e do ensaísta, que o tempo viria a confirmar, o escritor Joel Serrão, um jovem professor alevantado contra os corporativismos e a mediocridade que topou nos começos da carreira, já em 1946 afetaria com intuição e percuciência o valor de Agostinho da Silva. Em torno do livro Vida de William Penn, que em edição particular o nosso autor publicava na série das suas Biografias, deixou escrito com clareza: "Em nenhuma obra literária portuguesa me parece ser mais vincada a indissolúvel unidade do homem e do escritor como na de Agostinho da Silva - e este facto é uma consequência, ao que creio, da inteireza mental e ética do homem". Ele "é um dos casos mais relevantes da cultura portuguesa dos nossos dias". "Pelo valor do homem, pelo seu talento literário (...) é, quanto a mim, um dos maiores, senão o maior escritor da língua portuguesa contemporânea".

Se o Leitor ainda não souber, esta Presença é um bom passo, certamente essencial."

(Texto recolhido de Presença de Agostinho da Silva no Brasil. / org. Amândio Silva e Pedro Agostinho; [pref.: Alma oceânica. José Santiago Naud]. - Rio de Janeiro: Edições Casa de Rui Barbosa, 2007, p. 44-45)

16 de abril de 2011

Mensagem agostiniana

"Em toda a história do mundo foram sempre poucos os imaginadores, para além naturalmente de toda a gente que imagina haver mundo; hoje, porém, parece ter diminuído o número de imaginadores; certamente porque aumentou o total da população; se perdem na massa. Muita cinza, pouca brasa."

(texto recolhido de Reflexões, Aforismos e Paradoxos. Brasília: Editora Thesaurus, 1999,p. 115.)

15 de abril de 2011

Notícias de Timor Leste

Essa foto foi feita em outubro de 2008 durante uma expedição religiosa ao topo do Hamelau, a maior montanha de Timor Leste. No caminho, passamos por Same, ao sopé do monte Cablaque (o segundo mais alto). A feira existe em meio à floresta equatorial seca de altitude. A agricultura é praticada por quase toda a população, sobretudo, das montanhas. De Same, indo para o sul, rapidamente se avista o Mar do Sul, o Tassi-mane (mar dos homens), sempre azul anil, agitado, poucos corais e que recebe, sazonalmente, a visita dos crocodilos brancos vindos do noroeste da Austrália.
(Enviado por Fábio Borges)

14 de abril de 2011

poétiCAS




Almas Perfumadas

Tem gente que tem cheiro
de passarinho quando canta,
de sol quando acorda,
de flor quando ri.


Ao lado delas,
a gente se sente no balanço de uma rede
que dança gostoso numa tarde grande,
sem relógio e sem agenda.


Ao lado delas,
a gente se sente comendo pipoca na praça,
lambuzando o queixo de sorvete,
melando os dedos com algodão doce
da cor mais doce que tem pra escolher.

O tempo é outro.
E a vida fica com a cara que ela tem de verdade,
mas que a gente desaprende de ver.


Tem gente que tem cheiro
de colo de Deus,
de banho de mar
quando a água é quente e o céu é azul.
Ao lado delas,
a gente sabe que os anjos existem e que alguns são invisíveis.


Ao lado delas,
a gente se sente chegando em casa e trocando o salto pelo chinelo,
sonhando a maior tolice do mundo
com o gozo de quem não liga pra isso.


Ao lado delas,
pode ser abril,
mas parece manhã de Natal,
do tempo em que a gente acordava
e encontrava o presente do Papai Noel.


Tem gente que tem cheiro
das estrelas que Deus acendeu no céu
e daquelas que conseguimos acender na Terra.
Ao lado delas,
a gente não acha que o amor é possível,
a gente tem certeza.
Ao lado delas,
a gente se sente visitando um lugar feito de alegria,
recebendo um buquê de carinhos,
abraçando um filhote de urso panda,
tocando com os olhos os olhos da paz.


Ao lado delas,
saboreamos a delícia do toque suave
que sua presença sopra no nosso coração.


Tem gente que tem cheiro
de cafuné sem pressa,
do brinquedo que a gente não largava,
do acalanto que o silêncio canta,
de passeio no jardim.


Ao lado delas,
a gente percebe que a sensualidade
é um perfume que vem de dentro
e que a atração que realmente nos move
não passa só pelo corpo.
Corre em outras veias.

Pulsa em outro lugar.
Ao lado delas,
a gente lembra que no instante em que rimos
Deus está conosco, juntinho, ao nosso lado.

E a gente ri grande que nem menino arteiro.
Tem gente como você,
que nem percebe como tem a alma perfumada
e que esse perfume é dom de Deus.

Carlos Drummond de Andrade

Quiosque da CAS





Nesse livro, podemos entender, sob nova perspectiva, a História de Portugal e Brasil.


Além do mais, em uma escrita acessível, o autor afirma que "As modificações no método de exploração no campo da agropecuária podem ser consideradas profundas e mesmo drásticas e irão constituir o que verdadeiramente se deve definir como Reforma Agrária, embora nada tenha de comum com o praticado ou desejado no Brasil com esse nome."




Vale a pena a leitura.


Para adquirir o livro do Prof. Dr. José Luís Conceição Silva,


entre em contato com o Quiosque da CAS pelo email casagostinhodasilva@gmail.com

A CAS com a Persona Mulher cabo-verdiana

Cabo Verde no Brasil "Um país que investe no futuro, parceiro estratégico no plano brasileiro com os países africanos."


Com a palavra a Embaixatriz Sara Pereira homenageando as mulheres


Momento cultural: música cabo-verdiana



Professora Carmem Batista, membro da CAS e estudiosa da afrobrasilidade

Momento Cultural: Leitura poética de texto de Cecília Meireles




Diretora da CAS Josely Pereira (vestido preto) ao lado da Deputada Benedita da Silva (sentada ao centro)


Doutor Carlos Moura (Fundação Palmares) e Lúcia Helena Sá


A Revista Persona Mulher: Lúcia Helena Sá e Josely Pereira


Embaixatriz e Embaixador do Timor-Leste, Victor Alegria (Editora Thesaurus) e Lúcia Helena Sá





Lúcia Helena Sá, Maria Lúcia d'Ávila Pizzolante e Sônia Korte





12 de abril de 2011

UnB DEBAIXO D’ÁGUA



As águas retardatárias das chuvas de abril invadiram o ninho de arquitetos, engenheiros e geógrafos da UnB. Não faltaram avisos nem previsões sempre atribuídas aos agouros de cassandras. Não faltaram preparativos projetados para que as águas chegassem aos porões do saber e da tecnologia. Os prédios da UnB estão bem situados nas ordenadas e coordenadas para acolher milhões de litros de água caídos de repente. Os amplos estacionamentos impermeabilizados para conforto dos automóveis e as vias em declive são inteligentemente desenhados e adequados a armazenar e canalizar água para as profundezas do subsolo. A UnB, com esse puxão de orelhas das leis físicas, operado pela última tormenta poderá desenvolver uma nova disciplina para as próximas gerações de engenheiros e arquitetos: a inteligentsia da água. Tenho certeza de que será útil para conduzir sabiamente a urbanização da metrópole e preservação do patrimônio cultural da humanidade.

(texto de Eugênio Giovenardi)

Para Reflexão

Massacre na escola

– Ou massacre na Televisão? –

Bilhete/Mensagem à Nação

“Pior tragédia em escola do país; Ex-aluno mata 12 estudantes!”

(Manchete de jornal 8/04/2011)

J. Jorge Peralta


Senhora Presidente, senhores políticos, senhores comunicadores.


E agora senhores “donos” do poder? E agora Brasil?


1. E Agora toda a gente do “poder” repudia! Mas repudia o quê?! Os fatos consumados?! Mas ninguém faz a lição de casa?! Ninguém pensa em corrigir os rumos de uma civilização, na construção do desenvolvimento humano...


Repudiar não basta. Não diz nada. Vamos diagnosticar as causas e repudiá-las? Vamos tratar de curá-las? Vamos acabar com a corrupção? Vamos acabar com a malandragem institucionalizada? Vamos acabar com a impunidade em nome do pseudo-direitos humanos deturpados? Vamos acabar com as políticas sujas? Vamos deixar de achacar a nação? Vamos juntar o desenvolvimento econômico com o desenvolvimento social? Vamos abalar esse mundo morno acomodado, tolerante com o insuportável?


Vamos tirar a máscara do faz de conta?


Vamos repudiar a enganação?


Repudiar as causas pode levar a alguma solução. Chorar o massacre pode ser pura emoção sem solução. Precisamos de decisões.


2. Nossa criminalidade é importada. Não é da índole do nosso povo. Devemos temer mais os nossos canalhas vendilhões do que os vendedores de ilusões.


Dizer que é problema dos tempos modernos não diz nada. Dizer que é mentalidade e vícios importado, nada diz, se não nos prevenirmos contra essa herança importada dos centros financeiros do descalabro; contra a herança maldita da trapaça...


Vamos colocar as pessoas certas no lugar certo, em vez de proteger e promover os apadrinhados para pagar apoios de campanha, como se quem conquista o poder fosse dono do país e o povo seu escravo...


Vamos dar trabalho ao povo, em vez de humilhar com esmolas eleiçoeiras?


Vamos educar o povo, com educação séria para todos, para formarmos gente séria, competente e responsável e não darmos apenas um diploma vazio.


Vamos pensar no bem da nação, em vez de pensar nas próximas eleições?


Vamos chorar pela corrupção que algema o país e ricocheteia, como violência institucionalizada, e desagua em sangrentos desacatos? Choremos a injúria, a falta de princípios e a educação falida, nos meios de comunicação. Reajamos, para não precisarmos chorar tantas mortes inocentes, nas escolas, nas ruas, nas prisões e nas sarjetas infétidas...


O silêncio dos inocentes dói mais que estrondo de canhão! Só não sente quem não houve, porque tem ouvidos tampados!


3. Há milhares de facínoras por todo o país, filhos dessa escola do crime, sem princípios, sem ética, apenas buscando vantagens, numa sociedade desprotegida e fragilizada por essa pseudo-civilização enrascada. Dizer isto não é nada, se não focarmos as causas.


Precisamos riscar de nosso convívio e de nosso espírito, e dos formadores de opinião e de nossos políticos e de nossos juízes de plantão, e de nossos professores mercenários, esse farisaísmo hipócrita, que desonra a nação.


Choremos pelas causas dos massacres. Reajamos para que elas não se repitam. Cada um faça a sua parte.


Vamos repudiar as causas da violência! Mas isso as nossas autoridades não sabem fazer. É mais fácil repudiar o que acontece do que prevenir a proliferação das causas.


Os ovos da serpente reproduzem-se indiscriminadamente e em paz, acalentados por políticos e pelos meios de comunicação, enquanto a nação sofre as consequências dessa guerra feroz, que é a real herança maldita da desgovernança.


4. Por que ninguém faz uma campanha pelo desarmamento moral da nação, acabando com as injustiças, injúrias e corrupção?


Por que ninguém observa e coíbe a violência institucionalizada, que nos vem dos EUA e do Japão, pelos programas “infantis” da televisão?


Ninguém nota a conspiração que viceja e se espalha por todo o Brasil, nos canais de TV, em muitos outros canais que entretêm as crianças e adolescentes?!


Funcionam como eficientes e camufladas escolas do crime, entrando livres na casa de toda a gente, de todas as condições sociais.


Somos todos solidários contra essa parafernália pérfida e inconsequente, que vai deteriorando a alma e o psiquismo de nossa gente, enquanto rende altos dividendos, cá e além fronteiras, para os caçadores de gente incauta mas trabalhadora, que se vê atraiçoada, no recesso de seu lar.


No aconchego do lar, lugar de paz e de compreensão, entram as desalmadas e torpes lições de violência, semeando a derrocada da paz e da humana solidariedade, em nome de uma torpe liberdade de enganar nossa nação, no coração das crianças, deturpando-lhes o caráter, com violências gratuitas e inconsequente!


Massacre na televisão é ato banal. É uma banalização da vida e da paz, sem respeito e sem dignidade. Isto as mentes fracas vão reproduzindo na vida real, banalizando a vida. Aonde querem chegar?


5. Morreu o matador desalmado, que a sociedade “aleijou” e morreram 12 crianças inocentes na idade primaveril, cujas mães pensavam que a escola é um espaço de paz, convivência e enriquecimento humano.


Quem responde por essa tragédia, por esse descalabro anunciado, ao se cultivarem as causas, em atitudes pusilânimes, sem as previdêncisa que cada caso exige?!


6. Se alguém quisesse planejar um MUSEU DA VIDA, teria de agregar a ANTI-VIDA. Teríamos os agregadores e os desagregadores, muitas vezes tropeçando uns nos outros. Os que argumentam contra os desagregadores, muitas vezes estão mais a favor destes do que os defensores. A teoria do Yin Yang do taoísmo explica. Todos sabemos de que os maus defensores de uma boa causa podem transforma-se em seus algozes de fato. É preciso saber arrancar a máscara dos defensores mascarados da vida e da paz; com palavras ganham notoriedade política; com ações contraditórias fazem o que manda seu caráter. E assim caminha a humanidade, aos trancos e barrancos. Mas que caminhe, buscando novos rumos, com lealdade...

10 de abril de 2011

Brasilidades



Seu Saldanha, sapateiro cantador de moda de viola
por Eduardo Alexandre

SEM TELEVISÃO OU JORNAL, O REPÓRTER DO SERTÃO ERA O CORDELISTA, O CANTADOR

José Saldanha Meneses Sobrinho, 82 anos, 21 de Candelária, nasceu na Fazenda do Piató, Santana do Matos, e já aos 12 anos começou a fazer seus repentes, improvisos que levava às praças, seguindo, segundo ele, os repórteres do sertão: os cantadores e cordelistas.

Quando o pai o viu de feira em feira, com os cantadores mais velhos em suas farras festivas, aconselhou:

- Vou lhe ensinar tudo o que um sertanejo pode aprender. Tocar e improvisar você pode até fazer. Mas usar de viver de viola, faça isso não!

INDUSTRIAL

E Saldanha seguiu o conselho do velho.

- Fui do cabo da chibanca, vaqueiro, almocreve, aboiador, puxador de gado, fabricante de sapato, de doce e de queijo. Tudo, para dar educação aos meus filho.

Apesar de ter praticado tudo isso, Seu Saldanha foi mesmo um dos maiores industriais do calçado do RN, talvez o maior. Tratando todo mundo por portador, seu grande mestre na arte de fazer sapatos, sandálias e botas que calçaram os matutos do interior norte¬riograndense, foi seu Manoel Senhor, um sapateiro que ia à Fazenda do Piató calçar o povo do lugar.

Com ele, seu Saldanha iniciou um aprendizado que espalharia sapatos, os Calçados Menesses, por todo o Nordeste e até Rio de Janeiro, a então capital brasileira.

Mas Seu Saldanha, ao lado disso, nunca esqueceu o cordel.

Escreveu "O Nordeste e Seus Cangaceiros", "O Filho do Ferreiro", "Diz Tua Prosa, Sertão", tantos títulos, cento e oitenta ao todo, que seria cansativo enumerar a todos. Por ele, ainda estaria no Piató, mas a esposa, dona Jovelina Dantas, adoeceu e ele teve que vir morar em Natal, onde o tratamento era possível.

Vinte e um anos na Candelária, Seu Saldanha lembra o fato de ter desplantado uma macaxeira de onze quilos e treze palmos de comprimento no terreno onde hoje fica o Shopping.

Um assombro que foi até notícia de jornal, diz.

ESTÓRIAS

Hoje, ele pode ser encontrado no ponto comercial que mantém, o Recanto do Seridó, à rua Irineu Jofile, para uma prosa amena e gostosa, onde, com certeza, falará do filho do ferreiro que um dia prometeu dominar sua cidade, Cerro Corá, e que concretizou seu sonho, sendo vereador e prefeito várias vezes, história contada em cordel. Ou do matuto que chegou para comprar cigarro e como não encontrou onde comprasse, fumou a nota de 10 mil réis, ganha quando o algodão mocó era a riqueza do Seridó "e o orgulho do povo da região.”

Um homem cheio de histórias e estórias do sertão, com livros publicados e inéditos que precisam ser resgatados.

É um homem que diz que a maior universidade do mundo é o Nordeste, lugar ideal para a formação de um poeta.

Saldanha também fabricou suas próprias violas, e, de Lampião, diz coisas como essas:

Ele tinha uma estratégia
De guerra muito avançada.
Para enganar as volantes
Cobria uma retaguarda
Para dar tempo e abrir fogo
Ou fugir da emboscada.

Lampião tinha com ele
Uma perícia invejável
As investidas e pegadas
De maneira admirável
Ele enganava as volantes
De modo inacreditável.

Candelária Viva, 2000
Foto: Alexandro Gurgel (NET)

Léo Arlé na Galeria da CAS

Em torno de Léo Arlé: Ele Próprio o artista


Minhas mãos incansáveis à procura de minha expressão de arte... Exemplaridade de sonho, a arte me produzindo... E eu a ela íntimo de suas curvas e cores...

Percebi muito cedo a importância de minha produção. Divulgá-la é uma confissão de compartilhamento com o estudante de arte. Arte da minha experiência feita silenciosamente entre acertos e erros.

Minhas ideias são acionadas quando, diante da natureza, fico em átimo de silêncio. E é nesse instante que nasce o gesto simples que me faz acreditar que logo após a palavra o que importa é a forma: a cor me põe diante do êxtase. O traço dirigido obedece a razão. Eu, na condição de receptor, fico entre o fazer ou não fazer, dizer ou não dizer. Eis que optei por dar continuidade a minha arte e dela fazer refletir o meu tempo e a minha geração entranhada na dureza de um período autoritário e de repressão de ideias.

Acostumei-me a trabalhar em silêncio sem hastear a bandeira. Apenas usei instrumentos eficazes como: tintas, pincéis, lápis e, por vezes, recorria aos meus textos analítico-poéticos. Fiz-me assim ourives de minha arte. Mãos a traçar a linha invisível do pensamento. Pensamento que penetrou o imaginário das curvas, das cores, do abstrato do desenho, da tela vibrante de matizes já antecipados pela poesia da razão. Isso foi tudo.

Desenhei compulsivamente, fiquei cercado de livros de Arte. Vi e revi conceitos e acreditei em minhas mãos. Continuo abrindo caminho e abafando um vocabulário ultrapassado. Busco e sinto urgentemente a necessidade de um texto condizente com meu processo criativo. Quando digo urgentemente, é um fato. Ao recorrer ao passado, percebo a luta e o embate entre o desenho e a pintura. Em data remota, sempre me identifiquei com a cor.

Na paisagem fiquei perto da representação real. Na alquimia das cores rompi e deixei manifestar a mancha encharcada da aquarela. Meu olhar já não era mais de observador e, sim, de um buscador do buscar que me exigia disciplina e simplicidade do traço. E tudo é uma resposta ao meu apelo interior.

Indagações! ...

Mensagem agostiniana

"Temos de evitar que meninos sejam maltratados como são, abandonados como são, vítimas de doenças como são, tendo vidas dificílimas, para que eles possam ser realmente imperadores do mundo quando vier essa futura Idade. Vamos continuar a dar o banquete gratuito como símbolo? Não, senhor! Temos que fazer que toda gente do mundo coma realmente, [...], e que tenha saúde, e que tenha saber, não é?"

(Trecho recolhido de Agostinho da Silva - Ele Próprio. Portugal: Zéfiro, 2006, p. 106).

7 de abril de 2011

Cora Coralina: para não esquecermos...

Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.

Em Re-flexão

OS PORTUGUESES E A EMIGRAÇÃO (A. Gomes da Costa, Economista e advogado, presidente da Federação das Associações Portuguesas e Luso-Brasileiras.)

Dos países do Mediterrâneo, Portugal foi sempre o que mais dependeu da emigração. Outros, como a Itália e a Espanha, que durante o século XIX e a primeira metade do século XX tinham sido grandes exportadores de mão de obra, começaram a reduzir a saída de trabalhadores logo depois do término da II Grande Guerra. Mas em Portugal o fenômeno não ocorreu tão depressa por várias causas, desde a falta de trabalho às guerras coloniais, ou desde a estagnação econômica à política de aperto do Estado Novo. Somente com a Revolução de 25 de abril de 1974 e, principalmente, com a entrada do país na Comunidade Econômica Européia, que lhe permitiu o acesso aos fundos estruturais de Bruxelas, é que se deu uma profunda reforma na sociedade portuguesa e a emigração chegou ao fim.
Quer no tempo da Monarquia, quer durante a República, os governos nunca tiveram em relação aos portugueses espalhados pelo mundo uma posição que não fosse a de se aproveitarem, por um lado, de parte das riquezas que conseguiam obter lá fora, e, por outro, do prestígio que, por portas travessas ou pelas chancelarias, poderiam trazer para a grei.
Primeiro, foi o Brasil a receber os jovens e “engajados” das províncias mais pobres sob o impulso do imaginário de sucessivas gerações – era das terras de Vera Cruz que vinham as libras esterlinas para comprar títulos da dívida pública e as quintas no alto Minho e era para lá que seguiam, pela via marítima, os produtos importados pelas casas comerciais do Rio de Janeiro, de Santos, do Recife ou de Belém do Pará. Em troca, o Rei distribuía títulos e mercês como prova de reconhecimento aos que participavam das campanhas para socorrer as vítimas dos terremotos dos Açores, para a aquisição da canhoneira “Pátria” ou para a luta contra a tuberculose no país.
Depois do Brasil, vieram os Estados Unidos, o Canadá, a Venezuela, a Argentina, a África do Sul, a Austrália, etc. como destinos finais da emigração portuguesa, e, mais tarde, numa dimensão muito maior, os países do norte da Europa, onde se chegava tanto pela via legal, como “a salto” pela fronteira da Espanha.
Eram entre 3 a 4 milhões de portugueses a viver e a trabalhar no exterior e a sua contribuição, em termos de remessas cambiais, chegou a representar quase o mesmo montante das receitas da exportação do país.
Sem embargo desse papel importante que a diáspora tinha – e não era apenas no âmbito do balanço de pagamentos, mas também em outros quadrantes – os governos, a não ser nos discursos e nas celebrações das datas cívicas, altura em que mandavam emissários em visita às diversas comunidades, pouco se importavam com a situação e a sorte dos emigrantes.
No início da década de 80, no entanto, para seguir o exemplo de outros países europeus, foram atendidas algumas aspirações da chamada “nação peregrina”, quer no campo político – como o direito do voto e a representação parlamentar – quer na área administrativa – como os incentivos fiscais, a taxa de juros para depósitos a prazo, as facilidades para a compra de moradia – quer no quadrante constitucional e jurídico – como o estatuto da bi-nacionalidade concedido aos filhos nascidos em terra alheia, a dupla cidadania, etc.
Para um país que tinha para cima de um terço de sua população a viver no estrangeiro, essas mudanças poderiam ter sido aproveitadas de forma eficaz para o funcionamento de circuitos econômicos, culturais, sociais, artísticos e científicos entre a Mãe-Pátria e os países de destino.
Na prática, entretanto, o que se verificou é que muitas dessas conquistas acabaram por se desfazer e, outras, somente foram utilizadas pelos partidos políticos para barganharem votos e ajudas financeiras no exterior.
Veja-se, por exemplo, o que vem ocorrendo em termos de apoio e de serviços do Estado junto às comunidades: fecham-se repartições consulares e deixam-se completamente ao abandono focos importantes da presença portuguesa no mundo; não se dá o mínimo apoio às associações de raiz portuguesa, onde diariamente se cultuam e preservam os valores e as tradições de um povo e de uma cultura; o ensino da Língua é cada vez mais precário; a assistência aos emigrantes doentes e desprotegidos é minguada – e até o direito de voto por correspondência pretendem extinguir, como se valesse a pena a um patrício que mora nos cafundós de Judas ou interior do Acre comprar uma passagem de ida e volta para chegar ao consulado mais perto e votar num candidato a deputado da Assembléia da República!
Como diria o Fernando Pessoa: português sofre-se para sê-lo…

Notícias de Timor-Leste


Esta foto foi feita em Ataúro, em Vila Maumeta. Aí vivem dois padres italianos - Chico e Luis - que viveram no Brasil por quase 30 anos no Recife e em São Paulo, inclusive durante a ditadura. Até hoje mantêm contato com o Bispo Pedro Casaldáglia. Eles mantém, junto à comunidade, 5 projetos sociais. em um deles, um grupo de 12 mulheres e 1 homem organizaram uma cooperativa para ter um restaurante na Vila: Manukoku-Rek (o pássaro que canta de manhã). Durante uns 7 meses ia lá em Ataúro, ficava alguns dias ensinando receitas brasileiras a partir dos produtos que tinham em uma grande horta comunitária. Era um trabalho voluntário. Na foto está o seo João no dia da inauguração, cuidando do forno que, também, construímos juntos para assarmos pães e pizza de beringela com queijo.

Abraço. Fábio Borges

6 de abril de 2011

Quiosque da CAS


Edições da Galiza" e a "Academia Galega da Língua Portuguesa" (AGLP) publicam a nova versão dos "Cantares Galegos" de Rosalia de Castro segundo o último Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.


Esta versão foi realizada e dirigida polo membro da Academia e Prof. Dr. Higino Martins Esteves, constando de 248 páginas entre preliminares, texto e notas finais.

Se alguma vez um livro foi capaz de mudar a trajetória da escrita, da língua e por tanto da imagem que uma nação tem de ela própria e oferece ao mundo é este. Foi alvorada que abalou em saudades o duro coração dos galegos e rompeu para sempre a tradição de seqüestro noutra língua. Exemplo de tão alegre e melâncolico ritmo demonstrou possível uma literatura galega, radical e moderna, na língua que empregava a gente para cantar e viver, na única em que podiam ser exprimidas todas as subtilezas do ser, toda a complexa, longa e assanhadamente apagada História nacional. Os Cantares Galegos, nas asas românticas dos lieder, na polêmica céltica dos Barzaz Breiz, em diálogo com as Espanhas de Antonio Trueba, são testemunho e reivindicação da essência poética e musical galega, síntese intensa de leituras, melodias, ares, ditos, ambiente e conversas sobre folclore e nação.

Escritos quando agoniza a I Restauração bourbónica espanhola (1863), num momento em que a Galiza liberal luta pola modernidade, celebrados como bandeira antes da chegada da II Restauração canovista nas Espanhas, são, coincidindo com os sonhos vitais da autora, desafio e desabafo, presente e jogo poético de amor; símbolo e mensagem de uma entusiasta moça dotada de raro talento artístico e tremenda potência intelectual.

Se há um programa é este: o da reivindicação dessa língua familiar e cultura herdada em farrapos, aprendida sem mais escola que a das aldeias e sem gramática de nenhuma classe, que aspira por próprio esforço e constância, em construção permanente desde aquela, a levar o nome de Galiza ao lugar onde lhe corresponde entre as nações da Terra.


Cuidai, que começa...

Para saber mais acesse: http://imperdivel.net/

Galeria de Rômulo Pinto Andrade


Rômulo Andrade tem adotado os cerrados, desde a década de 70, como mote para pensar o Brasil mais profundo. Inspirado pela obra de Carmo Bernardes, Guimarães Rosa, Manoel de Barros, Paulo Bertran entre outros escritores, músicos e poetas que cantaram esse rico e frágil ecossistema, chegou à idéia da Poética do Cerrado – proposta de reflexão sobre a região "core" do Brasil através do diálogo entre as artes visuais e a poesia. Artista de grande sensibilidade, atento aos detalhes das formas e à harmonia das cores, estampa cenários que mesclam realidade e fantasia, abrindo novos horizontes para quem aprende a ver o Cerrado. Diversas obras apresentadas nesta galeria retratam as belezas da região da APA de Cafuringa, antes mesmo da sua criação, durante as décadas de 70 e 80. Artista plástico prendado por seu talento, cobre de poesia as aberturas das Seções deste trabalho com suas obras maravilhosas, inspiradas na magia do Cerrado. Sempre em busca de novas linguagens, Rômulo nos brinda aqui com desenhos em técnicas mistas, em obras emblemáticas da cultura Candanga, e trabalhos mais recentes, recriando elementos das culturas ameríndias. Radicado em Brasília, Rômulo formou-se em Artes na Universidade de Brasília e atua como ambientalista e artista plástico.

( Texto de Pedro Braga Netto)

4 de abril de 2011

Os mambembrincantes amigos da CAS

Mensagem agostiniana



"[...] todo o homem é livre para examinar e escolher; [...] toda doutrina estreita, sem tolerância e sem compreensão da variedade do mundo, toda a ignorância voluntária, todo o impedimento posto ao progresso intelectual da humanidade, toda a violência, todo o ódio, limitam o nosso espírito e dos outros, impedem que sintamos a grandeza, a universalidade de Deus."


(Trecho recolhido de SILVA, Agostinho. Textos Filosóficos I. Lisboa: Âncora Editora, 1999, p. 81.)

3 de abril de 2011

Eugénio de Andrade

Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos, como animais envelhecidos:
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor,
vamos caindo ao chão, apodrecidos.

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É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.

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Entre os teus lábios
é que a loucura acode,
desce à garganta,
invade a água.

No teu peito
é que o pólen do fogo
se junta à nascente,
alastra na sombra.

Nos teus flancos
é que a fonte começa
a ser rio de abelhas,
rumor de tigre.

Da cintura aos joelhos
é que a areia queima,
o sol é secreto,
cego o silêncio.

Deita-te comigo.
Ilumina meus vidros.
Entre lábios e lábios
toda a música é minha.

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Diz homem, diz criança, diz estrela.
Repete as sílabas
onde a luz é feliz e se demora.

Volta a dizer: homem, mulher, criança.
Onde a beleza é mais nova.

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É na escura folhagem do sono
que brilha
a pele molhada,
a difícil floração da língua.

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Música, levai-me:

Onde estão as barcas?
Onde são as ilhas?

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Procura a maravilha.

Onde um beijo sabe
a barcos e bruma.

No brilho redondo
e jovem dos joelhos.

Na noite inclinada
de melancolia.

Procura.

Procura a maravilha.

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A boca,

onde o fogo
de um verão
muito antigo

cintila,

a boca espera

(que pode uma boca
esperar
senão outra boca?)

espera o ardor
do vento
para ser ave,

e cantar.

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Levar-te à boca,
beber a água
mais funda do teu ser -

se a luz é tanta,
como se pode morrer?

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*Sê tu a palavra*

1.
Sê tu a palavra,
branca rosa brava.

2.
Só o desejo é matinal.

3.
Poupar o coração
é permitir à morte
coroar-se de alegria.

4.
Morre
de ter ousado
na água amar o fogo.

5.
Beber-te a sede e partir
- eu sou de tão longe.

6.
Da chama à espada
o caminho é solitário.

7.
Que me quereis,
se me não dais
o que é tão meu?

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*Colhe todo o oiro*

Colhe
todo o oiro do dia
na haste mais alta
da melancolia.

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Ainda sabemos cantar,
só a nossa voz é que mudou:
somos agora mais lentos,
mais amargos,
e um novo gesto é igual ao que passou.

Um verso já não é a maravilha,
um corpo já não é a plenitude.

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Nunca o verão se demorara
assim nos lábios
e na água
- como podíamos morrer,
tão próximos
e nus e inocentes?

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Devias estar aqui rente aos meus lábios
para dividir contigo esta amargura
dos meus dias partidos um a um

- Eu vi a terra limpa no teu rosto,
Só no teu rosto e nunca em mais nenhum

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De palavra em palavra
a noite sobe
aos ramos mais altos

e canta
o êxtase do dia.

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Foi para ti que criei as rosas.
Foi para ti que lhes dei perfume.
Para ti rasguei ribeiros
e dei ás romãs a cor do lume.

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Húmido de beijos e de lágrimas,
ardor da terra com sabor a mar,
o teu corpo perdia-se no meu.

(Vontade de ser barco ou de cantar.)

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Sê paciente; espera
que a palavra amadureça
e se desprenda como um fruto
ao passar o vento que a mereça.

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Hoje roubei todas as rosas dos jardins
e cheguei ao pé de ti de mãos vazias.

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À breve, azul cantilena
dos teus olhos quando anoitecem.

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Eram de longe.
Do mar traziam
o que é do mar: doçura
e ardor nos olhos fatigados.

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A raiz do linho
foi meu alimento,
foi o meu tormento.

Mas então cantava.

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Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos.
Era no tempo em que o teu corpo era um aquário.
Era no tempo em que os meus olhos
eram os tais peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade:
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus

(Seleção de Rômulo Pinto Andrade, Artista Plástico e Educador)

2 de abril de 2011

O quanto longe alcança o pensamento de Agostinho da Silva


No artigo que escreveu para o livro Agostinho, publicado em 2000, o filho do filósofo português, Pedro Agostinho (foto ao lado), afirmou:

"(...) que se perguntassem ao Professor qual a coisa mais importante que tinha feito no Brasil, ele diria sem hesitar que foi a intervenção na política internacional (1959–1961), e, para esta, o Centro de Estudos Afro-Orientais da hoje Universidade Federal da Bahia."

1 de abril de 2011

Em Convergência da Língua Portuguesa

ASSENSO DA FÉ: 
O PORTUGUÊS COMO LÍNGUA OFICIAL 
NOS QUATRO CONTINENTES 

 
Enilde Faulstich 

Pós-doutorado com estágio feito nas áreas de Terminologia, Lexicografia e Políticas Lingüísticas no Département de langues et linguistique, Faculté des lettres da Université Laval, Québec, Canadá. 


No Sermão de Santo Antônio, também conhecido como “Sermão de Santo Antônio aos peixes”, pregado na cidade de São Luís do Maranhão, no ano de 1654, o Padre Vieira escreve uma alegoria - um tipo de metáfora - por meio da qual compara uma realidade de caráter abstrato com uma expressão concreta, visível, a fim de atingir uma percepção plástica do objeto, uma personificação daquilo que não é pessoa. Neste Sermão, Vieira louva que “ao menos têm os peixes duas boas qualidades de ouvintes: ouvem e não falam.” – eis uma das alegorias, se não a principal, do Sermão citado. Em continuação diz Vieira que:
Oh grande louvor verdadeiramente para os peixes, e grande afronta e confusão para os homens! Os homens perseguindo a António , querendo-o lançar da terra, e ainda do mundo, se pudessem, porque lhes repreendia seus vícios, porque lhes não queria falar à vontade, e condescender com seus erros, e no mesmo tempo os peixes em inumerável concurso acudindo à sua voz, atentos, e suspensos às suas palavras, escutando com silêncio, e com sinais de admiração e assenso (como se tivessem entendimento) o que não entendiam. Quem olhasse neste passo para o mar e para a terra, e visse na terra os homens tão furiosos e obstinados, e no mar os peixes tão quietos e tão devotos, que havia de dizer? Poderia cuidar que os peixes irracionais se tinham convertido em homens, e os homens não em peixes, mas em feras. Aos homens deu Deus uso de razão, e não aos peixes; mas neste caso os homens tinham a razão sem o uso, e os peixes o uso sem razão.
Bem, fizemos um recuo no tempo — fomos ao séc. XVII — para, a partir dessa alegoria de Vieira, estabelecer uma conversa política — de Política Linguística, melhor ainda, de Política da Língua Portuguesa. Vejamos. A chegada dos portugueses aos portos, tocados pelos navegantes, criou o mundo da Língua Portuguesa transplantada, em que, por meio de missões, a língua foi implantada. Depois disso, criados os Estados nacionais, o Português desenhou o espaço geopolítico do que seria a Lusofonia no mundo. Séculos já decorridos, as Nações constituídas por embates internacionais e locais fixaram comunidades de fala, com línguas resistentes, que não se deixaram assimilar pela política missionária que tomou conta da terra, onde passaram a habitar nativos e portugueses. Mesmo subjugado ao veio capitalista dos colonizadores, cada um dos Estados se manteve original e, assim, angolano, caboverdiano, guineense, moçambicano e santomeense são africanos, brasileiro é sul-americano, timorense é asiático e português é europeu. Ninguém virou o outro, e, tampouco, os outros viraram um. O certo é que, na contemporaneidade, uma forma de aproximar culturas de povos que tão distantes vivem surgiu da vontade política do Brasil a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa — CPLP —, constituída por Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Talvez essa tenha sido motivada por uma nova intenção de reinterpretar Lusofonia, nos moldes dos blocos de economia política, que vigem no mundo. No entanto, duas questões, que procuraremos relacionar, direta ou indiretamente, ao título desta palestra, merecem nossa reflexão. A primeira questão que trazemos à mesa do debate é se a CPLP é uma comunidade de assenso. E a segunda, tomando de empréstimo a alegoria do PE. Antônio Vieira, é saber se nós, participantes da CPLP, somos PEIXES. 

Assenso, relembremos, quer dizer concordância, consentimento, adesão mental, e, ainda, do ponto de vista da filosofia moderna, aceitação da verdade de uma proposição. Isso posto, concordamos que a CPLP é uma comunidade de assenso. Mas, para além desse sentido genérico, cabe questionar se a CPLP é uma comunidade de assenso de fé ou de assenso pela fé. Eis que continuamos com a questão aberta. Adiantemos que não estamos fazendo um jogo de palavras, mas querendo discutir a ordem política da CPLP, por meio do papel que a Língua Portuguesa representa no Estado supranacional em que está inserida e que tem efeitos significativos, e distintos, na estrutura cultural de cada país-membro da Comunidade. Para melhor esclarecer o que queremos aqui dizer, retomemos os estatutos da CPLP. Nos Estatutos da CPLP, documento originário do ato de criação, três são os objetivos gerais: 1) «concertação político-diplomática entre os seus Membros em matéria de relações internacionais, nomeadamente para o reforço de sua presença [da CPLP] nos fóruns internacionais»; 2) «a cooperação, particularmente nos domínios económico, social, cultural, jurídico e técnico-científico»; 3) «a materialização de projectos de promoção e difusão da Língua Portuguesa» . Até então, a língua portuguesa no espaço da CPLP tem sido muito mais uma representante da latinidade do que da lusofonia. A distinção se faz justamente pelo plurilinguismo de cada um dos países, em que uma língua de origem latina — o português — se mantém no contraste e no contato com línguas não latinas, de tal forma que a CPLP não sabe muito bem o que fazer com a promoção e a difusão da Língua Portuguesa. Para que a CPLP materialize, de fato, o uso da língua portuguesa, a “implantação” da Língua deverá ser maior do que a “difusão” e do que a “promoção”, sob pena de se manter como uma metáfora, uma alegoria, em que os “comunitários” são “peixes de duas boas qualidades: ouvem e não falam.” O que temos visto para a promoção e difusão da língua são projetos que falam sobre a língua portuguesa e sobre as línguas locais, mas não vemos a execução de projetos de ensino e de aprendizagem que levem os cidadãos a exercitarem a fala em Língua Portuguesa, na variedade do Estado, e nas variantes resultantes, bem como em línguas locais, ao lado do português. Projetos operacionais de fala e de escrita implantarão o bilinguismo ou o plurilinguismo necessário, desde que fundamentados na lingüística das línguas e executados por linguistas que saibam o que precisa ser feito. No âmbito dessas reflexões, é preciso compreender que, do ponto de vista de política de língua, o binômio Estado-Nação não funciona, porque o Estado, que contém o conceito de Nação, possui soberania como país, com estrutura e organização política próprias, com controle financeiro e administração autônomos. Por sua vez, a Nação é percebida na abstração de território, que tem limites definidos e símbolos nacionais exclusivos, que sobrelevam o espírito cívico (de certo, cultural). Entre estes símbolos, se encontram as línguas, sejam elas quais forem. Cabe inserir, ainda, nesse conjunto de conceitos, o de política linguística, que, no dizer de Calvet, é o conjunto de escolhas conscientes no que diz respeito às relações entre língua(s) e vida social.
Para finalizar, retornemos à questão posta anteriormente: a CPLP é uma comunidade de assenso de fé ou de assenso pela fé? Digamos que, até então, como língua oficial nos quatro continentes, o Português mantém uma Comunidade de assenso pela fé, quando deve, pelos princípios sociais, históricos, lingüísticos, políticos e comunitários, manter o assenso de fé, porque, enquanto aquele (pela) é um caminho, este (de) materializa a constituição do objeto de análise. A CPLP é, pela sua natureza, um importante veículo de manutenção do vigor da Língua Portuguesa nos quatro continentes. Porém, as qualidades de promoção e difusão, enunciadas em um dos objetivos gerais, precisam, de fato, fazer parte de um escopo funcional cujos fundamentos sejam não só capacitar os indivíduos a falar e a escrever em português, mas também nas primeiras línguas, porque estas resultam de aquisição da linguagem, que não pode se perder, tendo em vista que é ela — a linguagem — que mantem as especificidades culturais de cada País-Membro da CPLP.